FOLHAS DE OUTONO

A manhã surgiu com nuvens no espaço. Os raios solares tiveram que vencer a barreira da nebulosidade para chegarem ao vale. Mas a cerração parece diluir-se entre os pinheiros ali no alto e aos poucos desce placidamente invadindo a planície. Começa a aparecer o céu carregado dum azul-inspiração.

A passarada iniciou a sinfonia matinal como intróito em homenagem à chegada da estação-declínio. Nos jardins as flores perdem a primeira pétala, nos pomares um novo colorido está surgindo - os verdes são menos verdes... menos folhas... menos vida.

Pelas campinas as paineiras vem diminuindo o vigor dos seus talos, os lírios já não tem o viço de outrora e os verdissecos desprendem-se dos galhos.

Outono-menino - folhas caindo no chão...

O ambiente está liberto do mormaço costumeiro das tardes do estio. Uma nova era está sendo iniciada nas calendas do Tempo - os ares sopram mais frescos pelos caminhos da vida. A estação-decadência chegou trazendo grandes mudanças para o ambiente e os seres preparam-se para enfrentar dias mais sombrios. Os horizontes do entardecer apresentam o matiz do amarelo do cobre. A tarde-noite chega antes e as aves procuram mais cedo os seus ninhos.

Outono-castanha - folhas esparsas pelo vento...

A atmosfera é embalsamada pela aroma ocre das verduras esmaecidas. As veredas da existência vão se tornando pardas e as árvores dos bosques ficam desnudas. Nas vidraças suadas das noites frias são escritos os novos versos da poesia do outono. A canção do vento vaticina a chegada do período de declive no ambiente. No regaço da terra a mãe-natureza inicia um grande trabalho - o tempero do solo para a exuberância de novas vidas que depois vão germinar.

Outono-imbuia - folhas secas no chão...

Crepúsculos pálidos,

nuvens cinzentas,

poetas romeiros

- arautos bissextos -

rabiscando em poemas dourados

os encantos do outono-peregrino-estação.