Caso Nardoni

Tragédias como as do caso Isabela, caso Doca Street, réu confesso do homicídio de Ângela Diniz, de Dorinha Duval que matou o marido mais jovem por a chamar de "velha", e ter um passado triste, tem as dimensões de tragédias gregas. E, certamente, provocam coletiva catarse, mesmo de atitudes extremas que eventualmente não tenhamos tido coragem de tomar - vide Medéia e a Fera da Penha. Doca Street, recentemente, escreveu, sem pretensões literárias, o excelente livro MEA CULPA, onde relata o romance com Ângela Diniz, sua vida carcerária e em liberdade condicional e o fim da pena. A orelha do livro é de Fernando Morais.

Fera da Penha virou filme e peça de teatro. A assassina sequestra e mata a filha de 4 anos do amante casado, para vingar-se do abandono.

Dorinha Duval nunca falou ou escreveu nada sobre seu crime passional.

Quiseram transformar o caso Ângela Diniz em filme. Doca Street não permitiu.

Quanto a imprensa, o problema maior é a influência que traz sobre o veredicto do julgamento. As feministas atuaram muito para que Doca Street recebesse a pena maior possível, derrubando a tese de legítima defesa da honra, levantada por Evandro Lins e Silva, que absolvera Doca Street em seu primeiro julgamento. Mas não fizeram nada para que Dorinha tivesse pena equivalente, embora em seu segundo julgamento também tenha recebido um agravo de pena. Dois pesos e duas medidas. Quem ama não mata, de qualquer forma foi uma bandeira bem levantada.

Entre o fim do meu primeiro casamento aos 29 anos e o início do meu segundo aos 39, demorei dez anos para escolher uma segunda esposa.

Prazerosa labuta. Terminei muitos namoros porque achava que fulana ou sicrana não serviriam para ser madastras ( existem boadastras?) da minha filha então em plena infância. Tinha medo de inserir uma pessoa de inadequado perfil para lidar com a menina. O caso dos Nardoni mostrou que estava certo. Errado estava eu em pensar que existia boadastra. A relação entre esposos e esposas com os filhos dos outros deve ser de amigos. Ou de adultos com filhos de amigos(as). Mais nada.

Acho as pessoas que vão ao fórum se colocam no lugar dos réus e passam a odiar em si mesmas tais atitudes criminosas.

Isso é o bem trazido pelas tragédias para a sociedade.

Mesmo na Áustria onde um pai seqüestra, aprisiona e copula e fecunda várias vezes a própria filha a imprensa dá grande cobertura ao fato, cumpre seu papel. Mas os austríacos não são iguais aos brasileiros. Envergonham-se mais dos seus instintos mais primitivos. Cada povo é um povo.

Felizmente, não nasci na Áustria.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 28/03/2010
Código do texto: T2164069
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