O Centro da Cidade de Jundiai

Pela topografia da cidade de Jundiaí, quase tudo se aglomera no centro , ou seja, o antigo centro histórico que continuam sendo algumas poucas ruas. É ali que também se detém o comércio e o centro bancário. Os antigos prédios ,sejam comerciais ou residenciais, estão atualmente sendo disputados pelas imobiliárias a peso de ouro, e as estreitas calçadas, disputadas por buracos, postes de todos os tamanhos, pelos automóveis e pelos pedestres.

Mesmo tendo um ‘calçadão’ onde em horário comercial não transitam os carros, há uma aglomeração humana constante. Assim, vários prédios foram sacrificados e hoje estão sendo ocupados por grandes lojas, como se somente aquele local é possível de ser usado para o comércio.

A concorrência é grande e os alto-falantes bradam na expectativa de atrair mais clientes.

Não bastasse isso, a praça central, ou seja, a Praça Governador Pedro de Toledo ,que já foi grande e agora ficou reduzida a pouco espaço, tem um monumento que nada tem a haver com o local, as “Esquadras”, erguidas em para homenagear os quinhentos anos do descobrimento do Brasil, uma obra descomunal com trinta metros de altura, enfeando o marco zero de Jundiahy.

Além disso, tem três ‘orelhões’ bem no meio da praça,( que poderiam ficar num lugar mais discreto) atrapalhando os fotógrafos que querem tirar fotos da Catedral Nossa Senhora do Desterro, fugindo do monumento colossal feito de concreto. Para ajudar, ainda,ali mesmo no meio da praça, uma caixa de correios, que poderiam muito bem ficar numa lateral.

Não obstante isso, os poucos bancos disponíveis que ficam nas sombras, ficam justamente num trecho onde um grupo de pregadores do apocalipse brandas aos berros a quem quer ou não ouvira que o mundo irá acabar durante todo o horário comercial. E o território foi tomado de posse de fato,embora não de direito, por ocupantes que não detém alvará do município para isso, somente do além, somente a quem devem prestar contas, afugentando transeuntes e alguns ocupantes de escritórios comerciais que ficam em frente da praça.

Antes a praça era mais ocupada por aposentados que se encontravam debaixo das árvores,e havia encontros de profissionais do sexo, que por ora,mudaram de endereço.

De vez em quando, aos sábados tem algumas novidades, quando há escultores vivos, como a estátua-viva de algum artista. Outras, algumas atividades musicais e danças, atividades visuais ,literárias de conscientização, alegrando o cotidiano dos dias comuns.

A praça é também usada para comícios políticos e shows ou para manifestações religiosas e procissões.

Mesmo hoje já tendo mais de três séculos, ainda a Praça Gov. Pedro de Toledo, ainda é o centro de Jundiahy, que nesse detalhe continua como muitas cidades , onde pulsa o coração e a vida da cidade , o seu marco zero, e é por isso mesmo que deve ser um território onde haja democracia, uma praça pública, sem monopólio de quem quer que seja, respeitada e valorizada, e ao mesmo tempo, que nas periferias, sejam construídas mais praças públicas, onde a vida da comunidade crie vida e tenha sua identidade preservada e incentivada tornando-as independentes tanto economicamente, socialmente e culturalmente, dando oportunidade a cada local ter sua própria vida e onde, possam mostrar sua marca e inclusão social ,principalmente os traços da cultura de onde vieram.Para isso é preciso um esforço da administração pública na área cultural e de planejamento urbano. A valorização e dignidade dos cidadãos não deve ser feito como uma caridade, uma doação, mas uma conquista. Os instrumentos à disponibilizar podem vir da administração municipal, como locais de formação cultural, caminhões –palco, que podem dar possibilidade de serem levados show musicais e teatrais aos bairros. A cultura popular existe, precisa ser lapidada e criar o vínculo de levar dignidade à população, que no caso de Jundiahy é quase na totalidade migrante, ou seja, vieram de outros locais do país, e do exterior, e aqui formaram a mão-de-obra trabalhadora e perderam os vínculos com sua origem, a sua cultura, seus costumes,sua dignidade como integrantes de uma comunidade, onde passam a serem anônimos moradores, mais ligados à influência televisiva artificial, do que mostrar suas próprias origens culturais.

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Regina Kalman- moradora de Jundiai – junho de 2005