AONDE VENDE COCAÍNA?

Finalmente, parabéns! O ajuntamento de interesses entre a União, o Estado do Rio de Janeiro, o Poder Judiciário e o povo, contra o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, pode ter gerado o mais importante marco da história da justiça social no Brasil. Nunca antes se viu uma força tão competente unida em torno de uma problemática tão séria que vitimou milhares de pessoas em três décadas de medo, terror e pânico.

No início dos conflitos, quando ainda a polícia, isoladamente pensava em invadir a Vila Cruzeiro, no subúrbio carioca; eu publiquei um artigo que, por menos poético que tenha sido, traduziu naquele momento o real problema que o cidadão do Rio de Janeiro estava vivendo. O Poder público através de meia dúzia de obstinados cidadãos tentou em vão durante décadas, resolverem o grave problema do tráfico de drogas e armas naquele Estado com idéias, apenas idéias!

Eu já havia citado, inclusive muito antes deste acontecimento, que se o Poder Judiciário e o Poder Executivo, não adotassem medidas extraordinárias para frearem o comércio de drogas no Rio, isso jamais terminaria. Juízes, Promotores, advogados, governadores e policiais inermes e desmoralizados, além do povo passivo, ajudaram a fazer do crime uma mola propulsora rotulada como controlada no Rio de Janeiro, muitas vezes até existida como necessária, para o bem de muitas comunidades.

As favelas cariocas surgiram como uma forma compensadora de animar a ex-capital federal; milhares de pessoas expurgadas do Norte, Nordeste e de Brasília, recém construída, adotaram a bela paisagem fluminense como sendo o paraíso brasileiro e o resultado foi calamitoso, pois sem muito espaço nas áreas nobres, restaram os morros, penhascos e selvas próximas as áreas urbanas do glamoroso Rio de Janeiro. O governo que jamais enxergou os pobres como parte da sociedade, tratou de deixar estas novas glebas a mercê da própria sorte; desta forma é que o crime, facilitado pelo difícil acesso, foi crescendo até chegar à proporção gigante como hoje.

No início eram os pequenos roubos e alguns furtos, praticados nas zonas mais ricas e movimentadas; depois vieram os roubos a carros fortes e depois da década de 70, quando os bandidos se aliaram aos guerrilheiros políticos, os morros foram transformados em fortalezas instransponíveis; e mesmo quando alguém da Justiça expedia algum mandado de prisão, isoladamente havia uma busca apenas por aquele indiciado; milhares de outros viviam livres e sorridentes, transitando pelos becos e vielas dos morros, mostrando a comunidade que sem eles e o tráfico, aqueles lugares seriam varridos pelo Poder Público. Sem sinal da administração pública e com a presença maciça do crime fortemente armado, a população gerou uma subserviência aos criminosos, porque precisavam sobreviver. Moradores das favelas chegaram a considerar os traficantes como uma espécie de Robin Wood, mas a sensação sempre foi mera ilusão.

O que se viu em seguida foi à consolidação do crime nas áreas mais esquecidas pelo Governo e todas as tentativas de amenização da onda de delinqüências nestes locais, ou esbarrava no medo da justiça, ou freava na conivência da polícia ou findava na parcimônia da política que sempre quis os votos daquela gente. Os morros e favelas cariocas se transformaram em territórios sem lei, onde a Lei fazia questão de se manter afastada, escondida nos palácios de justiça fortemente guarnecidos ou nas mansões dos magistrados em São Conrado ou na Zona Sul.

Era tudo que o tráfico sempre quis; traficante virou juiz, delegado, sacristão e soldado de polícia. O tráfico do Rio de Janeiro, no auge da cocaína, movimentou mais dinheiro do que a indústria naval naquele estado e gerou mais lucro aos traficantes do que muitos banqueiros tiveram no mesmo período. Analistas da polícia acreditavam que mais de 20 toneladas de cocaína chegava todos os anos ao Rio de Janeiro; maior parte desta droga sempre veio da Colômbia e a outra parte do Paraguai, Peru e Bolívia.

O tráfico precisou de reforço em suas operações, pois a ameaça não vinha da polícia ou do Estado de modo geral; a iminência de derrocada de alguns pontos fortes de comércio de drogas vinha da concorrência; eu acredito que sem este fator, o da afluência dos próprios traficantes, o Rio de Janeiro estaria até hoje vivendo momentos gloriosos no tráfico de armas e drogas.

Durante anos as poucas tentativas de coibir o grande fluxo de drogas no Rio de Janeiro sempre foram setoriais; a polícia judiciária e a militar até faziam algumas poucas operações; a justiça também desempenhou seu papel, mas de forma tímida e o Legislativo, sem querer, depois da Constituinte de 1988, abrandou as penas e as regras processuais penais. Mesmo após algumas intervenções no Código Penal, pouco se observou no campo da evolução. Quando por algum milagre uma pessoa era presa por tráfico, ou fugia ou recebia indultos vergonhosos e jamais retornavam ao cárcere.

Mitos se formaram no território impenetrável do tráfico a exemplo de José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha; que tive a oportunidade de conhecer; e mais recente Fernandinho Beira Mar, o homem que conectou de vez o tráfico do Rio com os cartéis mais violentos da Colômbia. Se havia flagradamente uma guerra entre o Estado, os traficantes e os rivais dos traficantes, necessitava de um arsenal bélico para se concretizar o pânico e a subserviência popular; as fronteiras vulneráveis do Brasil facilitavam a entrada dos dois elementos primordiais destes criminosos: drogas e armas e o Estado jogava de vez a toalha e praticamente ensinou o povo a conviver com este abismo. De um lado os “normais”, que no jargão do crime, vivem no asfalto; do outro lado os criminosos e os favelados, como se o Rio de Janeiro tivesse uma linha clara dividindo a cidade em duas e homologando as áreas de risco como o Complexo do Alemão, Vila da Penha, Morro da Mangueira, Dona Marta, Vila Cruzeiro e Cidade de Deus. Estes lugares sempre tiveram leis próprias e uma espécie de donatários.

Ninguém mais acreditava que um dia o Estado fosse intervir com tanto rigor como nos episódios recentes; o povo estava desacreditado e não podia dizer nada, porque morreriam; mas os criminosos desafiaram o poder do Estado e mandaram atear fogo em quantos carros seus agentes pudessem. Diz a inteligência da polícia que tais ordens partiram de dentro de presídios onde permanecem os ditos chefões do tráfico brasileiro.

Surpreendentemente o Governador Sérgio Cabral; num ato plenamente sano e inteligente, foi buscar ajuda Federal com Lula para agregar mais força no combate ao crime e o resultado foi surpreendente até mesmo para a polícia carioca; mais de 60 fuzis, 80 granadas antitanque; 200 outras armas como pistolas e revolveres; 200 quilos de cocaína; 4 mil quilos de maconha; 80 quilos de crack; mais de 300 veículos entre carros e motos roubadas e cerca de 300 pessoas detidas entre procurados da justiça e suspeitos. Tudo isso somente foi possível, porque finalmente a Justiça e o Executivo se libertaram de alguns preceitos simplórios e a imprensa com o povo apoiou.

O que se viu nas ruas de alguns bairros cariocas foi um verdadeiro desfile bélico que agiu ordenadamente e conseguiu minar o território dominado pelas drogas. Exército, Marinha, as polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar, Civil e até o corpo de bombeiros transformaram parte da Cidade Maravilhosa numa ponta de esperança no êxito do apelido carinhoso que ela tem. Milhares de homens fortemente armados tomaram de assalto os principais focos do comércio de drogas do Rio apenas por que o Governo Estadual e Federal esqueceram os dogmas da velha politicagem imunda que sempre protegeu este tipo de crime disfarçadamente.

Podem dizer que tudo que está acontecendo agora é por causa da Copa do Mundo de 2014 e que seja; qualquer que fosse o pretexto seria louvável para que o Brasil desse um ponto final em algumas questões de imagem internacional e se isso for pouco, que seja pelo resgate da dignidade desta gente sofrida que vive nestas zonas de guerra eterna!

Pela primeira vez em anos que eu acompanho todo este embaraço legal de tentativa de coadura ao tráfico de drogas, notei pessoas das comunidades afetadas falando para as equipes de reportagens sem distorção nas vozes ou sem que estivessem com as faces encobertas pelo sigilo. Pela primeira vez também houve uma comoção generalizada com milhares de denúncias anônimas entregando os locais onde os traficantes estavam escondidos; ou onde eles estocavam armas e drogas. Isso é raro na história do Rio de Janeiro!

Está tudo indo muito bem; nada foi feito com o furor da emoção; ao que parece o Estado planejou, mesmo que em tempo curto, todas as invasões e calculou todos os riscos. Por enquanto as baixas são mínimas e do lado da população, ao que parecem, os incidentes maiores foram ferimentos de pessoas que estiveram por infortúnio no meio do fogo cruzado entre bandidos e policiais. O Governo declara que as forças armadas ficarão nas ruas do Alemão até meados do ano que vem, quando serão implantadas as Unidades de Polícia Pacificadora nos dois locais mais afetados. Os tanques blindados da Marinha e do Exército permanecem de prontidão para outros eventuais assaltos a locais críticos e as polícias estaduais se comportam como guerreiras.

Ainda falta uma ação mais enérgica entre a Diplomacia do Brasil e dos países que fazem fronteira conosco. O Chanceler Celso Amorim já deveria ter elaborado um plano, juntamente com o Ministério da Justiça, para intensificar a fiscalização em locais como Foz do Iguaçu, que no meu ponto de vista é um grande elefante branco que come caviar e dorme em lençóis de seda chinesa. Faz-se necessário, com urgência, dotar de tecnologia e aumentando o contingente da Polícia Rodoviária Federal, para que estes também se engajem, ainda mais, no combate ao crime nas estradas e treinar e exigir rigor nos aeroportos, todos os aeroportos brasileiros.

Devemos lembrar que outros focos disfarçados fazem abastecimento de drogas ao Rio de Janeiro a exemplo do Ceará que é rota constante da Europa; São Paulo que é o maior centro distribuidor de tudo que é bom e tudo que não presta, inclusive armas; Paraná que vive um caos por causa da fronteira com o Paraguai e os Estados do Norte e Centro Oeste, que estão renegados ao esquecimento das autoridades enquanto os países vizinhos incentivam praticamente a produção de cocaína.

O polígono da maconha na região do São Francisco entre Pernambuco e os demais Estados que fazem fronteira (quase todos do Nordeste). Esta área de mais de 75 mil quilômetros quadrados, maior do que muitas das grandes cidades brasileiras; produz há décadas uma quantidade absurda de maconha irrigada pelas águas que não chegam aos ribeirinhos que morrem de fome, também abastece o Brasil e parte do mundo e pouco se faz com relação a ela.

Já passamos da hora de criamos uma lei de Tolerância Zero para que pequenos e grandes criminosos paguem caro por seus delitos. É confortável ser criminoso hoje no Brasil, pois se estiver solto, goza-se de uma vida normal e se estiver preso, gozará do Poder dos presídios e a família até recebe um auxílio em dinheiro pela ausência do membro em cárcere. Presídios e seus agentes também deveriam sofrer severas intervenções federais!

Custa-se dinheiro executar um planejamento de inibição ao tráfico? Sim, custa muito dinheiro e ninguém espera que isso ocorra de forma gratuita! Mas o que se espera com este investimento é que milhares de jovens adolescentes descubram a tempo que trabalhar é muito melhor do que traficar; o povo espera que após uma séria intervenção do Estado as ruas das cidades maravilhosas do Brasil vivam com menos ou sem nenhuma droga ou fiquem mais seguras.

Se Paraguai, Bolívia, Peru e Colômbia produzem drogas e incentivam o tráfico de armas, que o façam com seus povos, porque daqui, quem desejar comprar ou consumir, que saiam do Brasil e vão para estes países, assumindo é claro, as conseqüências por seus atos e não esperando que a intervenção da Diplomacia brasileira possa libertá-los. Sem choro e nem vela e sem a poesia moderna, traficante bom é aquele que não existe mais.

Meu conselho é: - Denunciem! Liguem para a polícia e digam onde estão os traficantes, as armas e as drogas. Vamos aproveitar este momento para tentarmos passar o Brasil a limpo. Talvez nós não colhamos os frutos desta semeadura, mas se tudo der razoável, pelo menos, nossos filhos e netos colherão no futuro dias melhores; pelo menos melhores do que os nossos!

Parabéns Governador Sérgio Cabral e parabéns ao Presidente Lula!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 30/11/2010
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