Mítica Curitiba é Arlequinal

Um povo fechado. Sem humor algum. Egoísta, orgulhoso e individualista. Receber um “bom dia” na padaria, ou um “boa viajem” na rodoviária, nunca. Aliás, pode esquecer os sinceros agradecimentos do velhinho que você deixa sentar-se no ônibus. Esta é a imagem que as pessoas levam até hoje ao visitarem Curitiba. Mas será ainda assim?

O clima enlouqueceu. Por amor a decência, agora o Curitibano tem que sentir calor e lamber os lábios só de pensar num sorvete. Com este clima doido, mudou também a cidade. Alemães, Italianos, Japoneses... e gente de todo canto do Brasil, tudo bem misturado num caldeirão de multiculturalismo. Curitiba agora é Arlequinal.

Arlequim é um personagem da Commedia dell´Arte italiana. Palhaço que serve a dois amos. Tinha a função de divertir o público nos teatros do século XVIII. Um homem sem personalidade definida: era romântico e cretino, mocinho e bandido, falante e tímido. O palhaço do deboche, do desejo e da lascívia. Sua roupa, aí a comparação maior com Curitiba, é toda feita de retalhos, em forma de losangos, de diferentes cores e tecidos.

O fato é que Curitiba não é mais a mesma de 20 anos atrás. Tem mudado rapidamente. O “curitibano original” perdeu-se em meio a tantas mudanças sociais. A miscigenação cultural que a cidade sofreu é muito grande. Proponho um desafio. Tente definir o sotaque. Afinal curitibano fala “leite” ou “leiti”, “porta” ou “porrrta”?

Mas ao que parece, o mito do curitibano ser frio e ter costumes tão próprios, virou moda. Virou fórum de discussão na Internet e assunto para pauta de artigos. Tema para monografia e discussão na boca maldita. Alguns acreditam que esse alarde de que o Curitibano é frio, fez ele acreditar no conto. E não só ele. A maioria das pessoas que moram na cidade.

Então, não cumprimentar o vizinho de anos, andar com o rosto aparentando seriedade e não sorrir é quase lei em Curitiba. Ah, e não esqueça de algumas manias essenciais: chamar salsicha de vina. Separar lixo que não é lixo. Não abrir a janela do ônibus, não importa o calor. E a mais importante, dizer para todo mundo que curitibano é fechado.

Ô mania de ter mania essa. Se, morar em Curitiba é sentir-se curitibano. Sentir-se curitibano é viver como curitibano. Viver como Curitibano é ser curitibano. Logo: “Um povo fechado. Sem humor. Egoísta...”.