A FORCA CIRCUNSTANCIAL ("Ate hoje,só não me matei enforcado, porque nunca aprendi a dar aquele nó!" — Marcelo Bisse Taylor)

Hoje, no Dia de Finados, dois de novembro, me encontro em um estado de reflexão profunda. Embora ainda esteja vivo, sinto-me como se estivesse visitando os túmulos recém-cavados, inclusive o meu próprio.

Lembro-me do Professor Ruquinho, que tinha apenas trinta e nove anos. Numa terça-feira, às 17h, não faz muito tempo, li seu epitáfio. Alguém por ali me explicou como tudo aconteceu: ele pegou um fio elétrico, trabalhou com um alicate e elaborou uma forca na sala da nova casa, onde em breve moraria com sua namorada encantadora. Ruquinho era viciado nela.

Ruquinho, com seus trinta e nove anos, tinha um futuro promissor. Era jovial, inteligente, atleta, estudante de alto rendimento e amante de esportes. Causava inveja em muitos por sua capacidade de fazer e manter amizades. No entanto, sua melhor amiga atribuiu a causa de seu declínio ao novo namoro, com uma aluna de apenas dezessete anos. Foi aí que ele partiu. Penso que a escola não mata ninguém, mas coage os seus a se matarem. Assim, enterramos mais um mártir da educação.

Quando conheci minha então ex-esposa, ela com dezessete e eu com trinta e nove anos. A família de Vânia tentou dissuadi-la de todas as maneiras possíveis. O que um professor tem a oferecer como garantia de futuro? Ela amava sua família e não queria magoá-los. Mesmo assim, decidiu se casar comigo, ou como dizem os humoristas “enforcar-se”. E eu a incentivei a ser professora, também, semelhantemente ao Adão que comeu o fruto proibido, forçado por uma circunstância, sabendo das consequências, vali-me da “forca” também, assim, numa espécie de Romeu e Julieta; fomos por amor. No meu caso, o processo de “enforcamento” durou seis anos, tempo suficiente para dizer que uma diferença de vinte e dois anos na idade causou uma distância, no tempo e no espaço, que o grito por socorro não atingiu o coração de ninguém, ou melhor, chegou muito atrasado. Penso que o problema maior era porque trabalhávamos na mesma escola. Na "Jerusalém que mata seus profetas".

Agora, sou uma prova incontestável de que existe vida após a morte, porque estou vivo, mas não no céu; só no inferno. À noite, parece-me um cemitério, logo pela manhã um purgatório e à tarde outro inferno. Não consigo esquecer dos meus três turnos de trabalho. Enforcamento denotativo e/ou conotativo depende do ponto de vista de quem sente na pele a desvalorização. A escolha entre a vida e a morte é posta diante de nós de modo tão real como o foi para Jailton Joaquim Graciliano, Paulo Henrique Lesbão, e tantos outros, e nós escolhemos a morte! Senão ela nos escolherá?