VISTO AMERICANO FÁCIL

De todos os artigos que eu já publiquei, sem a menor sombra de dúvida, os que mais me oferece retorno em e-mails são os que tratam da questão de visto americano. A primeira vez que abordei o tema de forma pública foi em 1988 depois que fui conhecer a dura e triste realidade nas cidades de El Paso no Texas e Ciudad Juarez no México; e tudo começou a ficar nebuloso ainda aqui no Brasil, quando dezenas de pessoas voltaram do Consulado dos Estados Unidos da América tristes por não poderem viajar pra lá, porque seus vistos foram negados!

Esta semana, depois do advento da visita do Presidente Obama ao Brasil, ouviu-se a promessa de que os laços serão mais estreitos entre o Brasil e os EUA em pouco tempo; isso inclui o aumento de vôos comerciais entre os dois países e uma reavaliação por parte dos mecanismos de controle migratório deles para facilitar a entrada de mais brasileiros em solo americano; paralelamente a isso tudo, mais dezenas de e-mails chegaram a minha caixa de mensagens me pedindo para reavaliar a situação e escrever mais um artigo.

Não há muito que escrever! Quase nada mudou e dificilmente as porteiras das alfândegas americanas serão escancaradas ao público brasileiro, pelo menos como idealizam os ingênuos que ouviram as declarações do Presidente Obama. Os Estados Unidos da América serão por muito tempo uma mega potência controladora e alvo; simultaneamente os dois; portanto, um dos critérios para se manter a ordem e a elevação econômica, também é o controle rígido de imigração!

Na época em que eu estive pela primeira vez na região mais crítica da vulnerável fronteira americana com o México o número de brasileiros querendo entrar pela porta dos fundos, ou seja, ilegal; com certeza era muito maior do que hoje. Esta diminuição considerável se deu por dois fatores importantes: o fortalecimento da economia interna e mais rigor dos policiais de fronteira. Há quem afirme que existem até grupos de milicianos estadunidenses, fortemente armados, moradores da fronteira crítica; que perseguem e matam aqueles que tentam cruzá-la sem estar devidamente legalizados.

Antes de voltar a falar diretamente sobre o visto americano é preciso que muitos entendam como tudo funciona, para que possam avaliar melhor na hora em que decidirem se viajam ou não e o mais importante, se vão ou não para os Estados Unidos da América.

O brasileiro que desejar viajar para a Europa, como mero exemplo a Espanha, basta seguir alguns critérios simples; basicamente os mesmos impostos pela Lei estadunidense, mas sem a exigência formal do visto. Em solo, depois que o avião pousa, todos os brasileiros precisam se submeter ao controle migratório e aduana, mas embarcam aqui tranquilamente, portando apenas o passaporte válido, comprovante de vacinas e outras pequenas exigências para o turista. Europeus e outros povos exigem que nós tenhamos de posse de no mínimo provar a condição de turista, ou seja, dinheiro ou bons cartões de crédito.

Já o turista brasileiro que viajar para o Chile ou Uruguai, raramente irão lhe pedir para provar que possui dinheiro ou condição de se manter durante o período declarado. Ele entra no avião com a sua carteira de identidade e em tese, basta isso para descer e se virar.

Nos Estados Unidos da América é tudo diferente; primeiro que sem visto você nem entra no avião! Quem vai viajar para os EUA precisa reunir documentos verdadeiros e originais; dinheiro; tempo e paciência...

Dependendo do lugar onde o turista more poderá gastar mais de R$ 2 mil Reais entre deslocamento e taxas; é preciso marcar um agendamento de entrevista pela internet, que é feito através do site da Embaixada dos EUA; pagar pelo agendamento; depois pagar a taxa do visto; fazer a entrevista em um dos poucos locais disponíveis, tendo que muitas vezes esperar meses, dependendo da época pretendida; e torcer para ser admitido na condição de visitante pretendida.

Muitos pensam que depois disso tudo acabou, caso o viajante seja aceito e tenha obtido seu tão sonhado visto; mas nem tudo são flores! De posse do visto o visitante precisa ainda passar pelo crivo severo da imigração em solo que checará informações e documentos e caso deseje, pode mandar para casa no próximo avião aquele que não convencer as autoridades do lado de lá. É assim mesmo e isso também já ocorreu aqui no Brasil! Estadunidenses precisam de visto para entrar aqui e muitas vezes a Polícia Federal manda pra casa alguns americanos que não provam suas declarações de visitante, portanto, a questão é bi-lateral e válida; porque nenhum país é obrigado a admitir quem quer que seja em seu território, mesmo se estão portando um visto!

Saber como é que se desenvolve o pedido de um visto, isso a maioria já sabe; quem ainda está desinformado, basta acessar a página da Embaixada dos EUA para ler e entender tudo que eles pretendem de nós brasileiros quando desejamos solicitar a autorização de viagem e quando chegamos aos seus aeroportos para entrar oficialmente. Mas para mais uma vez discernir alguns dos motivos que fazem com que eles neguem seu visto, isso veremos em seguida.

Eu já ouvi muitas histórias absurdas na internet e em bocas de falsários; uma delas é que existe um esquema de venda de vistos nos consulados americanos. Que é mentira todos sabemos, mas vamos analisar este absurdo por outro prisma: um coiote cobra até 30 mil dólares para passar alguém pela fronteira. Os coiotes, como todos sabem, são aquelas pessoas que vivem praticando o crime pesado do tráfico de gente e drogas, do México para os Estados Unidos, e que muitos brasileiros conhecem bem. Se eles cobram cerca de 30 mil dólares para passarem ilegais, quanto então custaria um visto nesta modalidade de “esquema”?

Outro mito que se lê muito é que os negros são discriminados nos consulados americanos. Isso é completamente absurdo, porque há funcionários negros nos consulados americanos do mundo inteiro; também porque os EUA são uma nação também de negros; portanto, se você é negro e possuir todos os requisitos exigidos por eles, será tratado como eu e como qualquer pessoa que já tenha passado por todas as etapas do visto com sucesso.

Mas então o que faz os cônsules negarem tantos vistos aos brasileiros?

O principal agente para ter um visto recusado é a inépcia de evidenciar uma conexão satisfatoriamente forte com o Brasil, o que, para o governo estadunidense, é quase unívoco de que o suplicante ambiciona imigrar para lá.

Mas há outros obstáculos para a aquisição do visto. São normalmente barrados os portadores de doenças infecto-contagiosas, além de pessoas que tenham sido condenadas na Justiça brasileira, que tenham sido deportadas dos Estados Unidos e que tenham feito ou que façam parte de grupos considerados terroristas por aquele país. Por mais subjetivos que sejam, porque são difíceis de provar, eles podem barrar estas pessoas sob alguma destas alegações e ponto final!

O visto americano pode ser negado por dois motivos básicos. O primeiro deles, identificado na carta de recusa como Seção 221(g) da Lei de Imigração dos EUA, significa que o requerimento foi considerado incompleto. Ou seja, novos documentos devem ser apresentados. A carta traz alguns programas que devem ser seguidos pelo solicitante e é importante que todos leiam a versão em língua portuguesa, para não dar mancada. Se elas forem obedecidas no prazo de um ano, não será necessário pagar a taxa de US$ 131,00 novamente.

Mas, se o motivo da recusa for identificado como Seção 214(b) da Lei de Imigração, significa que o solicitante não conseguiu provar que voltará ao país ao final do período concedido pelo visto. Neste caso, o consulado recomenda que o solicitante espere pelo menos um ano antes de voltar a requerer o visto. Na ocasião, será necessário pagar novamente a taxa de US$ 131,00.

Se o seu problema estiver inserido na Seção 214 (b) quer dizer claramente que sua prova de possuir laços aqui no Brasil é menor do que a retórica subjetiva de migrar para lá; em tese quem tem aplicado no passaporte o carimbo da Seção 214 (b) não prova de quem um emprego certo, dinheiro guardado, posses, investimentos ou família primária constituída e mesmo que tenha um casamento e filhos, fica a pergunta (se for o caso): - Porque vai viajar como turista e sozinho?

Eu sempre escrevo que os agentes do Governo americano nem a cara de trouxa ele têm; portanto, fuja das falsificações de documentos e declarações falsas, porque se por ventura você conseguir o visto, poderá sofrer uma grave decepção em solo americano. O que eles querem é que todo pretendente a visitá-los seja de fato quem afirme em documentos e turista bem intencionado é o que todo país deseja, mas vamos falar sério: turista que não tem dinheiro, não tem cartão de crédito, não tem emprego e nem um laço suficientemente forte para voltar para casa, no mínimo é suspeito!

Evitem a todo custo à influência de quem afirma ser doutor em visto americano, porque não há mistérios; basta se possuir os documentos corretos e provar que pode pagar pelos dias declarados e sua chance de ter um visto negado será mínima. Pessoas que afirmam ser experientes em conseguir um visto, geralmente querem seu dinheiro e ainda poderá lhe colocar numa baita enrascada.

Se é que há dicas para esta situação; para ter o mínimo de chance de ter seu visto negado, na hora da entrevista tenha sempre à mão os documentos exigidos com o preenchimento correto de todos os formulários; leve também as faturas de seus cartões de crédito dos últimos seis meses; holerites verdadeiros e declaração de IR são sempre bons divisores de águas nesta hora; comprovantes de propriedades de veículos e/ou imóveis também fazem bem; os extratos bancários dos últimos seis meses podem fazer uma baita diferença; certidão de casamento e nascimento dos filhos; também são bons documentos probatórios de laços com sua pátria.

Por último, quando chegar em solo americano, por favor, durante o ato de entrevista, responda claramente o que lhe for perguntado e evite gracinhas e piadinhas medíocres. Porte sempre os documentos e não se esqueça de levar dinheiro e cartões de crédito. Cartões simples internacionais são aceitos em qualquer parte do planeta, mas alguns plásticos dos cartões denunciam claramente se eles possuem baixo, médio ou alto poder de gastos, então nem tente persuadi-los que seu cartão daquela loja âncora tem 10 mil dólares de limite, que eles sabem que é mentira.

Melhor mesmo é estar de posse de um bom cartão de crédito, ou cheques de viagem, ou dinheiro em espécie ou ainda, no mínimo, um destes cartões de recarga internacional para transações em moeda estrangeira.

Como estará vestido na ocasião do desembarque pouco importa; desde que não tenha afirmado que era um monge franciscano e apareça no aeroporto vestido de drag Queen, as autoridades não dão à mínima, mas, por favor, evitem roupas espalhafatosas ou exóticas nos aeroportos; eu não vejo nada de anormal vestir um casaco de visom durante o alto verão de Miami, mas...

E assim eu encerro mais uma crônica sobre os vistos americanos; informando pela enésima vez que eles têm pânico de suspeitos de terrorismo e aversão a imigração ilegal e que nos Estados Unidos da América é a casa deles e não a nossa, portanto, respeitá-los de forma proba e correta pode ser o princípio de uma cobrança de nosso governo para reciprocidade e mais abertura.

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 28/03/2011
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