Do amor e crime

O discurso da fidelidade amorosa cai na tirania levando em consideração o direito individual de escolha. A cultura da tirania estimulada pelo contrato amoroso, através de um ritual, tem direcionado as massas a crimes ligados à honra e dignidade; desde muito; louvando o contrato, que é na verdade uma razão mercantil de posse. Pretexto para louvação dos bens em nome da futura partilha.

Apoiado pela dramaturgia novelística e incansável no discurso do amor monogâmico se casa plenamente com a submissão ao crime de adultério. Estimulado pelo conteúdo da mídia partilham da mesma literatura. É a razão da traição e do traidor como perdão. Toda a literatura rasteira em suas vivências de pobre ser infelicitado pela escolha alheia. Toda a cultura do amor derramado ao campo da idolatria se decompõe em agressividade. Tudo deveria ser cultivado sem os píncaros do drama. Não acertou, adeus. Recomeçar e observar as maravilhas pela frente. Porém instiga-se o oposto em nome da loucura que é aquilo que deve substituir o amor quando termina. Perda da espacialidade diante da rotina. Tal sensação de “perda fatal” perdura em toda literatura de época. Ridiculamente.

Os filhos deveriam ser educados pelos pais ao respeito máximo da transitoriedade do mundo. Em nome da correção desse princípio sobre a circunstância do amor romântico monogâmico ainda no início das relações que tendem a se conturbar. O amor deve ser regido pela espontaneidade do amor. O melhor amor na madureza.

Certa raiva ou vileza brota da obsessão. Purga da posse do objeto amado e cuidado! Em justas núpcias prepondera aquela sensação de plenitude onde somos incapazes de manter, fora do limite da razão, uma nova experiência. E vejam! Observem antes de agir! Vivemos um país que adora “choros compulsivos” como “emblema da verdade” pesam “paixões avassaladoras” até a extravagância da idolatria. Assim o novo amor soa como devastação. Ruína dos direitos adquiridos sobre a pessoa humana. O solitário é sujeito abandonado, antes absolvido pelo clichê da solidão como aliado em todos os juízos.

Trata-se de compreender o universo humano do amor ligado à contingência. Refletir sobre a falsa moralidade dos costumes e a liberdade que advém das teorias escravistas, mecânicas e sobrepostas ao uso comum. Aliás, qual o pior lugar para se estudar o gênero humano? Preliminarmente as novelas da televisão povoam o cérebro mal estudado como se tal situação humana fosse o “inferno de todos os fracassos”. O tormento único da vida vigiada diante de tantas ofertas de desejo. Perfeita comoção sobre as linhas de sucessão, agonia raivosa sobre o direito de escolha. Recorda a trama com o vilão do “corno”, expressão chula que inquieta, que silencia, massacrando a plenitude do direito pessoal a que cada um teria de fato necessidade de respeito. Pela fraqueza do amor, diante da beleza do amor. No que diz respeito à experimentação do mundo emocional. Pois o amor de que és dono não passará jamais de teu desafortunado espelho.

Mas logo que alguém fala em liberdade começam a brandir o tratado de inversão de valores como acusação. Está na moda. Essas relações diferenciadas pelo padrão fundamentado pelas supostas "tábuas da lei", estas sempre diluídas na totalidade, e pelo qual devemos submeter a pobre alma humana do café até a janta; seguramente cria em torno do “farrapo humano dos amores perdidos”, algo prescrito pela melancólica repetição de padrões. Amor que acabará em ruína em caso de variação precedida por toda cultura aprisionada pela discriminação da liberdade do amor. Somos levados à obsessão pela instrução da repetição em regime de tortuosa agonia. Desalentados pelo ato de liberdade. Desfeitos pela identidade. E está aí o germe do crime que é filho do amor confrontado. Arrazoado.

- Arrozoado.