Tio-Avô

Hoje, quando o meu tio-avô saiu no carro, um pouco alquebrado, ninguém percebeu afora eu. Mas a morte debruçava-se sobre a cena, com seus dedos longos e aduncos.

Sabia, que no fundo não era ela em si, a ubíqua morte, a morte negra, a morte, a sombra, o grito surdo. Era apenas um prenúncio, um aviso prévio, uma carta que deveria( que deve) ser aberta mais tarde bem tarde, como sendo a última coisa vista, presenciada, vivida.

A morte é sempre um assunto delicado, mesmo num mundo indelicado como o nosso.

Nos assusta,nos paralisa. Não há pior medo, pois sua causa nos impede de lutar contra o quer que seja, pois morto não nos movemos, somos impávidos? Que coragem há na morte, ou diante dela? Que face nívea, que branca face tem ela? Que olhos negros? Que doce lábio?

Na verdade, creio que todos nossos amores em si prenunciam a morte, onde? Em seus desejos de eternidade.

"Para sempre nos amaremos" Dizem os amantes e continuam. "Nunca nos deixaremos", "Serás meu para todo o infinito", "Estaremos juntos por toda a eternidade".

No fundo sabemos que tudo isso é morte, frases que ficariam bem em seus lábios, ditas por ela, se é que fala como gente, respira como gente, vive como gente? Vive a morte? Ditas por ela em nosso último amor, sonho, casamento.

A crônica fica incompleta, sem informações sobre o que aconteceu com ele, pois não posso dar informações que não tenho! Mas por fim rezo baixinho, absorto no que tenho que fazer; um pedido.

Faça meu Deus que o que vi seja um anjo...

Um anjo,

Não a morte,

Um anjo.

P.S.: Graças à Deus, era um anjo. Obrigado Deus, muito obrigado.

Diego Sousa
Enviado por Diego Sousa em 27/12/2009
Reeditado em 27/12/2009
Código do texto: T1998485
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