Página Inicial

29 de julho de 2005

Blog Expressão Digital

Mar de surpresas

Seria um título perfeito para o momento, pois descrevia exatamente, sem muitas palavras ou frases complicadas, o que vivia meus pais, Cristina e Nilton, ao entrar na maternidade em uma tarde de terça-feira, no dia 24 de novembro de 1992. Eu, Fernando Mattos, autor deste relato, chegava ao mundo.

Possivelmente, devido a um erro na cesariana, minha parte motora foi afetada. Algo que me revoltava. Observava meus colegas e me perguntava o por quê de tudo aquilo. Sessões de fisioterapia pareciam intermináveis.

Com o passar dos anos, explicações e esperança sempre presente me ajudaram a compreender o que vivia e a procurar saídas.

Os anos se sucediam e a alegria transmitida por meus primos, avós e pais parecia estar começando a apagar a mágoa e a tristeza. Não existia mais espaço para isto. É impossível viver sempre sofrendo com o passado. Ao longo do tempo você aprende algumas lições.

A vida é bela e todos têm suas dificuldades, algumas podem ser grandes, outras menores. Mas, é preciso que todos enfrentem seus desafios como verdadeiras provas de fé e força.

O valor da vida é maior que tudo, sendo assim, não chore pelos problemas ou dificuldades, pois com garra e determinação podem ser superados, sejam quais forem. Com o tempo, descobrimos a deixar em segundo plano o que nos faz mal ou causa sofrimento. Antes, devemos pensar que na Terra existem anjos de Deus, pessoas especiais que Ele coloca em nosso caminho. Como missão, estas pessoas nos levantam dos tropeços e nos incentivam a recomeçar.

Um encontro marcado pelos anjos

Minha avó materna cumpre um compromisso toda semana: o coral da igreja. Sempre que possível, marca ali sua presença, e apesar de não ser profissional, consegue uma afinação perfeita, pois é movida pela fé.

Sua filha, Cristina, e Nilton, filho da organista e professora de canto e piano, que é minha avó paterna, mais tarde se uniriam pelo grande amor que sentem um pelo outro.

Não seria exagerado imaginar que foi um encontro marcado pelos anjos. Além da igreja, ou mais precisamente seu coral, ser o motivo do começo dessa história, a grande prova de que nasceram um para o outro, é que o namoro de apenas seis meses levou ao casamento.

Quem me lê agora pode imaginar que dedicarei esse parágrafo a mil e um elogios a essas pessoas que amo tanto, mas tudo que relato, além de verdadeiro, é uma pequena demonstração do que sinto por eles, tão especiais e importantes em minha vida. Não falo isso porque são meus pais, mas por ser a pura verdade. Não se deixaram abalar com o início conturbado de minha longa jornada, pelo contrário, me deram força e apoio, numa luta que se aprende a cada dia, pois os desafios são constantes.

Compreendendo a situação, todos nós percebemos que estar vivo com saúde é uma felicidade inigualável, e que os obstáculos podem ser superados. Pessoas que acima de tudo me fortalecem e apoiam e em quem posso confiar. Na verdade, o que sinto nunca conseguirei traduzir, pois é imenso ou talvez, por ser tão grande, seja incalculável.

A valiosa herança

Permanecia na casa de meus avós maternos grande parte do tempo. Pessoas que me criaram sempre com muito amor. Alegria em todos os momentos, seja nas piscininhas improvisadas no quintal, nos passeios de bicicleta pelas ruas do bairro ou na comida preparada com imenso amor e carinho.

Nair Furtado, minha avó materna, chegara em 11 de outubro de 1950 em território brasileiro. Já namorava meu avô que permanece em Portugal até poucos dias antes do casamento. Na época, a comunicação era intensa por meio de cartas. Amor que não via distância. Luís, meu avô, verdadeiro escritor, demonstrava esse sentimento amoroso de uma forma especial, através das palavras.

Porém, o cigarro, infelizmente, teve papel nesta história. O vício de meu avô a todos preocupava e no ar deixava um alerta. Enquanto dizia que iria parar, a situação se complicava. Viria a falecer tempos depois e naquele momento tudo parecia parar, a vida nos dava um golpe, a tristeza evidente atingia a todos que o conheciam.

Talvez, seja por ele que estou aqui narrando essa história, tenha montado o site Terreno 4x4 e emocione as pessoas que gosto e amo, enfim, por ter herdado esse dom. O dom da palavra.

Possivelmente, uma decisão errada dos médicos, levou à morte de quem amávamos, nos amou e quem amamos e ainda nos ama, agora ao lado de Deus. A permanência no hospital não era a melhor das escolhas.

Com o tempo, fomos nos consolando com o fato e também, principalmente eu, com o que havia ocorrido naquele 24 de novembro, pois tudo o que possuía era mais importante: minha família, minha saúde. Aprendi a não dar importância às gozações e piadas de colegas. E, hoje, sei o valor da verdadeira amizade, graças à pessoas especiais.

A chegada da mANA

Em 1998, ainda abatido com tudo, apesar de já ter uma boa melhora, alguém chega de surpresa, mas trazendo alegria, felicidade e agito. Ana Luísa, minha irmã, cresce a cada dia mais bonita e inteligente. Hoje, aos sete anos de idade, me chateia e irrita, confesso, mas também confesso que, sem ela, não consigo imaginar como eu seria. Apesar de nossas brigas, ela é especial e a amo muito.

Uma nova mudança nos aguardava. Não era bem apresentável, porém, próximo à bela praia do Recreio dos Bandeirantes. Talvez, parecesse maluquice deixar o pequeno apartamento de aparência e arrumação simpática, em função de um novo, totalmente abandonado e até com um armário embaixo de uma escada, que não era nenhuma maravilha arquitetônica.

Com a chegada da “mANA” e com a necessidade de ter a praia próxima para minhas caminhadas, a mudança se tornava necessária. A visita diurna não parecia ter agradado, pois revelaria os problemas do nosso novo e atual lar. Porém, os poucos e suficientes pontos a favor seriam os causadores da paixão imediata.

Uma noite, meu pai, que havia gostado mais do lugar, pediu as chaves na imobiliária para que pudéssemos olhar o apartamento mais uma vez. Ao entrarmos na espaçosa sala escura, a única iluminação viria da orla. Não havia prédios ou construções, possibilitando assim uma visão privilegiada. Por um momento, os pontos negativos pareciam não existir mais ou podiam ser menores do que todos imaginavam. Alguns dias depois o negócio estaria fechado.

Enquanto Ana cresce, meus pais dão início a uma busca incansável por um colégio. Grandes escolas negaram e a responsabilidade era um ponto decisivo. Na época, abrira um colégio religioso próximo a nossa

residência. Seria o ideal, pois não havia muitas matrículas, devido a pouca fama na região. Prova disso era a turma que não superava meia dúzia de alunos. O momento era propício para uma nova amizade.

Um trio especial

Bonita e alta, aquela menininha chamada Priscila Naar conquistaria a todos em poucas semanas. Nossa adaptação à vida escolar seria rápida e feliz. Os anos se passavam, enquanto nós crescíamos juntamente com a escola. Confuso, percebi que aquela amizade havia evoluído bastante. Festas juninas, aniversários e brincadeiras fortaleceram ainda mais este sentimento.

Novo século. Olimpíadas de Sidney. Não éramos mais crianças ingênuas. Já era notável a todos meus sentimentos, inclusive a mim mesmo. A menininha havia crescido rapidamente. O aspecto de adulta estava presente nas notas, altura e beleza.

Mas, entre os anos de 2003 e 2005, duas pessoas muito especiais mudariam minha vida, acredito, para sempre.

Enquanto admirava atento a todas as transformações, discretamente duas novas alunas chegavam, e rapidamente entrariam na vida da Priscila, e também, para minha surpresa, na minha também e teriam grande papel nesta história.

Baixinha e prestativa, Caroline Ariel, aos poucos, ocupou o lugar de ajudante, por escolha própria. Algo que de certa forma, mais tarde, criou fortes laços de amizade entre nós.

Mudava sempre a cor ou o penteado de seus cabelos curtos. Mas algo permanecia: seu jeito de ser, generosa, buscando uma forma de ajudar, seja qual fosse a situação.

Sempre juntas, as três estavam próximas de mim. Em meados de

2004, a inteligente e bonita Eduardha Portela me perguntou se era usuário do Messenger, um dos programas mais usados para bate-papo pela internet.

Os primeiros contatos, ainda tímidos, aconteceram talvez somente por coleguismo. Os meses voam e aquelas conversas haviam ficado para trás e deram lugar a um novo e especial sentimento. A timidez não existia mais. A amizade, cultivada com carinho e risos, mas principalmente por palavras carinhosas, parecia nascer naquele instante. Aproveitando minha intimidade com a palavra, acredito que quando começamos realmente a conversar com frases e palavras de carinho, a amizade encontrou ali um espaço ideal para germinar.

Este trio, sempre unido, vem a cada dia mostrando sua importância em minha jornada. São três jovens muito especiais para todos que com elas convivem. Garotas que merecem estar neste relato, assim como todos que nele estão. Pessoas que já demonstraram ser especiais e companheiras, seja pelo esforço ao dançar comigo uma quadrilha ou copiar pacientemente minha agenda escolar, ou simplesmente falar ou escrever palavras carinhosas.

Ariel, atualmente estuda em outro colégio, enquanto Eduardha e Priscila ainda dividem a mesma sala comigo e com nossos colegas e outros amigos. Eduardha, aos 14 anos atualmente, é com quem mais converso via Messenger. Cresce a cada dia mais bela e inteligente. Assim como nós, cresceria também a amizade pelas conversas mas, principalmente, pelo seu esforço numa quadrilha de uma festa junina da escola, em uma tarde de sol em nossos rostos e calor intenso. Talvez não fosse sua opção ter um par meio desajeitado, mas firme e forte provou que deseja que este sentimento ainda permaneça vivo entre nós.

Mais que um amigo

Não posso deixar de falar daquele que me atura praticamente a semana toda. Médico, fisioterapeuta e amigo, Antonio Nunes, que toda semana, em minha residência, tem um único objetivo: me exercitar para que no futuro possa finalmente alcançar meu sonho, aperfeiçoar um andar seguro, fala articulada e desenvolvimento da parte motora. E ainda, aos sábados, freqüento suas aulas de equitação.

Essas pessoas e minha família são um incentivo a mais para continuar lutando para a concretização deste meu sonho.

Levantando poeira

Desde cedo, me considero fã da velocidade e de seus simuladores. Carros velozes e de aerodinâmica esportiva me fascinam. Uma paixão antiga.

”Need For Speed”, recém-lançado, saciava, como o nome sugere, minha necessidade por velocidade. Modelos miniaturas de Ferraris e Lamborghinis, ou até mesmo o conhecido Golf, enfeitavam as estantes presentes em meu quarto azul. Mantenho, até hoje, estes costumes, porém, grande parte dos modelos foi sendo destruída por mim mesmo. Toda essa paixão, que envolvia também os grandes ralis, era como um sonho que parecia permanecer somente nas telas e revistas.

No mesmo ano em que tudo começava a se encaixar, principalmente com a descoberta de uma amiga, os ralis, que pareciam um sonho distante, estavam cada vez mais próximos.

Ele era prata e confortável, ideal, pois a família havia aumentado. Um jipe com aspecto de carro de passeio, apesar de sua grande valentia. A concessionária da marca japonesa, realizaria com os proprietários destes carros, um passeio a Visconde de Mauá, próximo à divisa de São Paulo e Rio de Janeiro. Logo, meus pais me contam que participaríamos de um rali de verdade, apesar de ser apenas um passeio. Não era o melhor dia para um passeio na floresta. Começava com chuva mais um fim de semana. A trilha, cercada por matas e várias cachoeiras, havia sido castigada pela água que ainda persistia em cair. O frio era quase insuportável, assim como o mofo do quarto do hotel fazenda.

Atualmente, fazemos parte de um grupo off-road, unido pelos passeios e pela amizade, tornando assim, trilhas e expedições mais divertidas e menos cansativas. Fico feliz por terem confiado em mim para a missão de repórter e web designer do site Terreno 4x4.

Ainda neste mundo em que o vento no rosto é constante, outra paixão: minha “trike”, ou seja, um triciclo que pode estar longe de uma Ferrari, em matéria de velocidade, mas aproxima-se desse mundo quando falamos da liberdade de manobras e do vento na cara. No calçadão, pratico este esporte que me dá prazer e alegria.

Xeque-mate

Meus avós paternos trouxeram uma contribuição eterna e de grande valor: com eles, entrei no mundo das notas musicais e dos movimentos pelas casas do tabuleiro de xadrez.

Saindo um pouco das páginas ou simuladores de velocidade, entro nos tabuleiros, onde os reflexos ou o dom não podem influir tanto, porém o raciocínio é extremamente importante. Enquanto Newton, meu avô, ensina a arte e os segredos do tabuleiro, minha avó paterna, Dalila, professora formada de canto e piano, me apresenta uma beleza tão precisa quanto os movimentos do xadrez: a música.

Nosso Paraíso

Meus pais sempre tão atentos e sensíveis a tudo que possa me trazer alegria e bem-estar, decidiram comprar um sítio em Pedra de Guaratiba, onde foi construído um terreno para jogos de futebol, realizando assim um grande desejo. Lá, distante do off-road, ganhamos mais um lugar para curtir e apreciar a natureza, onde podemos ver o pôr do sol, relaxar em um delicioso banho de piscina e estar mais próximos da natureza

Nasce um Blog

Nosso grupo off-road, no início de 2005, planejou uma viagem fantástica: Rota da Lagosta, uma expedição que cruzou o Nordeste, região brasileira semi-árida que ainda apresenta problemas. Mas também, olhando por um outro ângulo, possuidora de grandes belezas naturais. Durante vinte dias vivemos quase um sonho. Geralmente este tipo de viagem permanece somente nas fotos, fazendo com que, ao longo do tempo, tudo se perca na memória.

Ao comentar com o grupo que tinha alguma afinidade com a palavra, todos me pediram um relato da viagem. Passado algum tempo, Nilton, meu pai, enviou este texto a uma amiga jornalista, Cristina Maria, que hoje, além de trocar idéias sobre os meus textos, tornou-se uma grande amiga. Ao ler o relato desta viagem e visitar o Terreno 4x4, sugeriu que eu usasse esse dom para escrever sobre tudo que me interessa e colocar um diário virtual no ar.

Nasce, então, o Expressão Digital. Espero que assim como a minha história, a minha viagem por esse mundo da palavra esteja apenas nas primeiras linhas.

Somente o começo

Hoje, aos 12 anos de idade, curso a sexta série numa turma de 30 alunos, alguns, amigos muito especiais. Resolvi parar de pensar ou sofrer com o passado, pois mesmo com o avanço da medicina, nunca saberei ao certo o que aconteceu naquela tarde. Talvez, nem haja explicação para o ocorrido. Não é tarefa fácil falar, menos ainda, compreender. Mas, com uma família dessas ao meu lado, de pianistas a advogados, de engenheiros a médicos, de pessoas especiais, é uma ajuda e uma força para não olhar apenas o passado mas sim, me abrir para um outro olhar sobre a vida onde o futuro esteja repleto de sonhos concretizados. E se tudo isso não bastasse, ainda tenho a felicidade de possuir amigos especiais e eternos.

Poderia terminar esse relato com apenas as três e clássicas letras: fim. Mas, ao contrário do que muitos possam imaginar, seria incorreto. Na verdade tudo o que está relatado acima, compõe apenas uma página inicial. É somente o começo desta história, que acredito renderá ainda muitas páginas e capítulos, alegres e felizes, mas podem ter certeza que os desafios ainda existirão, talvez ainda os mesmos dos dias atuais ou provavelmente novos, fáceis ou não, porém todos serão superados com fé em Deus!

Pescador de Olhares
Enviado por Pescador de Olhares em 06/09/2009
Reeditado em 07/09/2009
Código do texto: T1794838
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.