Impurezas

Algumas frases nos marcam para sempre. Duas vindas da França me ajudaram a tomar rumos. A primeira é apócrifa: Na medicina como no amor nem jamais nem sempre; a segunda é do fisiologista Claude Bernard, cuja influência sobre todos os médicos do mundo, ao menos no século XX, sempre foi marcante, dizia ele: Quem não sabe o que procura não entende o que encontra.
A primeira me ajudou a refazer diagnósticos e ter um pragmatismo adequado a essa ciência inexata que é a medicina e a esse sentimento flutuante que é o amor. Fez-me ver a impureza das inconveniências, dos comportamentos inadequados, etcetera, isto é, fez-me ver a aura de impurezas que determinam a inconveniência, e existindo essa aura, fez-me ver que a existência de impurezas impede que se diga que um sujeito é mau caráter, ou que agiu de má fé. Porque somente o mal puro determina o caráter negativo, ainda assim, se houver o sentimento de culpa esse mal pode terminar em redenção.
Quem não sabe o que procura não entende o que encontra, foi uma frase tão importante em minha vida, que quis compartilhar com você. Determinei o que queria da vida e o que quis, em certa medida consegui: 1) realização profissional; 2) realização financeira, porque fazer o que gostamos mal remunerado é aviltante; 3) realização cultural; 4) realização social; 5) realização emocional.
Foi nessa ordem que dispus as coisas, como se fossem as cinco pernas de um caranguejo capenga. Numa hora posso dar atenção maior a uma dessas pernas, numa hora a outra. Coloquei a realização emocional em último lugar não porque tenha menor importância, mas porque nunca dependeu só de mim, e embora nunca tenha me realizado emocionalmente quando só ao menos não peso a ninguém.
São nas impurezas que estão toda a possibilidade de compreensão do outro. Ao ouvir as impurezas que pude ajudar ao potencial suicida, ao ouvir minhas impurezas que me tornei mais humano.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 23/02/2011
Reeditado em 15/08/2011
Código do texto: T2810259