24 - COISAS... DO CARLÃO.

COISAS... DO CARLÃO.

Ainda criança o menino Carlos já demonstrava sua capacidade de tornar a vida dos outros (um inferno) bem difícil.

A sua casa lá na cidade, mais parecia um sítio, pelo menos uma pequena chácara! Vá lá... Pelo menos um quintal enorme! Dizem que era doação dos avós, quando sua única filha se casara. Terreno amplo em uma encosta fazia divisa com uma faixa de eucaliptos com mais ou menos cem metros de largura e que foram plantados para encobrir um pouco o muro do cemitério local.

Sua casa era a última de uma rua de pouca extensão, cinco ou seis casas quando muito.

Falando em cemitério, cidadezinha do interior tinha um cemitério desproporcional ao número de habitantes. Dava para enterrar três vezes os habitantes da cidade! Na verdade dava para engolir até todos os defuntos das duas cidades vizinhas.

Não sei se era uma visão do prefeito imaginando uma especulação imobiliária baseado na possibilidade da cidade crescer muito com a passagem da estrada de ferro.

A esplanada da estação, ou melhor, o local destinado à estação precisava estar pronto logo que os dormentes e os trilhos estivessem pertos. Seria ali uma espécie de entreposto. A cidade produzia muito leite, já contava com duas fábricas de manteiga de ótima qualidade, um dos produtos que, com certeza, precisava chegar a outros municípios até mesmo à capital. Arroz e café também eram preparados nas máquinas de beneficiamento.

Voltando ao caso do cemitério, o certo é que o Prefeito gastou mais na montagem do tal do campo santo (Vocês sabiam que eram chamados de campo santo?) do que em todas as obras locais!

O Gato, o cachorro (de nome Fiel), papagaio e periquito, até mesmo um bicho preguiça que houvesse na sua casa do Carlos, sofria nas mãos do moleque, principalmente o gato que quando ouvia a voz do danado chegando da aula, arrepiava todo e saia vazado para o fundo do quintal ou para cima do muro que fazia divisa com o cemitério.

O gato ficava encarapitado sobre o muro como certo tucano que vinha comer frutas deixadas pelo zelador do cemitério. Sem saber para onde seguir, com certeza no meio dos mortos ele estaria mais seguro, bem longe do Carlos capetinha.

De danadinho, danado, menino impossível, o Carlos chegara à sua adolescência como Carlos “o capeta”.

O gato por certo se lembra da sorte que dera quando o pivete lhe amarrou um monte palhas no rabo e tocou fogo. Isto é, a sorte do gato se deu pelo fato do barbante de algodão queimar e ele ficou livre de virar churrasquinho de gato.

O bichano ficou livre de morrer queimado, mas o pasto da Caixa d’água um dos que pertenciam ao Sô Mello, o fazendeiro, não escapou! Torrou todinho.

O Carlos apanhava tanto que tinha marcas de surra em todo o corpo. Seu pai, motorista da Empresa Asa de Águia ficava dias e até meses sem aparecer em casa. Tinha ele que aproveitar o tempo de boas estradas para levar carvão para as usinas da Belgo.

Quando ficava sabendo das proezas do moleque lhe penteava o relho. O pai do Carlos trabalhava no transporte de carvão dirigindo um caminhão GMC Marítimo, cor azul, (lindo caminhão).

Ficávamos ouvindo o ronco do motor quando o Tonico Correa, pai do Carlos, vinha para casa e ficava fazendo pequena manutenção no possante.

Como comecei a falar, de tanto dar duro Seu Tonico juntou grana e comprou um caminhão verde, lindo. Porém, bem diferente o Mack, tinha sob o capô o emblema de um cão feito em aço. Era um buldogue inglês.

Havia uma professora do grupo escolar onde estudava o Carlos que sabia levar o Carlos capeta, enchendo-o de mimos. E o peralta bem que retribuía não aprontando nas suas aulas. Tanto a professora quanto a diretora do grupo (esta última estava prestes a se aposentar), pensavam da mesma forma.

Mal sabiam que aquela bondade aparente para com as duas escondia o que o danado já com seus treze anos vivia aprontando no velho grupo escolar “Grupo Escolar Nossa Senhora da Saúde”. Saia sorrateiro para beber água ou ir ao banheiro e ficava na parte de baixo onde eram os sanitários olhando as meninas e inclusive a Professora, pela fresta do assoalho.

“Cachorro velho, picado por cobra tem medo até de lingüiça”. O Fiel tratava de ir logo escapando do malvado. Mal o via, enterrava o rabo entre as pernas e saia ganindo feito um cão danado.

Os pais dos garotos lá do morro, só permitiam que seus filhos brincassem com o Carlos ali na Praça do Coreto, bem no centro da cidade, mesmo assim olhe lá! Ficavam de butuca, olhos arregalados.

Quanto ao cachorro Fiel era bom perdigueiro. Bom de caça... Na época em que seu Tonico saia para caçar pacas na Mata dos Padres, sabia que se desse mole o cretino do moleque passaria no cachorro, como de tantas outras vezes fizera, uma porção de graxa com pimenta do reino bem socada. A pele do traseiro do Fiel ficava sangrando de tanto se esfregar no gramado do jardim da Caixa D’àgua.

De repente Carlos foi expulso do grupo! Não se sabe o por quê?

Tantas o cretino já tinha aprontado que seus próprios colegas podem ter contado para a Diretora novata que não entrou na dele e lhe sapecou logo o castigo maior. Fala sério né!

***

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 24/06/2009
Reeditado em 06/10/2009
Código do texto: T1665709