MENTE E ESPÍRITO

Tenho andado muito filosófica ultimamamente. E, em meio a esses meus devaneios filosóficos, vejo-me frequentemente a pensar sobre a relação existente entre a mente e o espírito. Pensar, raciocinar, fazer cálculos e operações matemáticas, por exemplo. Essas, claro, seriam funções da mente. Mas... escrever poesias, pintar uma tela, compor uma música... seria uma função da mente ou da alma, do espírito...? Sim, porque a arte geralmente está associada à alma. Os cálculos, à mente. Correto? Vocês já ouviram a expressão “mente poética” ? Não, claro que não. O normal é se dizer “alma poética.” Bem, curiosa ao extremo que sou, lancei-me às pesquisas:

Mente é o termo é comumente utilizado para descrever as variadas funções do nosso cérebro, como o pensamento, a razão, a memória, a inteligência e a emoção e até mesmo a personalidade.

Subconsciente é o termo utilizado em Psicologia que designa aquilo que está situado abaixo do nível da consciência. Descobri que o termo “mente”, usado nos primeiros trabalhos do Mestre Freud, dava margem à ambiguidade, uma vez que poderia significar tanto algo abaixo da consciência quanto uma “segunda” consciência a coexistir com a primeira. Eu disse que estava filosófica... rsrs... então vamos lá: o fato é que, segundo o filósofo Descartes, o espírito (com seu pensamento e o intelecto) estaria para o corpo assim como a mente estaria para a alma. Sabe-se com certeza que existe uma relação entre a mente e o mundo interior de cada um de nós. Mas, como explicar inter-relações tão estreitas entre duas substâncias tão heterogêneas entre si? Sim, confesso que me intriga bastante essa intrincada relação “cérebro-mente-corpo-espirito.” Em meus estudos sobre o assunto, descobri que existe uma tendência, mesmo na Medicina, que considera que o ser humano é composto por sistemas, que interagem entre si. Com certeza, entre o físico e o imaterial existe algo mais do que aquilo que se possa ver ao microscópio.

Em nossa cultura falamos do cérebro como se ele fosse um computador. É onde se situa a razão. A arte, por sua vez, é reservada ao espírito. Mas, seriam verdadeiras essas afirmações? O adjetivo “cerebral”, quando aplicado à pintura, poesia ou música assume conotações negativas. É razão, é frieza, como se ele fosse apenas uma engrenagem. A razão é fria, desprovida de amor ou qualquer outro sentimento. Entretanto, pensem bem: não é o cérebro o órgão responsável por processar as emoções? Será que esculturas como as de Michelângelo, sinfonias como as de Bach e poesias como as de Shakespeare são apenas produtos de um simples emaranhado de células nervosas? Toda espécie de arte seria, então, apenas um mero trabalho de nossa massa encefálica? Seria de fato o cérebro a sede da razão – e apenas isso? Não, hoje se pode afirmar com certeza que isso não é verdade. Através de estudos e avanços recentes da neurociência, uma nova porta foi aberta para que se investiguem estados subjetivos. Pesquisas que vasculham o cérebro humano na tentativa de melhor compreender a arte e até mesmo outros sentimentos, como os religiosos. Cientistas de todo o mundo, interessados em compor uma “nova teoria geral do cérebro humano”, hoje fazem incríveis descobertas num terreno anteriormente percorrido apenas por filósofos e críticos culturais. Algumas das perguntas feitas por eles são: o que é a beleza? Como a extensa gama de estruturas cerebrais reage diante dela? Como nosso cérebro classifica algo de belo, feio ou neutro? Como se dá em nosso cérebro esse julgamento estético? Esse assunto é fascinante. Descobri que médicos e cientistas estão monitorando cérebros através de máquinas de ressonância magnética em busca dessas respostas, e muitas delas já foram encontradas. Picasso disse: “Seria muito interessante preservar fotograficamente as metamorfoses de uma pintura. Talvez assim se pudesse descobrir o caminho percorrido pelo cérebro para materializar um sonho”. Segundo o inglês Semir Zeki, autoridade mundial na neurologia da visão, os artistas são “neurologistas intuitivos”, que exploram e desvendam regras da percepção.

Quem pensa na arte apenas como um produto do cérebro não pode deixar de se perguntar: por que o órgão mais complexo do corpo humano é, justamente, o que nos capacita a criar poemas, romances e pinturas? Será que nossos ancestrais gastaram mesmo parte do seu tempo a inventar novas batidas de tambor e a criar novos desenhos para enfeitar as paredes de suas cavernas? Isso os ajudou realmente a sobreviver e a gravar sua passagem pelo mundo?

Felizmente descobri que a ciência caminha a passos largos para responder a muitas dessas indagações, e muitas delas já foram respondidas. Desvendando um cérebro que calcula, mas também cria. E é tão sutil quanto o espírito.

*Na medida em que for me aprofundando mais nesse assunto, irei escrevendo mais. Obrigada àqueles que compartilham comigo do mesmo interesse. Peço que me enviem comentários concordando ou discordando das idéias aqui apresentadas, que em parte são minhas e em parte fruto de pesquisas.