O Universo sempre me ensina!

Nestas férias tenho passado alguns bons minutos voando em um simulador. No início da semana passada estava cumprindo uma missão nas proximidades da cidade estadunidense de Reno. No “jogo”, eu deveria aprender como voar em um planador.

A missão não foi fácil nem difícil, mas durante aquela meia hora eu tive um novo insight sobre como o mundo pode sempre nos dar dicas de como agir nas variadas situações que nos surgem durante a vida.

Durante a referida etapa do jogo eu deveria identificar as térmicas para com isso poder conseguir sustentação para elevar a altitude de minha aeronave.

Ora, as térmicas são colunas de ar ascendente. Devido o aquecimento diurno, certas regiões no solo acabam por concentrar calor, isto acontece, por exemplo, sobre os centros urbanos ou campos descampados. Uma vez aquecido o ar se torna menos denso e começa a subir. Inúmeras aves utilizam este recurso para ganhar altitude sem muito esforço, evitando que fiquem demasiado cansadas.

Enquanto estava girando com meu planador aproveitando uma térmica me lembrei de uma visão que sempre me intrigou muito durante minha infância. Era a visão, na verdade.

Sempre gostei muito de Meteorologia e durante os “invernos” do início da década de 80 eu me punha sentado sobre a pedra fria da janela de nossa casa na Guabiraba. Ficava por minutos admirando a barra cinza que se formava ao nascente, as nuvens rápidas que encobriam o Pico do Urso. Mas eu olhava atentamente ao redemoinho de urubus que se formava pouco antes de uma chuva daquelas.

Sempre que uma chuva estava pra chegar, as aves se agrupavam num redemoinho, ficavam por segundos girando, girando ali. Logo depois, como que combinadas, todas partiam em fuga da chuva que não demoraria muito. O tal redemoinho que as aves formavam era um sinal inequívoco de uma “tempestade”. Foram anos inteiros para entender porque eles se comportavam assim. E descobri isso durante uma missão no simulador de vôo.

Após vários minutos de sol, o solo aquece e sobre a cidade se formam térmicas. Os pássaros possuem um sentido muito mais apurado para encontrar este fluxo de ar, tanto que muitos praticantes de vôo livre se valem destes animais na busca desta sustentação. Assim, quando o tempo muda e vem chuva, um dos primeiros indicativos é a mudança na pressão atmosférica, que é percebida por vários bichos. As aves percebem a vinda da chuva e voam tão rápido quanto podem para a térmica mais próxima em busca de ganhar altitude sem muito cansaço. Por isso várias aves aparecem convergindo para a mesma coluna e fazem roda para manterem-se dentro da ascensão do ar. Tão logo tenham conseguido altitude bastante para planarem para um bom lugar e se protegerem da chuva, eles partem. Caso os urubus não fizessem isso deveriam se esforçar bastante para fugir, sendo abrigados a bater asas. E quando a chuva vem... Adeus térmicas. O solo esfria.

A nossa vida é cheia de “tempestades”. A qualquer momento o tempo pode virar. Nem sempre somos capazes de sentir intimamente que algo vai dar errado. Muitas vezes não vemos a “chuva” chegar. Neste caso não a muito que fazer. Mas quando somos capazes de perceber a perturbação vinda, temos antes que simplesmente fugir ou enfrentar de qualquer forma, procurar ascender. Devemos então nos elevar. Assim ganhamos altura para ver a extensão da “chuva”. Podemos ter mais opções para buscar um bom “abrigo”. E se tal “abrigo” está em condições mais “elevadas” quando a “chuva” passar eu posso sair planando e novamente ganhar o mundo. Enquanto o sol aquece o solo e as “térmicas” da vida são recompostas...

Caso a chuva seja tão duradoura e venha a noite eu somente poderei aguardar o amanhecer com resignação.

Depois de formular este pensamento eu senti que poderia ter entendido esta mensagem desde sempre e isto teria me poupado certos desgastes na vida. Também percebi, ainda enquanto voava em meu planador virtual que nosso coração é capaz de ouvir um conselho do mundo em qualquer lugar ou circunstância. Isto porque o Mundo grita, o Universo grita nos avisando a todo o momento o quanto somos vaidosos e pequeninos.

Dei a volta com o planador e dei mais algumas voltas na térmica.