SILÊNCIO

Faço silêncio. Não falo, simplesmente contemplo, quase sem movimentos, a leveza das quase palavras que me chegam aos lábios; vejo o branco de meus pensamentos. Neste ato, fico quieto, inerte, esperando o vento deliciosamente acariciar minha pele, movendo meus pêlos, sem ouvir a minha própria respiração. Para mim, o silêncio tem um ritual: é preciso procurar um lugar só meu, ficar solitário, povoar o pensamento com nada, fechar os olhos e deixar o eco do vazio acontecer. É nessa hora que ele vem e é aí que vivencio um dos momentos mais simples, mais importantes, belos e únicos de minha vida: a solidão! Sim, no silêncio há solidão e ela está povoada de gente que sussurra, fala, grita, mas não se faz ouvir. Nele pode haver sorrisos, pode haver olhares, pode haver toques, e tudo é imaginário. Nele, também pode haver a presença única de quem elejo para me fazer companhia por alguns segundos, desde que esta fique completamente em silêncio. Nele, posso estar acompanhado e só ao mesmo tempo. Meu silêncio reflete a sombra de meus desejos, de minhas lembranças, de minhas emoções singulares e plurais, aquelas capazes de ter adjetivos sem qualidades ou sons. Ele é onipresente. É capaz de me levar a qualquer lugar em qualquer época. No silêncio, posso ir para onde eu quiser e continuar parado, inerte. Nele, faço tudo e nada; tenho tudo e nada. Gosto dele porque é independente e me faz independente. Com ele tenho momentos de choro, sorriso, ansiedade, paz e alegria. Só por ele sou capaz de tudo e de nada. O silêncio tem algo intrigante: é capaz de fazer surgir um leve sorriso no canto de minha boca em meio à solidão e a saudade, pois que ele existe junto às lembranças de um ou de tantos outros que povoam meu coração.

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 27/08/2009
Reeditado em 07/09/2009
Código do texto: T1778485
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