ÀS VEZES SIM, OUTRAS VEZES NÃO.




 
Quando abri os olhos depois de alguns minutos, após encerrar minha meditação diária, vi-me de frente à minha imagem refletida no espelho que fica bem em frente de minha cama.
Minha aparência estava péssima, olhos fundos, cabelos em desalinho e a barba de três dias por fazer. Não gostei de mim naquele primeiro momento.
Às vezes evito o espelho e somente olho-me nele depois do banho, quando sou obrigado a fitar-me no momento de barbear-me. Outras vezes, não faço a barba e somente passo a escova sobre os cabelos que ainda restam na cabeça.
Meus filhos costumam dizer que minha cabeça é completa; de espaços vazios onde já não há cabelo.
Embora não me importe muito com isso, às vezes penso que poderia ver-me de forma diferente com a auto-estima lá em cima. É, mas o tempo é cruel e quando passa, vai deixando em nós suas marcas. Uns perdem os cabelos, alguns ganham avantajada barriga e, outros, os dois. Eu só perdi alguns cabelos, meu corpo ainda é o mesmo.
Depois de haver escanhoado a barba pacientemente, minha auto-estima aumentou, pois, neste momento, comparando-me com o primeiro olhar no espelho quando abri os olhos, meu aspecto é outro. Agora que já estou barbeado e os cabelos que restam, penteados, minha aparência melhorou.
Programo-me, para o dia que começa. São apenas seis horas da manhã, quase sempre nesta hora, já me encontro arrumado. Saio bem devagar para não acordar o filho que costuma trocar o dia pela noite.
Embora eu não faça barulho ao sair, ele não se preocupa com o barulho que faz na hora que chega. Eu aprendi bem cedo a portar-me com sensatez e respeitar os mais velhos. Já, ele, parece que não ouve o que falo ou peço.
Às vezes faço questão de acordá-lo, já que ele precisa levantar-se para ir à faculdade. Às vezes não é fácil, pois, ele ainda dorme a sono solto.
Outras vezes digo que vou jogar-lhe água no rosto para que acorde, mas nunca é preciso, pois, antes mesmo que eu fale pela segunda vez, ele levanta-se resmungando palavras inteligíveis.
Às vezes não entendo nada e quando pergunto-lhe o que fala, ele diz:
- Não é nada, não!
Acredito, afinal, se é ele mesmo quem diz, por isso, não existe razão para desacreditar.
Pego a chave do carro, olho no celular para ver as horas. Não uso relógio. São seis e meia da manhã. Saio, fecho a porta, desço as escadas e ao ligar o carro, lembro-me que esqueci os óculos em cima da mesa e quando volto para buscá-lo, ele, meu filho, já está no banho.
Ao chegar ao escritório, inicio a rotina de todos os dias. Às vezes sim, tenho coisas novas para fazer e, outras vezes, não.



25/11/09-VEM.

 
Vanderleis Maia
Enviado por Vanderleis Maia em 27/09/2010
Reeditado em 01/03/2014
Código do texto: T2522975
Classificação de conteúdo: seguro