DOUTORES, MESTRES, GRADUADOS X SEMIANALFABETOS (Seleção para Garis Atrai Doutores e Promove Concorrência desleal!)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Quando pensamos em um concurso público para gari, no nível de primeira fase do Ensino Fundamental, oferecendo um salário de R$ 486,10 (salário mínimo da época) e outras pequenas vantagens, geralmente pensamos primeiro nos semianalfabetos fabricados pela a escola pública como candidatos ideais. Nunca pensaríamos em alguém intitulado de Doutor, ou de Mestre, ou de Graduação como concorrente num concurso desses. Com menos probabilidade ainda, podemos pensar em que esses indivíduos estudados no mais alto grau de escolaridade sejam reprovados.

“Com inscrições abertas desde o dia 7, o concurso público para a seleção de 1.400 garis para a cidade do Rio já atraiu 45 candidatos com doutorado, 22 com mestrado, 1.026 com nível superior completo e 3.180 com superior incompleto, segundo a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana). Para participar do concurso, basta ter concluído a quarta série do ensino fundamental. As inscrições terminam amanhã.” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2210200915.htm) - acessado em 10/07/2016.

Infelizmente, nosso "criativo" sistema educacional não traça patamares valorizadores de títulos acadêmicos como um requisito de ética. Bem pudera, mas a escola inclusiva aceita de tudo até paga ao indivíduo matriculado com dinheiro público, é claro, e uma boa parte, vai fazer lambança na escola! Assim desvaloriza mesmo! Mostrando dessa forma interesse maior no aluno, mais do que ele por ela, parece-me uma auto-vulgarização. Será se ninguém percebe que nem todos nasceram para estudar? Ser mestre e/ou doutor não pode ser habilitação de qualquer um, ter diploma, sim, daqueles sem merecimentos.

Mestres e doutores podem se inscrever num concurso no nível da primeira fase do Ensino Fundamental, mas os semianalfabetos não diplomados não podem se inscrever num concurso para graduados! O que está acontecendo com a educação no Brasil? São tantas Recuperações, tantas "Ressignificações", tantas EJAs, tantas Aceleras e Pedaladas, tantas Progressões Automáticas, tantos Cursos a Distância (tão a distância, vendo-se só o vulto), tantas Fraudes e tantas... e tantas... que percebo, de vez em quanto, o porquinho lavado e perfumado voltando instintivamente ao lamaçal fétido de seu chiqueiro. (2 Pd 2:22).

Há muitos bons profissionais sem sequer requereram a si a primeira fase do Ensino Fundamental, portanto nunca frequentaram faculdade alguma e ganham uma boa renda mensal, e nem por isso são menos cidadãos, mas abandonaram desestimulados a estudar por maus exemplos formados na escola: será se aqueles doutores, mestres e graduados não sabem que o são ou não reconhecem o seu lugar? Ou têm sérios problemas de autoestima? Ou simplesmente a crise do desemprego é grande mesmo?

Se nós acadêmicos não nos valorizarmos, não podemos compor as estatísticas promissoras da Educação Brasileira. Por que, no caso citado, os doutores não usaram seu diploma de Ensino Fundamental para se inscrever no concurso e confiaram somente nas habilidades? Assim sendo, se por acaso um ou outro não passando, pelo menos não foram aparentemente tão opressores! No entanto, não posso cometer a injustiça da generalização. Há Doutores e doutores, Mestres e mestres, Graduados e graduados! Oxalá que, de agora em diante, os semianalfabetos registrados ganhe dos doutores, pelo menos, nos testes de aptidão física!