SAMBA E CHORO NA OFICINA
 
     Chegou o domingo sem praia, de céu cinzento e temperatura amena. Como vivemos próximos ao mar, é meio frustrante ver nascer um dia assim. E eu, que não sou exceção à regra, já abri meus olhos dominicais vestida de preguiça, pronta a me esparramar no sofá e enfrentar uma maratona de filmes na tv a cabo.
 
     Mas, ledo engano. Duas amigas, anjos da guarda em minha vida, me entregaram uma intimação judicial – determinação que não pode ser desrespeitada, sob pena de desobediência ou condução pela polícia. Tinha que estar prontinha na porta de uma oficina mecânica – é isto mesmo, uma oficina mecânica – impreterivelmente a uma tarde para um encontro imperdível de samba e choro.
 
     Meio a contragosto, me arrumei devagar quase parando e fui ao encontro da minha “missão” de domingo. Lá chegando, o local estava lotado, mas, logo na entrada, ótimas surpresas. A cada passo que dava dentro daquela oficina transformada em um genuíno cenário de roda de samba e chorinho, digno dos Mestres, encontrava amigos que não via há anos. Amigos de escola, amigos de faculdade, amigos de amigos e de décadas.
 
     Logo ali, o coração ficou em festa, quentinho, animado, pronto a desfrutar uma tarde ao som de Zé da Velha e Silvério Pontes, unanimidades no mundo do choro e do samba de raiz. Dois mestres do sopro que fazem o trombone e trompete cantar choros ao ritmo do mais puro gingado, suinge da música popular brasileira.
 
     Zé da Velha, por uma década e meia esteve no grupo de Pixinguinha e, ao lado do outro mestre Paulo Moura, é rotulado como um expoente da gafieria e da arte do trombone no mundo da música popular brasileira.  Respeitado expert do choro, Zé da Velha acompanhou, ainda durante sua carreira, Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo.
 
     A dupla atua há 25 anos e é lembrada por possuir o mesmo perfil musicial dos anos 40 de Pixinguinha e Benedito Lacerda. Silvério Pontes compõe choros, maxixes, arranjos para trompete que encantam a platéia, sem dúvida alguma.
 
     Aquele domingo que começou cinza, preguiçoso entardeceu em festa, em música, em magia. Revivemos Pixinguinha, Sinhô, Cartola, Carlos Cachaça, Hermínio Belo de Carvalho ao lado de pessoas queridas, residentes de nosso coração. E também tivemos surpresas como a canja do mestre Zé Catimba e seu eterno samba “Martim Cererê”.
 
     Um fim de semana coroado por alegria e vida. Obrigada, amigas, obrigada mesmo pelo inusitado, improvisado, mas perfeito domingo.


Foto: Denise Mello - Niterói - 24/10/2010