PEDAGOGIA LUDICISTA (Como pretende a escola de tempo integral preencher o tempo das crianças?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Quando os alunos da escola pública pensam em uma aula dinâmica, tendem a ligar essa ideia com jogos, entretenimentos, diversões e festas. Quão fugazes são, porém, esses prazeres! Que podemos dizer do jovem bonito e saudável que, na propaganda, desfruta do sabor, o aroma, o prazer de determinada marca de cigarro? Atualmente há bem pouca dúvida de que não só o câncer, mas também o enfisema, doenças cardíacas e transtornos nervosos darão fim, prematuramente, a esse prazer que a propaganda não mostra.

Todas as atividades recreativas parecem ter certos fatores em comum. Elas debilitam o gosto dos alunos para o andamento de uma aula normal de didática que ensina conteúdos acadêmicos da matriz curricular. Os jogos destroem a fibra moral e pode tornar-se uma perturbação psicológica. Eles debilitam o intelecto por ocasionarem demasiada excitação; fazem com que as pessoas pensem mais no momento e em si, e menos no futuro e nos outros; e exigem porções cada vez maiores a fim de manter o mesmo estímulo que antes, como o efeito das drogas. Veja que ninguém pratica uma mesma dinâmica de grupo por duas vezes com o mesmo prazer!

As aulas-show são prazerosas, sim, mas efêmeras e transitórias. Professores por certo saboreiam desse fruto por alguns momentos. Alunos apreciam sua tigela de lentilhas até compenetrarem-se de que perderam o direito de aprender mais e da forma séria, não leviana. O benefício ideal está na dose certa dos alimentos naturais! O que realmente é necessário à educação para vida? Tudo isso tem muito a ver com o assunto do equilíbrio.

Já lhe sucedeu estar sentado num ônibus quando outro ônibus se achava parado ao lado? De repente teve a impressão de que o seu ônibus estava partindo, até verificar que era o outro que se movia em direção oposta. Isto pode ser aplicado aos que procuram diversões nas escolas. Eles não devem surpreender-se ao constatar que não estão obtendo alegria, e, sim, perdendo a oportunidade de apoderar-se do conhecimento que interessa para a verdadeira alegria.

Atividades, brincadeiras e esportes que fortalecem o corpo, que desenvolvem as faculdades e habilidades, que nos põem em contato com o ar puro, que aliviam a mente após um período de estudo ou de trabalho sedentário, que desenvolvem a cooperação e a amizade são recomendáveis aos alunos e professores que se prezam, desde que, naturalmente, não diminuam o tempo ou o interesse dedicado a atividades mais importantes e não ocorram a expensas do dinheiro, da saúde ou do bem-estar de uma outra pessoa.

A pedagogia ludicista que produz hilaridade disparatada, excitação inútil ou impetuoso espírito de competição é prejudicial. Como pretende a escola de tempo integral preencher o tempo das crianças? Termino esta crônica por aqui com as palavras de Andrea Ramal: "O bullying é uma “brincadeira” na qual apenas uma das partes se diverte, enquanto a outra sofre."