Direito nas escolas

A impressão que tive do ensino primário e secundário foi de que estavam me ensinando algo vazio. Sabia desde cedo de que lá fora valia o dinheiro e era preciso trocar o conhecimento pelo trabalho de alguma maneira. Isso não mudou em nada. Hoje minha preocupação é com aqueles que estão longe da regra, marginais dessa composição certinha, muitas vezes discriminados pela própria educação. Quero dizer que a educação discrimina, joga no lixo valores, julgando-os inadequados.

Muita gente não possui pendores para informática. Mesmo tendo nascido dentro do computador. Muita gente não apresenta pendores para jogar xadrez se o xadrez cair nessa de obrigatório. Aliás, a única coisa sábia que conheço é o milenar jogo de xadrez. Ele nos ensina um momento terapeutico apropriado para vencer ou perder. Partindo deste ponto o trabalho do professor seria estimular as aptidões naturais, nunca criar linhas rígidas para destituir a razão de princípios. O próprio xadrez se opõe a mentalidade dos jogos, da sorte, dos mitos. Isso apenas degringola no tão aceitável mundo afunilado. Mundo de privilegiados. Os que chegaram ao topo pisando na cabeça da grande maioria. Fórmula colonial vigente até hoje com “enens” e “vestibulares”.

A educação para o trânsito nas escolas é outra ridicularia burocrática. As regras de trânsito são filhas do “adestramento”, mecânicas como o Detran. Válidas porque a sorte libera gordos valores aos vigilantes dessa mecânica. É fácil reprovar alguém nesse atual jogo de varetas das balizas com ar de grande seriedade. O exame de visão é grosseiro, o psicotécnico é a síntese ultrapassada de um Pavlov idiota. E Pavlov não foi idiota. Acaso os números de acidentes com mortes mudaram com essa mentalidade? Desde quando ritualizar subjetividade é educação? Educação é algo mais humano do que a educação de trânsito propõe com suas grandes cartilhas de regras. Terminado o suplícito todos os livros vão para os arquivos do esquecimento. A velocidade é violenta e admirada no circo das grandes corridas de carro. São os exemplos romanos do grande heroísmo das estradas aos jovens sedentos de adrenalina. Prontos para chegar. Vencer o próximo é a essência.

Deviam ensinar direito nas escolas. Mas isto está longe das cogitações. Deviam formar mini advogados desde cedo. Deviam lhes ensinar a comprar imóvel de acordo com as regras básicas de mercado. Deviam lhes ensinar a compreender as regras fundamentais sobre linhas de sucessão em caso de morte. Deviam lhes ensinar tudo o que fica ligado as mãos de gente especializada. Deviam lhes ensinar humor, música popular histórica, poesia, oratória e literatura. Mas querem ensinar aos alunos regras e mais regras para o grande desejo de consumo: o carro. O carro sobre o trânsito. Facilitando carro aos meninos ricos e sejam eles pobres. Sejam eles incendiadores de índios mendigos ou confusamente doentes de complexos de inferiroidade. Deviam ensinar direito e lhes possibilitar com subvenção do estado o alcance a terapia psicanalítica de verdade. Isso seria um caminho direito. Como não ser roubado direitinho é outra história que ninguém quer contar aos meninos.Quando eu chegar a presidência todas as escolas serão uma escola de direito.

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