Crônicas de Estudante

07 de setembro de 2006

Blog Expressão Digital

I

000058

Um calor aconchegante dominava aquela tarde de sol intenso e escrevia as primeiras linhas do grande romance em seus raios brilhantes. O reforçado almoço encerrava as férias e marcou uma nova era, um outro tempo, uma página ainda incerta. Deixamos a garagem e após contemplar por um breve instante o sol alpino refletir na janela de nosso automóvel, estacionamos numa rua estreita e calma. Percorri a calçada irregular, tortuosa e a meu ver, triste, procurando entre o muro rosa o portão principal. Naqueles passos imprecisos estava o trilho de uma nova história: ressurgir a cada dia.

O largo pátio do Colégio Nossa Senhora da Ressurreição se abre em verde confundindo-se com os ladrilhos rosa, e junto a ele um destino. As crianças, ainda poucas, são encaminhadas às devidas formas.

Um anjo surge escrevendo, experiente e espontaneamente, o prefácio daquela história eterna. Irmã Umbelina revela a alma, rara e preciosa, em sua voz doce e suave. O clima torna-se leve e as turmas seguem lentamente às salas.

Quando as esperanças pareciam escassas, quando as portas fecharam-se bruscamente, o jovem colégio se abre e planta um amor que me envolve e transforma. Em um número a tradução desta história, repleta de amores e desafios: a matrícula 000058.

A romântica casa de madeira abriga minha turma, seus poucos alunos e o nascer da amizade. Jovem e bonita, a professora apresenta-se estampando um largo sorriso no rosto, sincero e leve.

II

Aulas de Superação

As primeiras aulas de Educação Física tornam-se difíceis com tombos e tropeços. Corridas, saltos, jogos: desafios. Aquele professor ensinava-me desde o primeiro instante a ver o invisível ou superar o que a mim e aos olhares distantes parecia impossível. Fernando Ruffato trazia consigo a força e a esperança do novo. Ser diferente era seu encanto. Convocou-me a sua aula trazendo-me a um mundo novo, onde os sonhos realizam-se.

A natureza cercava a cantina e nos dias de ventania o murmúrio cessava e ouvia-se o bailar das árvores. O campo de futebol ao lado, largo, verde, seria palco de um gostoso banho de mangueira ao sabor da amizade, límpida, sincera e alegre, como aquelas águas que me remetem a outro tempo.

Campo que sofre o passar dos anos, dourados e belos, e nele, erguem-se novos prédios e alunos. Uma quadra foi construída, na qual vivi a superação. Atrás das traves localizavam-se os balanços de alegria, a casa suspensa transformada em abrigo de segredos e amores, refúgio nos recreios ensolarados. Havia uma grade azul separando os dois novos ambientes. Ruffato criara, em certa data, uma corrida contendo a cerca como obstáculo. Cruel obstáculo. Após explicar o percurso, me direcionou seu olhar sonhador e proclamou que, assim como todos, deveria saltar. Confiei nele, meu grande amigo, como até hoje confio. Confiança que me proporciona momentos maravilhosos. Nunca me esqueço de tal data, quando certo "maluco" ensinou-me a superar a mim mesmo. Um maluco que me ensina a viver.

III

Berço de Palavras

Professora Elimar trazia consigo um toque irônico e mágico. Ironia e magia que apresentaram as palavras e desde então se tornaram fiéis companheiras. Brotavam no vagaroso e sonoro estalar das letras da máquina e criaram as primeiras cartas, os primeiros laços. Transportei a romântica máquina Canon e a acomodei na pequena mesa. Sutil movimento que vence, transpõe e supera as letras tortuosas e difíceis. Mãos ganham leveza e buscam entre os furos do acrílico, as primeiras letras. Mãos de um jovem escritor.

Nelas, a expressão dos sentimentos profundos, que apesar de meu receio, logo se transformaram em declarações de amor.

Sutilmente, deixei o pedaço de papel ser conduzido pela brisa e pousar sobre a mochila aberta de minha primeira amada. Brisa que carrega um destino. No dia seguinte, impaciente, recebi um pequeno bilhete que trazia a primeira desilusão amorosa. Fato que fortalece uma amizade e tantos destinos ali já traçados. Berços da alegria.

IV

Batalhas de Ruffato

Arte de defesa que encanta, conquista e fascina. A armadilha perfeita e o estourar dos corpos no tatame embalados pela voz do mestre Ruffato e o balbuciar da platéia atenta. Uniforme e faixas brancas que beijam, depois de demasiado suor, o solo rígido, consolidando a última derrota.

O equilíbrio torna-se difícil e ali me transformo em um vencedor de meus próprios limites. As faixas coloridas penetraram em meu grande armário. Uma história e suas nuances, suas cores.

A aula beira o final e certa tristeza toma o ambiente. Ruffato convida-me ao centro, enquanto recompõe sua faixa, apenas com seu sorriso maroto. Os segundos são valiosos: aluno e mestre, frente a frente. O golpe fatal lança-me e no suave movimento encontro novamente o tatame. Tristeza ocultada em um momento, em um segundo. Um segundo mágico. Batalhas de Ruffato.

V

Um L no Alfabeto

O fiel companheiro e o pequeno escudeiro. Em seus rabiscos na folha de caderno, imaginando seus carros, seus protótipos, encontrava um refúgio do cotidiano monótono. Lucas divertia-se nas aulas de judô ao me lançar ao solo ganhando o combate. O caminho de regresso à sala era repleto de sorrisos abertos em sua face. Tentava ensaiar algumas desculpas, mas, logo, encerro a discussão dando-me por vencido.

Milagrosamente, em uma aula sob o céu claro, no golpe fatal, a batalha era minha. Porém, o combate estava longe do fim. A revolta e a raiva tomaram o doce menino, filho da diretora Teresa. Talvez tivesse a plena certeza que a sorte estava ao meu lado naquela tarde ensolarada. Eram suas crises emocionais, que se tornaram freqüentes. Alguns anos depois uma reforma na diretoria separa uma amizade, bonita, porém, conturbada.

Quando encarei a 4ª série, em pleno 2004, deparo-me com um novo Lucas: grande amigo e defensor. Momentos que ainda guardo, de uma amizade novamente separada, agora, pela cruel seleção de turmas. Anos mais tarde, voltaria a minha nobre sala, infelizmente, em lados opostos. Amizade que se transforma em coleguismo.

Demorei a perceber aquele menino, quieto e esforçado, apoiado contra a parede, escrevendo suas linhas tortas, difíceis. Aproximei-me de mais um Lucas, um novo anjo. Recreios divertidos e conversas descontraídas: o brotar de uma grande amizade. Amigos e irmãos.

VI

Olimpíadas da Solidariedade

Todo fim de ano percebe-se um Ruffato mais agitado. Reuniões, comitês, claros avisos lançados ao ar. Mais uma Olimpíada Ressurreição tem início em um dia quente de outubro.

Acordei mais cedo naquela data e abri rapidamente o armário, vasculhando-o em busca da camisa verde. Alguns ônibus ocupam a pequena rua dificultando a passagem de todos. No pátio estende-se um tapete colorido e harmonioso e lá está Ruffato driblando o agito das equipes, sendo pressionado por líderes dos times, ajustando os últimos detalhes. Embrenho-me entre o mar verde e alguns momentos depois nos dirigimos para o ônibus. Seguem-se minutos e minutos de cantoria cativante até estacionarmos defronte um grande muro. Rompemos o portão e uma magia me toma em meio ao verde do Sítio Paulista. A cerimônia traz a tocha, acesa pela esperança dos participantes, sinal de superação.

Acompanho atentamente, após o rápido café no amplo refeitório, a tabela dos jogos. Aguardo sôfrego a hora do futebol enquanto caminho entre a multidão do local. As árvores tornam-se um gostoso abrigo. Espalham-se pelo terreno em um ambiente convidativo aos cochichos e descanso entre os jogos. Ao fim de alguns campos de futebol, visualizo uma pequena cachoeira e uma grande escada de pedra, coberta de gramíneas, que nos leva à piscina. A paisagem incomum revela-se nas colinas suaves, na sombra das árvores, no doce aroma do campo, no ar envolvente de magia, alegria e superação.

Alegres e exaustos, voltamos ao ritmo do pôr-do-sol, numa penumbra bucólica. O ônibus nos traz novamente à escola, agora escura e nua. Aquela noite é longa e nos recompõe. Noite de tantos sonhos. A gincana do dia seguinte decide os jogos, nas tarefas difíceis e inusitadas. Os campeões são anunciados: explosão de sentimentos. Palco de tantas alegrias e frustrações. Muitas vezes deixei aquela quadra em tom de melancolia, abandonando novamente o sonho da vitória. Em pouco tempo alegro-me, abro um sorriso e descubro que havia ganho um prêmio ainda mais especial: a superação de meus limites.

Os sonhos, porém transformaram-se e, naquele ano de 2004, coloriram-se de amarelo. No bailar das peças do tabuleiro, descubro a vitória, ditando os passos de meu pequeno exército com minha voz, baixa e obstinada. Xeque-mate. Equipe Amarela campeã de xadrez.

Aquela vitória, talvez certa, talvez inesperada, empolgou-me durante o dia cinzento, véspera da grande gincana. Independente de qualquer resultado, aqueles jogos me deram um doce sabor de conquista. Porém, desejava, acima de tudo naquele momento eufórico, o nome da equipe escrito naquela taça. O dia que segue nos premia com uma manhã clara e um céu límpido.

A gincana desafia os nervos numa disputa intensa até a última prova. Após longos minutos de apuração, Ruffato sobe novamente ao palco, trazendo em mãos um papel amassado, com letras de forma. Ali, o fruto da luta, esperança e superação. Ruffato ergue os braços sobre a equipe azul e somos tomados por certa tristeza, porém, num relance ele vira-se e declara em poucas palavras, surpreendendo-nos, a nossa vitória. Equipe Amarela: campeã das Olímpiadas Ressurreição.

Poucos anos depois, com a nova Olimpíada Pedagógica, recebi uma cor nova: rosa. Um ar de preconceito envolvia aquela equipe, que dominara a tabela com ampla vantagem. Num golpe, em pleno Sítio Paulista, perdemos a margem de pontos, numa derrota inesperada e ainda mais triste que as outras. Uma vitória que se apaga naquele romântico fim de tarde.

A intensa jornada encontra seu fim deixando traços numa história de desafios, alegrias e tristezas. Marcas da superação.

VII

Guarda-Redes

A bola sobrevoa a área e encontra a parede rosa decepcionando os atacantes. Atacantes choram, goleiro sorri. A quadra é invadida rapidamente e a bola, a estrela principal, no gesto imprudente, é lançada ao ar. Os pés a ocultam, formam uma caótica selva com seus perigos e armadilhas, glórias e fracassos. Refugio-me na área, defronte às redes, esperando que um chute encontre em meus pés um destino. Um gol, uma vitória. Ingênuo toque, leve, em meu corpo e a bola supera o goleiro confuso. Meu gol.

Algumas vezes, jogávamos apenas entre a turma com times separados e organizados. O campo transforma-se, torna-se amplo e calmo. Poucas vezes recebo a bola e quando tal fato milagroso ocorre, a jogada perfeita beira em pouco tempo o desastre.

As esperanças se perdem durante o jogo e derrubam-me. Certo dia dirigi-me às mesmas redes, no lado oposto, protegendo-as. Tornei-me seu fiel guardador: nasce um goleiro. Num salto, alcanço o canto do gol e no resvalar da bola em minhas pequenas mãos, a defesa. Simples. Fantástica.

A seleção de times é cruel e infeliz, logo domino o gol, acolhendo-o, e no sinal positivo do atacante o jogo tem início. Ansiedade que me domina e transforma-se num lance de sorte e talento. Lanço a bola novamente ao campo. O jogo pode recomeçar.

No erro sutil, seu fim. Os melhores lances apagam-se e a atuação do guarda redes resume-se, no chute suave, na bola que beija a trave e balança as redes. Um herói e um vilão.

VIII

Voz de Sylvia

Um medo apoderava-nos quando a voz daquela professora da 4ª série, com a face marcada pela idade, rondava os corredores gélidos e rompia a porta de nossa sala. Após um leve medo, a turma explode num cochichar infernal. Alguns temem, outros choram e há poucos que apenas riem da cena que se abate.

A turma mantém-se no ano que segue e prometia medos e sustos. A primeira aula e experiência reúnem momentos de ansiedade, mas, acima de tudo, respeito. Sylvia mostra-se sensata e carismática e em dadas oportunidades sorria amplamente.

Com o tempo, aquele perfil de respeito absoluto teve uma queda significativa abrindo a lacuna do murmurinho. Punho cerrado que encontra a mesa verde nos antigos estrondos e na voz de Sylvia, frenética, que coloca a sala cabisbaixa. Mulher que deixa de ser tia e torna-se professora. Professora Sylvia.

IX

Fiéis Companheiros

O fim daquelas férias de inverno reservava-nos, até então, uma amarga surpresa. Não encontro Sylvia, deparo-me com Rosângela apresentando-se a turma. Lucas não senta mais na cadeira ao lado, com seu distinto sorriso cedendo lugar a outro amigo fiel que mantém o nome. Eduardha destaca-se e somente anos depois percebo a sua beleza e a das curvas do destino.

Cruzei a sala ainda com as luzes apagadas sob o murmurinho inicial de aula. Acomodo-me, contra a janela, conectando o fio da máquina na tomada. Uma conexão entre um jovem e as palavras.

A velha amiga logo rompe o silêncio, quando todos já se acalmaram, em um som contínuo, transmitindo emoções e sentimentos, em palavras corrigidas e jovens.

As nobres cartas de amor que nasciam ali eram claras, evidentes e logo revelavam seu tímido autor. Amor secreto tornou-se impossível. Muitas não entreguei. Guardei-as na mochila com certo cuidado, como um pequeno tesouro. Talvez, em algum momento, a coragem dominasse meu jovem coração e levasse aquela mensagem à Priscila, até aquele momento, minha eterna paixão.

Novas redações surgiram, em meio a ansiedade das provas de português. Redações que não eram mais limitadas pelo número de linhas determinadas. Minha inspiração me transporta a outra dimensão.

Logo no recomeço agitado das aulas, dando um novo início à escrita daqueles pequenos textos mágicos, deparo-me com um tema especial: minha vida. Sem pressa coloco a folha de caderno em minha máquina preta, com seus adesivos refletindo a luz do sol de inverno. As palavras brotam, nascem: uma fonte pura e límpida. Logo, tomam a folha em verso e prosa. Navegava num mar de surpresas.

Ainda inconsciente, distante daquele plano, imune ao tumulto de gritos, cores e dores, entrego a redação à Rosângela, que se tornou a partir de então uma grande incentivadora e abre-me uma nova porta. Sentada em sua mesa verificava cada trabalho através das lentes de seus óculos. Aguardei alguns momentos dominado por um riso maroto, tímido, sincero. No final das linhas, segundo ela, me transformo em seu pequeno escritor.

O tempo passou, as mãos tornaram-se ágeis e leves, os textos aumentaram e melhoraram pouco a pouco, palavra a palavra, mas, o marco inicial está lá, nas letras de máquina que formaram o meu primeiro e pequeno texto. De Minha Vida ao Crônicas de Estudante. Um mar de emoções.

X

Nova Escola, Antigo Lar

Tudo mudou, transformou e edificou-se. O gramado cedeu seu lugar, ainda naquele ano, ao novo prédio imponente e rosa: a marca do crescimento. Um prédio que nasce em corredores suntuosos e escadas de mármore. Sinais de uma nova era. Pilastras que escrevem um novo capítulo. Ali, novas turmas estudam, novos rostos a subir e descer as escadas, na pressa atual dos jovens, que atingem o alto tendo como vista a nova capela e o pátio lotado. Constantemente cruzo com o futuro, o jardim de infância, que invade o corredor em faces temerosas e olhares curiosos, trazendo o desfile das merendeiras. Ah! Tantas lembranças. Vitórias, conquistas e alegrias. Encontro-me absorto em meus pensamentos, numa viagem, rompendo a barreira do tempo, enquanto meu olhar revela que estou longe daqui. Tempo em que se conseguia ouvir o bailar das árvores.

O velho parque de areia ficou retido no tempo. Areias passadas. A quadra cresceu, novas traves, novas cores, novas defesas. O pátio estende-se em tons laranja e rosa que harmonizam com as árvores. Velhas companheiras. Contemplo-as, conheço suas linhas e nelas encontro sinais vivos daquele romance. Os recreios tornam-se movimentados, confusos, repletos. Alunos novos e velhos mesclam-se no bafafá da nova escola. Do velho lar. Um romance e um personagem.

XI

Manhãs de Sol

Desci do carro e cruzei meu nobre portão azul, num sol tímido que anuncia o nascer do dia. Certa ansiedade dominou-me nessa brusca e repentina mudança. O colégio pareceu-me mais amplo e aprimorado em alguns ambientes. Nos últimos anos tive apenas gostosas surpresas no primeiro dia de aula com novas e modernas construções. Tenho passos obstinados e sôfregos de um viajante que, saudoso, retorna a sua casa.

Um novo cenário, porém, revelava-se ali, sem o sol quente ao céu. Apenas uma doce penumbra. Alegro-me, na sala, ao deparar-me com velhos amigos, como a nobre Priscila, absoluta em meu coração, ainda que este veio a se confundir com essa velha paixão no decorrer daqueles últimos dias. Talvez sua resistência houvesse sido quebrada após tantas cartas que me trouxeram apenas lágrimas à face. Talvez precisássemos, tanto eu quanto ela, explorar um novo amor.

Diversos professores passaram por nossa classe naquela manhã apresentando-nos esse mundo ainda desconhecido, incerto e, provavelmente, extenso e árduo. Mantive minhas notas e no fim daquele mês, formei novas amizades e, felizmente, simpatizei com todos os professores: tudo já havia se encaixado. Praticamente tudo.

Aquele grande amor que Priscila plantara em mim solidificara-se em uma grande amizade. Encantei-me por Ariel na esperança de uma nova paixão, talvez mais feliz. O amor por Ariel não resistiu a primeira e talvez última tempestade, numa declaração curta e romântica. Vencida a barreira da vergonha, talvez pela necessidade de abrir aquele novo mar de sentimentos que estava navegando. Destinei a ela, a primeira carta digital amorosa, mas eu não sabia que algum mês mais tarde me tornaria um Poeta Digital. Tendo como musa a bela Eduardha.

Parecia-me uma bela amizade e suas trocas de carinho. No ano seguinte, na conturbada turma de 6ª série, fechei-me aos amores e suas possíveis dores. Queria cultivar a amizade e pouco, além disso. Após algum tempo, passei a escrever na página pessoal de Dudha. Alguns pequenos comentários, sem compromissos de ortografia. Os comentários cresceram junto aos sentimentos que ali deixam suas primeiras pistas. Procurei conter tudo aquilo por alguns sofridos dias. Entreguei-me finalmente, após alguns sonhos, e o amor dominou-me, do meu acordar ao dormir. Estava absorto em meus pensamentos e o mundo parecia-me mais colorido. Tive uma vontade repentina de confissão, precisava abrir-me. Executei o Word e nele digitei algo que devia ser um cartão de aniversário, mas, que se torna o primeiro ato daquele grande amor. Nasce um Poeta Digital. Uma felicidade plena envolveu-me e naquela festa junina encontrei um desafio. Encontrei uma musa. Dança comigo.

Aquela 6ª série, apesar de alguns confrontos inesperados, devolveu-me a magia das aulas de Educação Física de Ruffato. Deu-me a alegria das aulas de Janete que me conduzem pelas nuances de nossa história e das aulas de Carlos num bailar eterno entre a selva matemática. Ano de surpresas. Um ano gostoso, emocionante. O ano da renovação. Manhãs de sol e amor.

Passei a conversar em tom de ironia com Lucas e alguns sorrisos serviram de prefácio para uma amizade eterna. Logo, Renato aproxima-se em sua ironia habitual e quando refleti, percebi que aquele sentimento que nos unia havia nos tornado grandes amigos, mas, principalmente, irmãos. Nina e Mariana sempre nos rodearam e uma amizade única nasceu com a beleza de laços carinhosos e insolúveis. Todas as letras de Fernando.

XII

Linhas do Destino

O céu nublado e triste parece expressar os sentimentos prontos a explodir em meu coração de estudante. A paisagem de inverno me consome em cada passo. Estava novamente entrando na escola, meu lar. Breves meses separam-me de uma nova vida. Certa emoção toca-me, confunde-me, traz lágrimas que misturam alegria e saudade. Ah! Conheço suas nuances, suas curvas, a história de suas árvores graciosas. As crianças brincam, correm animadas, exaustas, e outras, menores, trazem com afinco e proteção a mochila colorida. Estou distante daquele tempo, como se aqueles gritos e músicas, me remetessem aos tempos nobres e longínquos. Tempo de amores sinceros e desafios gostosos. Tempo de suaves encantos.

Deparo-me com o novo pátio de cores leves e estruturas modernas que tomam o lugar da varanda de madeira, das grades de janelas tortuosas, das plantas, num ar que sugere amizades eternas.

A turma se desfez como areia levada pelo vento e já não posso encontrar aqueles velhos grãos. Mas, alegro-me, ao poder encontrar ainda ali, a poucos passos e cochichos, amores e amizades. Velhos e novos. Eternos.

A bondade de Irmã Umbelina proporcionou-me encontrar uma nova vida: o início de meu caminhar. Recordarei daquele berço em seus dias de céu límpido, onde contemplei o brilho de suas plantas e suas árvores tortuosas, e nos dias de um céu tomado pela tristeza, vertendo suas lágrimas num frio suave aquecido pela amizade. Recordarei os amores e seus dias de extrema alegria, no abraço aconchegante que me revigora e acende novamente a chama da paixão. Recordarei as amizades e juras eternas em seus risos sinceros e apenas em algumas singelas palavras que possuem um valor inigualável. Valores, momentos e sentimentos, jóias que trago e onde novamente posso encontrar, num paraíso em meu coração, meu eterno berço de luz.

Pescador de Olhares
Enviado por Pescador de Olhares em 07/09/2009
Código do texto: T1796525
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