João Batista, o denunciador

       
Breves e inexpressivas considerações sobre São João Batista. Nada de extraordinário sobre o primo do Messias.
        Aí o leitor, coberto de razão, vai querer saber por que perder tempo, tinta e papel escrevendo sobre um santo tão conhecido e tão badalado.
        E logo nos dias que antecedem sua festa, época em que todo mundo (até os ímpios, os incrédulos e os agnósticos) em que todo mundo, redigo, arrisca-se a falar sobre o santo do carneirinho
        Respondo:  se há um santo bom de se escrever sobre ele, este santo é João Batista. Até para nada ou quase nada dizer de novo sobre sua vida, como frisei acima.
        Permitam-me, pois, duas palavrinhas a respeito do primo de Jesus, enquanto lá fora, na minha movimentada e barulhenta rua, explodem os primeiros fogos em sua homenagem.
        Tomo cada susto! Logo eu que adoro o silêncio. O leitor pode muito bem imaginar o quanto eu sofro nestes dias de intenso tiroteio joanino.  Tiroteio?
        Mas, antes os estrondos de fogos de artifício do que os estampidos de metralhadoras traiçoeiras e assassinas. Não é assim no Rio?
        Vamos, porém, ao que interessa.
        Garanto que tem gente doida pra saber o que, afinal, eu tenho pra comentar sobre o filho de Zacarias e Isabel.

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        Costuma-se recordá-lo como aquele pregador judeu do Século I, citado por Flávio Josepho, e que se destacou ao anunciar, com bravura e veemência, a vinda do Messias.
        E aí ele aparece como João, o Precursor.
        Lucas refere-se, no Cap 1,76, à profecia do velho Zacarias: "E você, menino, será chamado profeta do Altíssimo, porque irá à frente do Senhor, para Lhe preparar o caminho."

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        O Messias chegou, cresceu, e, um dia, nas águas do Rio Jordão, foi batizado pelo Batista. 
        Aí ele surge como João, o Batisador.
        E aqui convido o leito a visitar o livro do Cardeal Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré. Bento XVI dedica o Capítulo I do seu formidável livro ao batismo do Messias.
         Entre outras coisas, chama a atenção para a profundidade teológica desse Sacramento; e põe em destaque a coragem do Batisador, no seio do que ele chama de "efervescente atmosfera de Jerusalém daquela época".

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          Em Portugal, mais precisamente na bela cidade do Porto, São João, na noite de 23 de junho, é saudado e festejado com muito barulho; como se faz por aqui.
        Interessante é que, no Porto - não sei se em todo Portugal - João Batista recebe um singular título: São João Degolado.
        A partir desse apodo lusitano, me  veio a vontade de escrever esta crônica, dando-lhe este nome: João, o Denunciador. 
       
Insisto:  nada de novo.  Talvez pretenda, recordando um conhecido episódio bíblico, dar algum relevo ao comportamento desse corajoso santo que perdeu a cabeça, arrancada por uma espada vingativa e prenhe de ódio, a partir de um caso de amor. 
        Não não vou me alongar recontando o adultério praticado por Herodes Antipas, Tetrarca da Galiléia, que, apaixonado pela cunhada, Herodiades, não se preocupou em trair seu irmão Filipe.
        Nesse quiproquó, desponta Salomé, que, segundo li, foi, depois de Eva, "a mulher mais malvada da históra judaico-cristão".          
        Diante desse escândalo, João Batista não calou e condenou, publicamente, o abelhudo Tetrarca.
        Deu-se, então, o que todo mundo está careca de saber, ou seja, porque denuncou, foi decapitado. 
        Atendia Herodes a um pedido da encantadora Salomé, filha de  Herodíades. Herdíades que odiava João.
        Daí estar eu, daqui do meu obscuro esconderijo, a propor que se dê ao nosso valoroso Precursor e Batisador, também o título de João, o denunciador.        

       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 13/06/2009
Reeditado em 24/08/2009
Código do texto: T1647288