179 -  DORMINDO E CANTANDO...
Ilustração Arlen Schiavo

Como numa dessas tardes de verão. O sol que abrasara o dia inteiro ainda refletia o brilho das pedras de minério lá na encosta da mina da Serra do Esmeril e o azul do pó de minério esvoaçante na reserva mineral da Mina de Conceição, onde espécie única de mineral denominado Blue Dust estava sendo explorado e era tão fino o pó que se atirado um punhado para o alto, pouco cairia ao chão, grande parte seria levada pelo vento.
 
No horizonte, o sol sumindo por entre as montanhas. Ainda se podiam ver seus derradeiros raios que, com tons vermelhos, banhava também o remanescente bosque que circunda o Pico do Amor.
 
O Parque do Intelecto, outrora densa mata, exibia sua vegetação natural. À esquerda da Chácara Fernando Jardim. Já à direita, estando no Pico do Amor, eram Candeias e Frutas de lobo, Assa-peixes, Canudo de Pita, Alecrim do Campo e Jacarés... Árvores de nome e de lei que eram excelente madeira para alimentar fogões à lenha... Algumas moitas de capim São João, com sua cor alaranjada vibrante e um capim meloso bem vistoso, a emoldurar o Pico como as barbas do velho Galba.
                                                                                              
Nos campos no entorno da cidade a florada dos Ipês amarelos salpicava ressaltando linda paisagem como se fossem milhares de borrões de tinta no manto verde das pastagens pintada com delicadeza e esmero.
 
Estava marcada para as 19 horas uma vesperal no Pico do Amor. Fui o primeiro a chegar ao local. O coral Vox Dei, trajando suas camisas azuis com detalhes amarelos, seria o primeiro a se apresentar nesta penúltima semana de eventos.
 
Cenário perfeito... Era mesmo uma pintura para se observar e deliciar-se com a visão de uma aquarela das muitas pintadas para ornamentar as paredes da residência da cronista minha amiga Celina Figueiredo.
 
Estávamos preparados para a última apresentação na fase de classificação, seriam classificados os primeiros corais colocados dos oito grupos para a grande final.
 
Estranho zumbido nos ouvidos fazia imaginar que seria difícil a travessia na passarela suspensa para o outro lado da floresta. Ao longo das diversas trilhas para caminhadas que foram abertas no meio da mata, placas indicavam nomes estranhos das espécies naturais do “Intelecto Forest Park”, onde se daria o encontro final dos corais, como no futebol “Soccer City Stadium”.
 
O mestre de cerimônia convidava para que nos colocássemos de pé para cantar o hino nacional brasileiro, num gesto automático, empurrei para o lado os travesseiros e almofadas.
 
De repente ouvi uma voz a gritar-me como se vinda de muito distante, como se tentasse sobrepor-se a balburdia dos torcedores e espectadores e suas cornetas e apitos. Acorda Vovô, está na hora! Vai iniciar o jogo da Seleção brasileira contra a Seleção da Holanda. Seria melhor que eu continuasse a dormir e sonhar com o troféu em berço esplendido. Nada mais que um sonho.
“Ah! a cantata e a taça na Copa da África ficaram para um novo sonho”.
  

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 11/07/2010
Reeditado em 15/10/2010
Código do texto: T2371302