O MUNDO NOVO DE HUXLEY JÁ CHEGOU

OU SIMULAÇÕES E SIMULACROS DE TODO DIA

Há uma profusão de realidades, que confunde, mistura, transgride, agride, acaricia, alivia tensões e cria situações inusitadas. Nada mais einsteiniano, tudo é relativo no mundo novo de Aldous Huxley.

Além daquela cotidiano, que ninguém foge: a dura realidade do emprego e do salário, da sobrevivência em si, há a realidade psicológica, aquela de dentro para dentro, o mundo interno, as contradições, as angústias, os limites, os sonhos, as aspirações e frustrações de cada um.

Há ainda a realidade inversa à interna, a das outras pessoas do nosso círculo de convivência. Como os outros nos vêem, por aquilo que vivemos, falamos, pensamos. A nossa expressão conjunta, como é reflita pra fora e da qual não temos domínio algum, cada um faz e molda a nossa realidade pela sua visão e pronto. É nessa que nasce o preconceito, os ídolos etc.

Outra realidade imperiosa é a imposta pela televisão, cinema e a mídia em geral, a realidade plástica, dos modelos, da perfeição, do photoshop, da propaganda – tudo para vender produtos em longas prestações - a nova escravidão, que mistura diversão, sonho e ilusão.

Se não bastasse essa confusão toda, ainda foi inventada a realidade virtual, que permite a todos com acesso à internet, viver realidades inventadas, através de blogs, programas de simulações, simulacros e de personagens idealizados, que convivem num âmbito restrito, mas universal.

Na cultura hindu se diz que há sempre sete interpretações para tudo, inclusive, para toda e qualquer palavra, situação, fato, ou realidade, inventada ou real. Caetano Veloso, na música Livros, questiona o ato de se escrever um livro. Pra quê? “Para encher de mais confusões as prateleiras”, respondeu sabiamente.

Afinal quem conseguirá separar todas essas realidades e viver a vida como se deve, com o pé no chão? Resolvendo questões localizadas, rezando, chorando, amando corpos de verdade, sendo solidário, pedindo ajuda quando necessário. Tudo sem misturar as bolas, o psicológico com o natural – ou misturando tudo e tirando disso um bom sumo.

É natural a confusão geral causada pelo mundo virtual. É certo que os consultórios de psicanálises ficarão cada vez mais lotados daqui para frente. É preciso cuidado e aprendizado para saber lidar com essa nova realidade. Hoje a confusão é uma comunidade universal compartilhada. A loucura pode ser definida como uma fuga da realidade, ou seja, quem já não é? Quem ficará impune, com os pés no chão sobre o terremoto?

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