DESABAFO!

Desabafo!

_Já não sei mais o que fazer com minha existência, pois ela parece incomodar aqueles que me cercam, luto desesperadamente para alcançar meus objetivos, mas acabam sempre frustrados por algum detalhe. Minha vida que antes era rica em liberdade e irresponsabilidade, hoje é reclusão e frustração.

Tudo que planejo dá errado ou não acontece por mais que me esforce! Vejo a vida passar e eu amarrado sem na poder fazer para acompanhá-la, escrevo meus poemas, meus contos, crônicas, romances e não consigo uma editora para publicá-los, não me frustro por isso, afinal não há glória sem luta. Mas queria ter o reconhecimento de meu esforço, entrega, determinação, sensibilidade e determinação. Mas não tenho, quando começo a falar sobre um projeto, não têm ouvidos disponíveis, não há expectador disposto a me ouvir. Por que me transformou meu Deus se o mundo a minha volta continua o mesmo? Sou grato por pertencer a uma família grande, mas como posso me sentir tão sozinho, tendo uma família de vinte membros? Não há um com quem possa discutir sobre meus sonhos e projetos, acham-nos perda de tempo, futilidade, frivolidade! Sei que não são, vejo a cada dia minha imaginação se expandindo, é como se meu mundo fosse crescendo de tal forma que os seres a minha volta não conseguisse acompanhar. Isso já não me contenta mais, quero um lugar ao sol e à sombra, quero mais conforto, pois não posso ter vindo ao mundo apenas para sofrer!

Lá fora existe um mundo de desigualdade e guerras, incompreensão, desrespeito, desumanidade, mas se todos lutarem por seus sonhos, isso pode mudar, devemos nos dedicar mais em nos mudar e consequentemente mudar a vida a nossa volta. Sei que não sou o único que passou por transformações ao longo da vida, que não sou único a sofrer um acidente e lamentar por isso, pois assisto a TV, leio jornais e revistas e compreendo que a vida é mesmo muito diferente do que desejamos, mas mesmo assim estou aqui hoje mostrando meu egoísmo. Quero viver com um pouco mais de conforto, quero ter uma casa onde eu possa receber minhas visitas sem nenhum constrangimento por não terem onde sentar, ou me envergonhar porque numa parede do quarto cresce um ninho de cupins. E quando inicia a chuva eu não tema que a casa desabe!

Acompanhei pela TV e jornais o quanto o povo de Santa Catarina sofreu pelos desabamentos causados pelo excesso de chuva, vi a parte baixa de minha cidade completamente tomada pela água, acompanhei também pela TV o litoral fluminense todo tomado pela enchente, hospitais, e casas nada era poupado pela fúria das águas. Entretanto hoje já tenho trinta e oito anos, quatorze anos de acidente, meus irmãos estão se casando e se mudando, restando-me minha mãe já viúva e que passou por uma isquemia cerebral grave em noventa e seis e hoje ainda tem a saúde debilitada, já próxima dos sessenta anos é ela quem cuida de mim. Queria poder-lhe dar um pouco de conforto, mostrar-lhe que tenho talento, que sou capaz, que sou útil mesmo estando numa cadeira de rodas, mas estou ficando cansado de tantas negativas da vida!

Sou um guerreiro, um bravo lutador, alguém que não se dá por vencido, mas tudo na vida tem um limite e o meu parece estar próximo. Sorria com tanta alegria e prazer que causava indignação nas pessoas próximas a mim, pensavam que por eu está numa cadeira de rodas, não tinha motivos para sorrir tanto, mas por que não se me sentia feliz? Preciso de uma mão que ajude a dá o primeiro passo, preciso de alguém que acredite em mim, que acredite no meu potencial, ou acabarei tombado como um boxeador depois de uma batalha sobre-humana.

Luiz Miguel
Enviado por Luiz Miguel em 22/01/2009
Código do texto: T1398621
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