DESEJO DA MULHER

Um poeta um dia escreveu versos que diz que ser mulher é viver mil vezes em apenas uma vida; é lutar pelas causas perdidas e sempre sair vencedora; é estar antes do ontem e depois do amanhã; é desconhecer a palavra recompensa apesar de seus atos. Ser mulher é caminhar na dúvida cheia de certezas; é correr atrás das nuvens num dia de sol; é alcançar o sol num dia de chuva. Ser mulher é chorar de alegria e muitas vezes sorrir de tristeza; é acreditar quando ninguém mais acredita; é cancelar sonhos em prol de terceiros; é esperar quando ninguém mais espera. Ser mulher é identificar um sorriso triste e uma lágrima falsa; é ser enganada e sempre dar mais uma chance; é cair no fundo do poço e emergir sem ajuda. Ser mulher é ser forte e fingir-se de frágil por causa de um carinho; ser mulher é entender as fases da lua por ter suas próprias fases!

De um ponto de vista poético e meramente imaginário, a mulher deveria ser a rainha do lar coberta de ouro e venerada sempre; deveria ser a mãe querida, que todo filho deveria acalentá-la nos dias de frio e que todo homem a acariciasse nos dias de calor intenso. A mulher sofredora, que também peca, padece muito mais do que o homem que só pensa em si próprio; estas deveriam ser endeusadas como guerreiras amazonas e compreendidas apenas como seres humanos e não como escravas ou objetos. É assim desde a epopéia de Eva e assim será até quando Deus permitir; seja no Brasil, na França, na África ou no Oriente Médio; a mulher será sempre a mais procurada para a companhia da cama e a menos desejada para as ações mais importantes da política ou da religião!

Se voltarmos bem no tempo, podemos mensurar o peso que muitas delas carregaram para que a história fosse contada deste jeito; mas não somamos em todos os dedos das mãos as mulheres de relevante destaque que conseguiram por seus nomes nos livros de história. Muitas delas foram consideradas bruxas, hereges, traidoras, mentecaptas, ordinariamente abatidas por más famas ou simplesmente, se é que se pode considerar isso como simples, queimadas vivas ou esquartejadas em praças públicas.

Atualmente a mulher precisa dar, emprestar, alugar e vender sentimentos, mas jamais deve cobrá-los. A mulher de hoje constrói inúmeros castelos de areia e fica a vê-los desmoronarem pela ação de águas rasas, ainda assim precisa amá-los como se fossem da mais sólida rocha. Ela precisa dar seu perdão, mas precisa saber que poderá jamais ser perdoada; precisa readquirir o irrecuperável e acima de qualquer coisa, a mulher precisa atingir o que ninguém mais consegue desvendar.

Não basta ser do sexo feminino para ser mulher, porque mulher de verdade, para a maioria das pessoas, inclusive para muitas mulheres, é estender a mão para quem ainda nem lhe pediu tal auxílio e doar tudo de si, mesmo que não lhe tenham solicitado. Porque ser mulher hoje é não ter vergonha de chorar por amor; é saber à hora certa do fim, e sonhar sempre com um novo reinicio; mesmo que este lhe chegue de forma ainda mais miserável do que o primeiro.

Quem nunca traiu a mulher que lance o primeiro discurso! A mulher precisa ser mãe dos seus e dos das outras, porque no caso da esposa, muitas vezes o marido vira filho e estes cobram muito mais do que fazem com suas mães, mas não recompensam suas Helenas nem com dez por cento daquilo que fazem por suas genitoras.

Houve um tempo em que mães eram desprezadas e assassinadas pelos próprios filhos em nome de um poder efêmero e inútil; houve um tempo em que mulheres eram cortejadas como deusas; paralelamente a tudo isso, nos tempos atuais, quando elas deveriam estar em mesmo nível de importância com os homens, pela sua intelectualidade e força na mão de obra, elas ainda permanecem esquecidas, humilhadas, desprezadas e usadas de forma vil, pusilânime e desleal. Exceto uma ou outra mais destacada, o papel da mulher de modo geral no mundo é procriar, criar e dar conta de ambos os recados. São fáceis alvos de pilhérias sem nenhuma graça, mas quando necessitam de sua presença, seja no campo, seja na cama, qualquer um trata de compor-lhes poemas ou recitarem versos amorosos; escapulas de estratagemas e nada mais!

Há leis que a protegem em alguns lugares, mas incrivelmente ainda enxergamos metade ignorante e a outra metade submissa da perversidade; há leis que claramente as maltratam e mais uma vez observamos que um lado as ignora, como se não existissem e a outra face sorri. – Até quando ainda estaremos neste porto solidão avistando os seres humanos do sexo feminino ser torturadas física e psicologicamente sem dizermos nada a respeito? – Será medo, complacência, submissão ou ideologia machista?

Ser mulher deveria ser nada mais do que ser humano, gente; ser mulher deveria ser a contribuição de uma parte que raramente vive sem a outra, sem desníveis, desigualdades, salvo por um ou outro detalhe corporal. Ser mulher neste mundo tão grotesco e faceto é perigoso, pois num canto do planeta elas são trocadas por camelos, em outros elas são apedrejadas, mais adiante elas são humilhadas e jogadas a própria sorte nas ruas fétidas, em alguns lugares elas nem podem mostrar o rosto, noutros cantos elas têm o hímen arrancado por caco de vidro e aqui no Brasil, que se diz civilizado e emergente, mulheres ainda crianças são vendidas no Norte e Nordeste em troca de pães para os pais e para saciarem a sede de sexo criminoso de muitos déspotas. Esta é a sorte de parte das mulheres do planeta!

Até quando teremos que lembrar apenas de um punhado delas que tiveram a sorte da fuga da desgraça? No Nordeste, quando a seca aperta, homens saem em caravanas até as grandes cidades para tentarem a vida e deixam para trás elas, as mães sem sorte, que precisam administrar o barraco, a sede, a fome, o analfabetismo, os filhos e suas próprias vidas. Mesmo quando conseguem um trabalho nas frentes anti miséria, os homens raramente voltam para resgatarem a decoro delas, se é que se pode chamar isso de decoro. Saibam os senhores e senhoras que se afirmam apaixonados pelas mulheres que em muitos lugares da terra elas têm que caçar e dar para os homens, enquanto para elas, se sobrar algo, que dêem Graças a Deus.

Há uma Lei no Brasil que se chama Maria da Penha; em tese deveria proteger as mulheres vítimas da violência e punir seus algozes, mas alguém em sã consciência saberia dizer aonde ele é posta em prática? Se não fossem os casos em que a televisão precisa divulgar por causa da audiência, raramente veríamos qualquer silhueta desta lei que garante resguardar as mulheres de ferezas masculinas.

A história não se cansa de contar que o homem se aproveitou da mulher em vários tomos épicos, deixando-a de lado das decisões e quando da participação de batalhas importantes. Até pouco tempo elas não podiam sequer visitar templos religiosos na maior parte do mundo e mesmo no cristianismo, podem cuidar de tudo, menos das coisas mais importantes. Claramente se traduz que ela é usada apenas quando é conveniente e quando o homem já não pode mais sustentar a gravidade de uma carga; traduzindo: - será mesmo que elas são do sexo frágil?

Etimologicamente ser mulher hoje é quase a mesma coisa do “ser mulher” de antes; ainda se imagina que elas têm uma costela a mais; fisicamente nada mudou; em geral são elas que parem e criam os filhos; são elas que cuidam das casas; são as únicas que ovulam e menstruam; são as que fazem os trabalhos mais insalubres e as que ganham menos; são as menos valorizadas na política e na religião; são verdadeiras máquinas de dar prazer; é o grupo que mais sofre violência e descriminação pública e psicologicamente são as mulheres que se doam sem receberem nada em troca, literalmente nada!

O Brasil elegeu a primeira mulher presidente, seguindo o caminho do Chile, Argentina, Índia, Alemanha e alguns outros; é também bom lembrar que grandes nações que se dizem altamente democráticas, como os Estados Unidos da América, conseguiram eleger mitos, como Barack Obama, mas que jamais uma mulher. – Falta de opção? – Não! Superstição mesmo!

Para os que ignoram o real valor da mulher, fazendo crescer a onda de machismo inútil e desusado; não precisa colocar valor no trabalho e na importância delas, basta respeitá-las como seres humanos e como partes fundamentais na fundação de todas as sociedades. Pessoas que mandam apedrejar, matar; pessoas que humilham, ignoram ou maltratam as mulheres, precisam lembrar que foram gerados por mulheres e que por mais que se tente, não conseguem perpetuar novas gerações sem elas.

Continuar enxergando a mulher como fraca e improfícua é alem de um erro histórico é uma atrocidade para com as pessoas mais amáveis e mais compreensíveis da nossa sociedade. Não deveria haver leis que protegessem este ou aquele grupo de pessoas, porque todos; pertencemos à mesma raça, a raça humana e as mulheres não são e não será exceção jamais!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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Enviado por CHaMP Brasil em 15/11/2010
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