O assalto

Quanto maior o sentimento de culpa menor a possibilidade de cometer um delito. O psicopata não sente nenhuma culpa, não antecipa os efeitos dos seus atos. Reincide com frieza. Quanto mais culpa melhor. Jesus disse aos apóstolos, quando perguntado sobre o que fazer com o mal, no episódio da separação do trigo do joio, que deixassem o joio crescer, para que só então o mal pudesse ser arrancado pela raiz. Mas no psicopata o mal não cresce, permanece sempre em estado de latência. Pronto a atuar. A raiz do joio nunca afunda na terra estéril da consciência para dela ser arrancada.

Nietzsche, em sua discussão sobre a ética compassiva, nos fala da raiva que sentimos de quem possa estar em situação de inferioridade. Damos a esmola com raiva. Preferindo que aquela miséria não existisse, mas ela existe. Então somos capazes do crime passional, de estuprar mesmo um homem na hora do assalto.

Doutor eu vim aqui porque vou casar daqui a três meses.

Mas aqui é um pronto socorro. Não fazemos aconselhamento pré-conjugal.

Eu sei, doutor, mas é que fui assaltado.

Precisa de dinheiro para ir para casa?

Não é só isso, doutor, os dois assaltantes abusaram de mim. Enquanto um ficava com o revólver na minha cabeça o outro me cobria.

Rapaz, você vai precisar usar medicamento contra AIDS por três meses. Assim poderá evitar a doença caso tenha sido contaminado.

O senhor vai me dar o remédio?

Não, vai ter que buscar no posto de saúde mais próximo da sua casa na segunda-feira. Vai precisar também da aplicação de vacina contra Hepatite B, que também é sexualmente transmissível. Essa é a conduta em caso de estupro.

E o dinheiro?

Toma.

Obrigado, doutor.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 19/02/2011
Reeditado em 15/08/2011
Código do texto: T2801176
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