Princípe dos Malditos...

"A vida humilde, cheia de trabalhos fáceis e aborrecidos, é uma obra de eleição que exige muito amor. "Paul Verlaine

Paul Marie Verlaine nasceu em 30 de Março de 1844 e faleceu em 8 de Janeiro de 1896. Verlaine é considerado um dos maiores e mais populares poetas franceses.

Já no final do século 19, os críticos incluíram Verlaine entre os chamados "poetas malditos", como Arthur Rimbaud. A expressão, aliás, é do próprio Verlaine, eleito em 1894 o "Príncipe dos Poetas", ao final de uma vida desregrada por Paris, Rethel, Bruxelas e Londres.

Verlaine teve uma infância feliz em Ardennes no norte da França, apesar de ter um pai autoritário e uma mãe superprotetora. Em agosto de 1862, Verlaine completou os estudos secundários em Paris, onde seus pais se instalaram em 1851, e foi morar com a família materna no norte da França. Ali, entre a paisagem melancólica que correspondia a seu estado depressivo e os livros de Baudelaire, apaixonou-se pela prima Elisa Moncomble. O amor impossível o levou a beber em demasia.

A vida particular de Verlaine invadiu seu trabalho, começando pelo seu amor por Mathilde Mauté. Mauté tornou-se sua esposa em 1870. Na proclamação da Terceira República no mesmo ano, Verlaine juntou-se ao 160º batalhão da Guarda nacional, e tornou-se Communard em 18 de março de 1871. Ele veio a ser chefe do escritório de imprensa do Comitê Central da Comuna de Paris. Verlaine escapou das mortais lutas de rua conhecidas como Semana Sangrenta, ou Semaine Sanglante, e foi esconder-se no Pas-de-Calais.

Verlaine ao lado de Rimbauld protagonizaram um dos mais falados casos de amor da época.

Em 11 de agosto de 1870, o poeta se casou com Mathilde Mauté de Fleurville, que não tinha mais do que dezesseis anos, numa tentativa de acomodar-se a uma vida familiar, simples e tranqüila. Escreveu "A Boa Canção" inspirado na esposa. Mas em setembro de 1871, o jovem que o fascinava, Arthur Rimbaud lhe escreveu e dias mais tarde, chegou a Paris. Os dois se tornaram amantes. Em fevereiro de 1872, Mathilde pediu a separação. Para acalmar a esposa ultrajada, o poeta afastou Rimbaud. Mas o adolescente foi mais persuasivo e eles pegaram a estrada para Bruxelas. Depois seguiram para Londres.

A Angústia _Paul Verlaine

Nada em ti me comove, Natureza, nem

Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,

Nem pastorais do Sul, com o seu eco tão rubro,

A solene dolência dos poentes, além.

Eu rio-me da Arte, do Homem, das canções,

Da poesia, dos templos e das espirais

Lançadas para o céu vazio plas catedrais.

Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.

Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer

Pensamento, e nem posso ouvir sequer falar

Dessa velha ironia a que chamam Amor.

Já farta de existir, com medo de morrer,

Como um brigue perdido entre as ondas do mar,

A minha alma persegue um naufrágio maior.

#Paul Verlaine, in "Melancolia" _Tradução de Fernando Pinto do Amaral

Vida Amorosa conturbada com Rimbaud

Depois de várias rupturas e reconciliações, em 1873, Verlaine deu um tiro de pistola em Rimbaud, em Bruxelas.

O poeta foi preso e condenado, passando dois anos na prisão. Em 1874 "Romances sem Palavras" foi lançado. Verlaine, em seu cárcere de Mons, compôs poemas místicos, marcas de arrependimento, que foram publicados posteriormente em "Sabedoria" (1881) e "Outrora e recentemente" (1884), mas também poemas eróticos, como em "Parallèlement" (1889).

Ao sair da prisão em 1875, Verlaine foi para a Inglaterra, onde deu aulas durante dois anos. Em 1880 fixou-se em uma fazenda perto de Rethel, com seu novo amante Lucien Létinois, um ex-aluno da instituição em que Verlaine ensinou durante dois anos e de onde eles foram expulsos por causa de sua "amizade particular". Mais uma vez o amor se rompeu e o poeta naufragou no álcool. No ano seguinte, Verlaine voltou a viver com sua mãe em Paris, onde morreu aos 52 anos.

O Meu Sonho Habitual

Tenho às vezes um sonho estranho e penetrante

Com uma desconhecida, que amo e que me ama

E que, de cada vez, nunca é bem a mesma

Nem é bem qualquer outra, e me ama e compreende.

Porque me entende, e o meu coração, transparente

Só pra ela, ah!, deixa de ser um problema

Só pra ela, e os suores da minha testa pálida,

Só ela, quando chora, sabe refrescá-los.

Será morena, loira ou ruiva? — Ainda ignoro.

O seu nome? Recordo que é suave e sonoro

Como esses dos amantes que a vida exilou.

O olhar é semelhante ao olhar das estátuas

E quanto à voz, distante e calma e grave, guarda

Inflexões de outras vozes que o tempo calou.

#Paul Verlaine, in "Melancolia" Tradução de Fernando Pinto do Amaral

Estilo

Muito da poesia francesa produzida durante o fin de siècle (fim do século - movimento cultural francês que aconteceu entre 1880 e o começo da Primeira Guerra Mundial), que foi caracterizado como "decadente" por seu conteúdo chocante ou visão moral. Em uma veia parecida, Verlaine usou a expressão poète maudit("poeta maldito") em 1884 para se referir a um número de poetas como Stéphane Mallarmé e Arthur Rimbaud que haviam lutado contra convenções poéticas e reprimendas sociais sofridas ou foram ignorados pelos críticos

Obra poética de Paul Verlaine por Paul Verlaine. Laffont, 1992.

- Verlaine ou nas planícies do sublime Christine Dauphin. 2006.