No rastro da crônica de MarcioJR - Chutando o balde



Marido de Aluguel




Andei conversando com um amigo outro dia, ele estava muito revoltado, querendo chutar o balde, querendo baixar a guarda, cá entre nós, no fundo ele queria mesmo é entregar os pontos e deixar claro que a mulher faz falta na vida do homem.

Essa história de dizer que já aprendeu a lavar sozinho as suas próprias cuecas e que comer miojo é melhor que qualquer lasanha feita pela ex mulher é tudo balela.

Carente o pobrezinho, lá vem ele pedir arrego, querer dormir de novo feito conchinha e coisa e tal.

Pois é, sejamos francas também nós mulheres, essa história de cuecas na gaveta nunca mais me lembra UVAS VERDES. É... aquelas mesmas da fábula de Esopo. - “Só cães as podem tragar” uma ova! Eu confesso que volto logo o meu focinho e quero de novo tragar essas uvinhas, porque quando olho meu varal todo estropiado, amarrado com uma velha echarpe e o chuveiro colado com durepox, eu percebo o quanto um marido faz falta.

Nessas horas eu abriria mão de um dos lados da cama que agora são só meus, do controle da televisão que era de uma implicância sem tamanho,  e até daria um jeitinho naquela frieira mal cuidada, no pé cansado do meu ex.

Outro dia mesmo, eu pedi à Dorinha minha amiga, que me emprestasse o João, seu marido para que ele viesse aqui em casa resolver esses pequenos problemas, que, não fossem minhas unhas compridas, eu mesma teria resolvido.

Porque você sabe, tem toda aquela história da  revolução pela igualdade feminina, a queima dos sutiãs e blábláblá.

Bastou um dia com o marido de aluguel e acabou o chuvisco da televisão, minha sala voltou a ser iluminada e as seis bocas do fogão voltaram a funcionar direitinho, cada qual com sua belíssima chama azul crepitante.

Sem contar as teias de aranha que o pobre o João tirou dos lugares mais longínquos do meu quarto porque eu me recuso a implicar com as pobres das aranhas.

E nem me custou tanto, o João me cobrou tudo em  lasanha. É claro que eu tive que fazer também uma torta de sorvete porque ele trouxe as crianças junto, e esses meninos da Dora não podem me ver que já vêm pedindo a minha famosíssima e deliciosíssima torta de sorvete (é sorvete mesmo, a dar inveja a qualquer potinho de dois litros a Kibon).

Mas vamos lá, tratar de tirar o pó que empurramos prá debaixo do tapete e confessar aqui publicamente que é muito bom ter um homem ao nosso lado, fazendo carinho, abrindo a porta do carro, mandando flores, convidando para fazer poesia na madrugada. Ah! Meninas, e aquele cafuné fora de hora, não é bem gostoso?

O que me faz mais falta é de alguém que me proteja, me defenda, mesmo que seja só de uma pequena lagartixa. Droga, agora eu mesma tenho que trocar o bujão do gás e jogar o lixo.

Tudo bem meu amigo, dou a mão à palmatória e digo que sim, essa vida descasada é uma chatice. Sempre sobra maionese no domingo e nesses dias frientos da minha linda e gelada Curitiba, sinto falta de dormir feito conchinha.

O casamento sempre foi para mim, até que a morte nos separasse. E foi assim mesmo que aconteceu, morreu o marido, restou o pai das crianças, graças a Deus, este continua bem vivo.




Nota: João e Dora estiveram presentes num momento difícil do início da separação onde nos falta o chão e aparece uma vergonha de ter fracassado. Eles me ajudaram a superar as primeiras dificuldades, por isso têm em mim uma gratidão sem fim.  Dorinha, tá na hora de fazer outra lasanha pro nosso marido, o varal tá caindo de verdade!  Para João, Dora, Jhonny e Diego o meu amor para todo o sempre!

Lili Maia
Enviado por Lili Maia em 30/05/2010
Reeditado em 30/05/2010
Código do texto: T2288495
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