50 - GANHOS E PERDAS...

GANHOS E PERDAS...

Na vida assim, como no jogo há ganhos... Perdas há também. Mesmo não se tratando de jogo! O “que é bem comum nesta vida breve é a comunicação aos amigos e colegas de serviço” _ lá em casa, a mulher ganhou mais um ou uma, embora dizendo que a mulher ganhara o pai dizia como se para ele aquilo fosse um troféu a sua honra e macheza. Ganhar mais era para a mulher que sofria nas dores do parto, momentos bem distintos, segundo relatos, misto de dor e alegria. Em casa de pobre era assim, como na lei de São Bento, não sei se existe tal lei, dizem “um para fora outro pra dentro”. Onde comem nove ou dez, uma dúzia come também, questão de re-arranjo na hora da partilha, questão de saber dividir a comida e o amor a todos, tarefa delegada à mulher e não por ela escolhida.

Em família numerosa, em bairro pobre e sem estrutura, nascer parece bem fácil, programado ou por descuido. Vida chegando, vida indo embora no jogo do perde ganha. Fora avós ou tias, nossa primeira perda de vida foi Dôra, Maria Auxiliadora Couto Pinheiro, assim batizada, levou a vida inteira, como a cigarra, no bico. Procurou vive-la intensamente como se soubesse ser na vida passageira. A vida para ela era uma festa, aniversários, natal, carnaval, semana santa isto sem falar em qualquer outro motivo. Festa perder, não, nunca! Se tinha festa, dizia “Tô dentro”. Cantou brincou enquanto pode. Foi embora muito nova, 23 anos somente. Deus dá, Deus leva! Neste caso, não por acaso, a água símbolo da vida perene enquanto água existir, também necessária para navegar por esta vida em águas calmas ou revoltas, a vida leva. Água da à vida, água levou em janeiro de um mil e novecentos e setenta e três. Nossa irmã ela levou e levou bem mais, o noivo de sua amiga, bem que namorado, um amigo, que se atirou na corredeira, ou poço sinistro eu creio. Levou Paulo Coelho, filho de Dona Paulita, o irmão de Nô (Pneu) e Zé Mauricio. Mas a vida segue em frente e ninguém sabe o que está reservado.

MARIA DO CARMO, outra irmã, na infância muito doente, achavam os médicos, que estranha doença ela tinha, tal de “Fogo selvagem” era o que tratavam e supunham, assim por anos à fio.

Eis que o Doutor Francisco Martins da Costa, médico pediatra dos mais competentes, disse para minha mãe: “– O caso desta menina vou investigar, estudar, não acho que este caso tem nada a ver com o que falam. Me dê um tempo! Já, já isto eu resolvo”!

Assim Foi. O que tal doença, outra parecia ser “estranha doença tropical” era mesmo reumatismo no sangue – diagnosticado, após exames de sangue bem especifico, tratado a penicilina por tempos e tempos levou a vida calmamente. “DoCalmo”,”Calminha”, “Du”; assim a chamávamos por ela só para lhe fazer raiva. Meu nome é: Maria do Carmo! “Du”, nem com acento, nem sem, ela ironizava. “Du, com o meu nome não rima, com outro nome decerto”!

Falando em rimas sempre comigo brincava “Passageiro Claudionor” no ônibus eu te vi. Brincava que eu tenho cara de sonso e ela sabia que de sonso e boi a marrada é certa! Não se cansava de falar de um caso na Tevê apresentado em Caso Especial. Da vida dupla que certo Claudionor levara, vivia enganando a todos, morreu enganando céus e terra. História de um metalúrgico que morando no interior de São Paulo por anos e anos a fio, levava, para ele vida bem divertida. Constituída família bem perto da fábrica onde trabalhava e não se fazia de rogado, com família todo o dia almoçava e comia sobremesa, se não tivesse doce, ia a Maria.

À noite ele dizia, não posso ficar contigo Maria dos Prazeres, tenho que ir para Campinas. Minha mãe doente mora lá. Vou porque durmo com ela todos os dias. Ia de ônibus fretado pela empresa. Até que um dia de chuva, pouca visibilidade, ônibus barranco abaixo levou Claudionor, o motorista e mais três.

Velório concorridíssimo, sabe como é...cidade pequena do interior, cinco corpos estendidos, muito choro, muitas flores,. Comadres e compadres e outros parentes. Se o errado “Aquele” encobre, um dia lhe tira a capa!

No espaço reservado para o mentiroso contumaz, duas mulheres chorando pelo mesmo homem uma vez mais, uma sem saber da outra, com seus filhos, cada uma delas com dois. Viviam em cidades diferentes. Já os filhos, ao pai puxaram: não dava e nem havia como negar; “cara de um, focinho dos quatro”! Olhar pra um, ver os outros... tão parecidos como sinfonia inacabada: “Meninos, a cara do pai” assim seria o nome da sinfonia. Até as manchas do pé o fato comprovava. Não precisava, nem havia o tal do DNA.

Assim entre perdas e ganhos, ou vice e versa, tanto faz, na vida e na comédia, perdas e ganhos são constantes.

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 05/07/2009
Código do texto: T1683785