Minha infância
Minha infância foi estranha, um misto de puerícia e decrépita personalidade. Contemplava sob os telhados, as figuras dos fantasmas que se projetavam sobre o meu corpo nu. Ao longe o cheiro da comida, o borbulhar da panela tinha uma analogia aterradora com as figuras e os sons do inferno que as carolas reproduziam com um esgar de assombro.
Tudo eram as misturas de sonhos e o resultado que isso produzia, era o que mais me amedrontava. Talvez dessa mistura louca e pueril brotasse uma rosa, que soubesse enfrentar os invernos mais rigorosos da alma... Um espírito animoso perdido em devaneios tão grandes que beiravam as loucuras do nosso velho e bom cavaleiro andante de Cervantes.
Depois, à noite, quando o pio das corujas e o farfalhar das asas dos “demônios” de mofo e corpos de poeira cortavam a escuridão da mente, eu debruçava-me sobre os corpos de meus corpos ainda não nascidos e observava que ali dentro daqueles vasos, existiam vários corações interligados. O medo, os adros que eu sempre percorria o meu corpo nu tocando as paredes etéreas da igreja... Disso, só sobrou um esqueleto vetusto; despojos de vários anos. Como diria Drummond “... De tudo fica um pouco...” entrementes pergunto ao grande Drummond, o que resta dos fantasmas? Talvez o medo cravado nos coração dos humanos... Oh! Drummond, seu simplório velho sonhador, você era poeta, vivia preso na beira do alvorecer das almas... Você sim dormia com a noite e hoje do fundo dos séculos passados, mando minha saudação; podes entrar e desenhar os teus desejos de desejos não sonhados.