Saída do Seminário

A saída pode ter inúmeras interpretações, por isso necessita de uma explicação como uma forma de satisfação e justificativa.

Após cinco anos e alguns meses decidi sair do Seminário. A decisão presente (04/08/2009) foi fruto de uma reflexão anterior, com o auxílio do diretor espiritual, psicoterapeuta e formadores. Na reflexão, sempre esteve presente a intenção da felicidade, que julgo ser alcançada com o apoio da liberdade que a santidade proporciona.

Uma decisão que exigiu e tem exigido de mim muita coragem. Coragem para enfrentar tudo e todos que acreditavam e tinham expectativa em relação à minha vocação religiosa e sacerdotal e coragem para enfrentar a mim mesmo.

Tem que se ter muita coragem para acolher a própria covardia, os medos, as limitações, os sentimentos, os anseios. Na sinceridade da nossa própria verdade reside a coragem, que etimologicamente significa agir com o coração. Não é fácil agir com o coração, principalmente quando somos muito racionais.

Creio estar agindo na sinceridade diante de Deus, dos formadores, dos irmãos salvistas, dos amigos e diante de mim mesmo. A vocação sacerdotal é linda, sublime e sagrada, mas para assumi-la perpetuamente é necessário ter uma convicção máxima. Tal convicção eu já não tenho, talvez porque a perdi ou porque nunca a tive na essência.

A decisão de sair tem como principal objetivo o meu retorno. O retorno a uma convicção profunda, no querer que dá sentido à vida, na dedicação que é resposta a uma motivação presente no meu coração. Saio com a bagagem cheia de tudo quanto aprendi no Seminário, lugar das sementes. Gosto de ser intenso, de seguir com afinco aquilo em que acredito e na doação me realizar. Não, não foi tempo perdido, foi tempo necessário no todo da minha história. Foi um lugar de cura, de aprendizado, de crescimento, de sofrimento, de alegria, de louvor.

Criei raízes, descobri e acolhi maravilhosos dons, fiz e fizeram imagem de mim, quis deixar-se ser. Enfim, o seminário está em mim, ele faz parte do meu eu. Seguirei o meu caminho, talvez sozinho no meio da multidão. Mas não abandonado por aqueles me amam de fato.

O amor vai além do hábito, além do “frater João”, além de minhas músicas e poesias, pois o amor é pessoa, é coração, é essência e não aparência.

“EU VOU SEGUIR COM FÉ COM MEU DEUS EU VOU...”

Continuarei a seguir o Senhor Jesus, talvez de outra forma, mas na mesma busca sincera de santidade e de humanidade que emanam do seu coração, ou seja, seguindo-o com fé. Para mim, esta fé será a arte de reter em mim tudo que é santo, tudo que adquiri de bom nesses anos todos de Seminário. É a fé que me fortalece para enfrentar o novo, o desconhecido, o inseguro, o escuro. Uma fé que vivifica meu coração e concede-lhe coragem.

Algumas pessoas perguntam se estou saindo por causa de alguma moça, proposta de emprego ou coisa parecida. A resposta é não. Não fui mandado embora, não fui influenciado por ninguém, estou com a consciência tranqüila. Minha saída baseia-se na decisão em si mesma e não na comparação.

Obvio que estou aberto, a partir de agora, ao novo.

Não o conheço, mas me atrevo a adentrar apoiado em Deus, com Ele, assumo os medos, enfrento-os e vou.

Gratidão. Eis a palavra que condensa tudo quanto eu queira dizer a todos que viveram comigo nesse tempo de Seminário. Viverei agora as conseqüências desta decisão, com Deus no coração e com um grande desejo de lutar, de viver na batalha da medalha, preparando-se a todo instante às novas decisões do caminho. A decisão em viver, em ser feliz, em amar, continuará em mim.

EM CADA NOVO COMEÇO EXISTE UM NOVO MILAGRE!

Hudson Roza
Enviado por Hudson Roza em 04/08/2009
Código do texto: T1737001
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