ALMAS DESMOTIVADAS.
 
Crônica atual.
 
É verdade que já abordamos este assunto em outras oportunidades, mas conversando com o meu amigo Israel, eu lhe prometi escrever alguma coisa a respeito dessa apatia e da baixa estima que se abateram sobre essa gente aldeã de Imaruí. Também confesso que este assunto é muito mais profundo do que aquele que sempre abordamos sobre essa gente, pois aqui estamos defronte de um problema étnico, talvez até arquetípico, pois o processo de miscigenação aqui verificado, infelizmente, desembocou numa raça dolente e apática que não alimenta nenhum espírito aventureiro ou desenvolvimentista.
Seria de bom alvitre consultar os sociólogos Florestan Fernandes, e ou, o próprio Fernando Henrique Cardoso, pois por certo, eles saberiam elucidar mais esse assunto do que eu. Também seria muito bom consultar os mitólogos e os psicólogos, pois aqui também desembocou muita influência mitológica e psicológica que foram arrastadas geneticamente pela mestiçagem.
Segundo as minhas observações, existe “n” razões e ou problemas, a serem enfocados nesta apreciação sociológica.
O caldeamento que aqui se processou naturalmente entre índios, negros e açorianos, originou com essa sopa genética os cafuzos e os mamelucos. Os negros, originários da mãe África, na verdade eram índios de cor preta, eram normalmente dolentes, pois viviam da caça e da colheita da natureza abundante. O nosso índio, de cor parda esbranquiçada (carijós), também eram caçadores e coletores, sabidamente cultivavam o bendito ócio. Os açorianos, coletores e pescadores e reclusos em ilhas, eram naturalmente apáticos pela própria natureza do seu habitat. A mestiçagem ocorrida entre essas três etnias, como não poderia ser diferente, resultou num povo (mamelucos e cafuzos), de índole dolente, apática e supersticiosa. Com estas características genotípicas, colonizaram bem a sua maneira a nossa região, em princípio a ribeirinha da lagoa de mesmo nome - Imaruí. Exclusivamente voltados para a atividade extrativa da pesca, como verificamos tratar-se de um costume hereditário.
Bom, como primeiro plano visual, nós temos que admitir que o município não foi favorecido geologicamente com um bom relevo, e isto, dificultou em muito a atividade agrícola e a agropecuária. É bom que se diga que existem algumas áreas, verdadeiros bolsões propícios à agricultura e à pecuária, entretanto, deve-se dizer que são porções pequenas de terras. E que, o manejo da pecuária e da agricultura é inexpressivo economicamente falando em termos de economia municipal. Tendo em vista essa anomalia do relevo íngreme e na sua maioria estéril ou infértil, os habitantes, principalmente os da orla ribeirinha, se direcionaram quase que exclusivamente à atividade extrativa da pesca. Uma atividade natural e que não houve o mínimo de trato com relação à preservação, na verdade, não houve uma preocupação com o sistema natural, por isso, hoje, a lagoa já apresenta sintomas claros de exaustão e, conseqüentemente, logo em seguida apresentará o indesejável fenômeno da extinção da espécie marinha.
Além das dificuldades naturais apresentadas e tendo somente como recurso natural a lagoa, esse povo miscigenado passou por um processo de castração em suas aspirações cidadãs. Explico-me: Os habitantes de Imaruí experimentaram na própria carne os efeitos deletérios de um regime coronelista ou feudal. Isso foi imposto por uma família, a dos Bittencourt, que obliterou todas as iniciativas de progresso local, tudo por uma razão muito simples: não perder o poder e o mando e a conseqüente exploração de um povo pouco instruído. Aqui, foi muito bem aplicado o exercício do ditado que diz o seguinte: “Em terra de cego, caolho se faz rei”.
Essa sombra de medievalismo obscureceu Imaruí no surgimento vigoroso do século XX nuclear, e conseguiu perdurar por mais de sessenta anos. Fato esse que, até hoje é sentido o atraso em que o município e a sua sede ficaram mergulhados, bem como ficou longe do progresso que era uma aspiração do seu povo. Com isso, a família déspota que mandava e desmandava enriqueceu, e agora, goza dos frutos auferidos desonestamente e sem escrúpulos de consciência na capital do Estado.
Muita coisa já mudou, entretanto, as administrações subseqüentes à ditadura familiar, tem-se mostrado inexpressivas e pífias. Acrescentando-se a isso, o despreparo para administrar a coisa pública. O município ainda é considerado como uma célula pedinte da nação. Por essas e muitas outras razões, o povo é considerado um batalhão de almas desmotivadas e de uma baixa estima endêmica. O progresso ronda e modifica para melhor os municípios vizinhos, mas Imaruí permanece parado no tempo e no espaço. E os políticos incapazes e desonestos, continuam ludibriando o povo com as suas promessas lendárias, enquanto isso, eles enriquecem se locupletando com as facilidades nada elogiáveis, isto é, apropriando-se sem o mínimo de escrúpulo das escassas reservas do erário público.
Em virtude dessa situação esdrúxula e aparentemente sem uma solução, o povo vive numa apatia sem precedente, tornando-se objeto de estudo de médicos, sociólogos e psicólogos. Para se ter uma idéia da baixa estima que abateu sobre esse povo, está sendo muito comentado pelos responsáveis da saúde pública o alto consumo de medicamentos psicotrópicos e, para complementar essa observação, dizem até que o campeão de vendas é o medicamento controlado conhecido por “Rivotril”.
Como não existe uma perspectiva alvissareira de vida para o “aqui e agora”, as tendências religiosas se estabeleceram em profusão, para propiciar uma terapia de apoio. E cada uma com a sua teologia tendenciosa lhes dão o consolo e o conforto espiritual, tendo em vista, a conquista das benesses que lhes serão oferecidas pelo paraíso celeste. É lógico que tudo isso é verbalizado numa dialética sem muita evidência, mas que psicologicamente funciona muito bem. Isto tudo porque no aqui e agora, não lhes ofereceram o mínimo de atenção que era devida.
Não é à-toa que os brasileiros costumam desprezar os políticos. E eles não têm vergonha.