O PERFUME DA ARROGÂNCIA ("Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade." — Rubem Alves)

O único livro de autoajuda que eu recomendo para meus alunos é o dicionário, porque não os pré-dispõe à arrogância. Pois, ainda que seja volumoso demais, nunca ouvi fala de alguém que não precisasse sempre dele. Vício é o que se faz continuamente sem precisão. Mas, os conselheiros do nada lhe fazem ver o sucesso dentro de você mesmo. E a culpa é sua se não prosperar. Tenha fé, dizem as vozes do nada, dos que não conseguem se curar e muito menos curar os outros, então continuam jogando-lhes a culpa por não ter fé suficiente.

Eu li aquela história Bíblica, composta pelo diálogo da Serpente e a Eva, e não lhe recomendo, diga-se de passagem, por que vi uma sessão de autoajuda na qual o Lúcifer, incorporado na serpente, diz: "...e serão como Deus". Ela saiu dali realmente se achando Deus, porém transportando, de fato, todo engano do capeta, para contagiar seu marido.

Meus alunos não querem aprender, e nem reconhecem a autoridade dos seus professores, por que os pedagogos da "Aprendizagem Significativa" reforçaram a teoria para eles, dizendo-lhes que "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo." (Paulo Freire). Como não falta quem diga que eles também são "mundo", ou melhor, são Deuses, cheios de conhecimentos prévios quando chegam na escola, então que o professor se eduque com eles de igual para igual. Antigamente, o professor era mediador do conhecimento e da experiência, agora os alunos também são mediadores de tudo. Como a maioria sempre vence, eles estão educando a menor parte. E a qualidade da educação se perdeu! A culpa final é da corja de incompetente que construíram seus títulos a "distância" e administram o sistema educacional também a "distância".

Um homem perfumado não sente o cheiro dos outros e, ainda impregnando os demais, força-os ao seu aroma. Assim se explica a arrogância, uma vez acostumado com seu próprio cheiro, o olfato deturpado não reconhecerá, nem seque, a mesma fragrância em outra pessoa, ou seja, hospeda-se no outro, fazendo-o uma extensão de suas características e enche o mundo de si. É assim que tudo vele a pena: concentrar todo esforço para agradar a si mesmo e atrair toda atenção para sua pessoa. Esta é a doença exótica de falso moralismo.