02 - A GALERA

A galera da moda era a que estava em evidência e pertencia ao Bairro Campestre.

Com idades compreendidas na faixa etária entre 11 e 16 anos.

Mas, porque essa faixa de idade era importante?

- ela delimitava a fase onde nossa única responsabilidade era ir à escola, buscar esterco para horta, que em todas as casas se cultivava e também apanhar lenha para abastecer o fogão da cozinha.

Tarefas que se não fossem cumpridas, além, da surra não poderíamos jogar bola, jogar precipício (finco), bolinhas de gude ou matar passarinho com estilingue, também conhecido como bodoque ou atiradeira.

Na verdade matar passarinho já era uma transgressão, ninguém assumia claramente isso, principalmente os Escoteiros. Sair com bodoque ou atiradeira (feita com duas tiras de borracha, um gancho de madeira e um pedaço de couro.

A borracha de câmara-de-ar de bicicleta, de preferência, a gente ia pedir ao Zé Ambrósio, marido de Dona Zelinda, que tinha uma oficina de conserto de bicicletas.

Neste mistér, o bodoque, era uma especialidade que também criava seus líderes, na nossa época os bambam bans da área eram: Ivanil, filho do Jair Soldador, Luiz Timbé e Geraldo Catatau, este último também, “entre outras coisas” era especialista em fabricar arapucas e armadilhas para pegar passarinhos lá na mata do Intelecto.

Aliás, ir para a aula nos grupos levando bodoque era garantia de uma sova de vara quando havia reclamação da diretora do Grupo Escolar.

“A proibição do bodoque, também conhecido como estilingue na escola, tinha tudo a ver com as pedradas que o Timbé acertava nos moleques que mexiam com ele na hora do recreio ou no momento das peladas” “lá fora eu te pego” era garantia de briga e sinônimo de correria e gritos”.

Atiçar e provocar brigas era oficio levado a sério pelos maiores da turma, na escola ou no campo.

- se você não brigar com fulano, quem te vai

“bater é eu, atiçavam os maiores”.

Era tal de riscar no chão, instigando o outro a pisar na linha dizendo aqui é sua mãe e aqui é a mãe do outro, assim, ficava impossível evitar a briga.

Na hora de buscar esterco para vender e ganhar uns trocados ou mesmo buscar lenha fosse ao Alto dos Pinheiros ou no pasto do Sô Nenêgo, usávamos o carrinho com roda de rolimã que fazíamos com roldanas de borracha descartadas pela Cia, ou mesmo rodas cortadas das correias transportadoras.

O certo é que era uma farra só, levávamos para o lanche, bananas maduras, pão-sovado com Kitut ou uma latinha de leite condensado ou mesmo um pedaço de bolo de fubá e sempre dava para transformar em brincadeira até as obrigações.

Filhinho de papai na galera não havia, pelo menos não se dava importância a este aspecto devido à seleção (natural?) promovida pela empresa.

Os funcionários da área administrativa, trabalhadores das mecanizadas ou das minas todos estávamos naturalmente morando no mesmo acampamento (Vilas e Bairros).

Quando muito, havia um filho de feitor que, com ares de capataz na maledicência popular, se dizia “fulano é metido à besta”.

Era mesmo uma esquisitice. Como poderia se julgar melhor que o outro, alguém com ares de semovente?

Esta fase da galera, repleta de aventuras como nadar na Lagoa da Fazenda do Pontal quando íamos buscar mocotó (pés- de- boi) ou pegar barrigada para limpar transformando o bucho (dobradinha) para comermos em casa.

Tal como na história, a dobradinha estava para os operários, assim como,a tradicional feijoada prato agora requintado estava para os escravos nas senzalas.

Duas vezes por semana, havia abate de bois e suínos em dias alternados.

Quando chegava a época de freqüentarmos as aulas do Zé Sérgio era como um despedir da turma, pois, nem todos iriam trilhar o caminho da chácara, caminho este que nos levaria ao encontro de novos desafios.

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 17/06/2009
Reeditado em 30/08/2009
Código do texto: T1653349