OLHAR SOBRE A CIDADE (remake) - SP É SIM

São Paulo é sim para tanta gente que aqui aporta e encontra a aberta a porta principal. Com malas e filhos, vêm e planta aqui o futuro, dá duro, vive duro, mas tem um porto seguro.

Faz sua vida, sua lida e não sai mais. Como se fosse imã, nela se prende e fica, fisgado na linha de produção. Se fixa nas suas costas, encostas e baixadas, prédios e favelas, vielas, becos. Poucos nos jardins e coberturas, nas alturas.

É assim: aqui se consolida o País, e a cidade cresce para o alto e para os lados, periferia, laje sobre laje, lojas sobre lojas: grife e josé paulino/ Brás; Brasilândia e Morumbi. São Paulo é aqui, é assim: mistura e diferença, elite e miséria.

Mas é sim para tanta gente, norte, sul, todo dia, 24 horas na tomada. Um país dentro do Brasil, que se mexe, não descansa, não se cansa. Abriga.

É uma cidade que não pode dar errado, ou tudo vai para o buraco. É para quem a ama, apesar da boa chuva e da lama, do barranco que despenca, e o barraco na encosta.

Aqui se fabrica indiferenças, diferenças. Feita de muitas crenças e ceticismo, mas combate as idiossincrasias com alegria, irreverência e os diferentes mistura.

Atura todos os nuances, mescla negro em todas as peles, reanima o ânimo nacional e ensina tolerância.

É certo que a vida é cruel, periferia, ferida que se alastra mas também obriga saídas. Todo dia, novas possibilidades. Sobrevivência é a palavra de ordem. Nadar contra a enchente, reerguer, aprender rápido o hoje, para amanhã aplicar. É assim. É sim.

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(de Célio Pires, originalmente, com diferenças, publicado no mês 10/2007 no Rl)

...OUTORS OLHARES.....

NÃO ADIANTA COLOCAR CADEADO

Nasci em São Paulo, me sinto confortável aqui, com seus problemas. É a cidade do trabalho, da pressa, mas escolhemos estar aqui. A segurança está ruim? Não adianta colocar cadeados em tudo, vamos exigir segurança! A vida monástica não se resume a ficar rezando no cantinho. Meditar exige grande força de vontade para controlar o turbilhão de nossa mente. Contemplamos, assim, a realidade.

(Monja Coen, ou Cláudia Dias

Batista de Souza, zen budista)

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ONDE VIEMOS AMARRAR NOSSO BURRO

Nós não somos alegres como os cariocas ou os baianos. Nosso humor vem sempre carregado de uma dose de auto-ironia e melancolia. São Paulo é uma cidade toda torta: bonita porque feia, moderna e provinciana, inóspita e acolhedora. Nós paulistanos, somos todos retirantes-moradores do deserto-fabulistas-tocadores de gado-homens de negócios – aflitos, perguntando onde viemos amarrar nosso burro.

(Noemi Jaffe, jornalista, comentando o disco "Pra Marte",

de Maurício Pereira, que é carregado de paulistanidade - Folha de São Paulo, 29/09/07,)

SAMPA É ISSO: SOMOS NÓS

Sampa é isso. Somos nós. Freguesia e Anália, burguesia e bandalha. Sampa é a força motriz desse país por mais que outros resolvam dizer que não. Aqui caminham nordestinos e o diabo, japoneses loiros e mouros, escravos antigos e demônios amigos. Por aqui caminhamos nós. Seja no centro ou nos guetos. Seja no rock pesado ou no churrasquinho da esquina. Esteja ou não a puta na zona, o moleque na esquina. Aqui vivemos e estamos antenados e prontos. Somos Brasil, como alguém já disse um dia. Periferia.

(Najah DL, poeta, ver:

www.recantodasletras.com.br - 04/10/2007)

NEURA E CURA - “Sampa é minha neura e minha cura. Sampa é o espaço que vislumbro como sendo o maior caos e a solução de tudo. Não é bairrismo, não é tendencionismo, mas a visão dessa cidade ... Me atrevo a dizer que está nas nossas mãos consolidar um país melhor... E se cada um de nós nos empenharmos, faremos a diferença”. (Najh DL)

OLHARES - “Lembrei-me de outrora, das meninas da Aurora, da Vitoria, da São João perto do antigo Mappin, da baderna desenfreada nas calçadas da Luz, do povo passando com sua pressa, seu olhar mortiço, das encrencas do Largo Paissandu, na molecada da Sé e da João Mendes. São Paulo é mesmo um mundo à parte. Se você notar, na mesma rua, você verá às 8:00 um certo tipo de pessoas e às 20:00 pessoas completamente diferentes como se você tivesse trocado de rua. Toda a cidade se movimenta assim. Até a Paulista, com seus estudantes, os empregados, os bancários e banqueiros na manhã, dão lugar aos travecos, as patrícias, os carrões no final da noite e madrugada”. (Najah DL)

PARECE ESTRANHO - “Aqui tudo é vertiginoso e não para nunca. O povo modifica a cada local, a cada hora do dia, mas a sintonia da cidade, até na violência, segue um determinado padrão: riqueza. Mesmo a pobreza por aqui é diferente da pobreza de outros cantos. Aqui dá-se um jeito pra tudo. Até o lixo serve de alimento.... Parece estranho, mas você vê gente no meio do esgoto conversando e rindo. Já consegui ver até poesia nas roupas penduradas na favela da Sapopemba”. (Najah DL)

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UM PALCO CHAMADO SÃO PAULO

Vi uma pesquisa que diz que 57% dos entrevistados deixariam São Paulo se pudessem. Não entendi e expressão ‘se pudessem’. Quer dizer que são todos prisioneiros acorrentados aos pés das camas?. Quem quer ir embora de São Paulo deve ir. Se eu quisesse uma vida fácil, com certeza me mudaria para o interior ou para a praia, sem problema nenhum. A verdade é que São Paulo não precisa de gente que odeia a cidade. São Paulo precisa de gente que quer fazer daqui o melhor lugar do mundo.... A minha São Paulo é maior do que os problemas que a afligem: é a cidade onde nasci, cresci, estão meus filhos, amigos e família. É por isso que eu te amo, SãoPaulo...

Felipe Machado (palavra@grupoestado.com),

in Revista JT, 24.01.2010