José Saramago: o escritor da liberdade de expressão!

"Como calar o homem, que não tinha medo de expressar as suas opiniões por mais polêmicas que fossem!Como calar o homem, que não tinha medo de demarcar os erros contidos na religião e calar a voz das idéias terroristas sem empunhar armas... Sua arma sempre foi as palavras! Minh'alma chora de saudade por ti José Saramago!

Ana Marly de Oliveira Jacobino

José Saramago nasceu na vila de Azinhaga, no concelho da Golegã, de uma família de pais e avós agricultores. A sua vida é passada em grande parte em Lisboa, para onde a família se muda em 1924 – era um menino de apenas dois anos de idade. Dificuldades económicas impedem-no de entrar na universidade. Demonstra desde cedo interesse pelos estudos e pela cultura, sendo que esta curiosidade perante o Mundo o acompanhou até à morte. Saramago publica o primeiro romance Terra do Pecado (1947), no mesmo ano de nascimento da sua filha, Violante, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis – com quem se casou em 1944 e com quem permaneceu até 1970. Nessa época, Saramago era funcionário público. Em 1988, casar-se-ia com a jornalista e tradutora espanhola María del Pilar del Río Sánchez, que conheceu em 1986 e ao lado da qual viveu até à morte.

Três décadas depois de publicado Terra do Pecado, Saramago retornou ao mundo da prosa ficcional com Manual de Pintura e Caligrafia. Mas ainda não foi aí que o autor definiu o seu estilo. As marcas características do estilo Saramaguiano só apareceriam com Levantado do Chão (1980), livro no qual o autor retrata a vida de privações da população pobre do Alentejo. Mas, foi com o romance Memorial do Convento, que Saramago conquista definitivamente a atenção de leitores e críticos. No livro, Saramago mistura fatos reais com personagens inventadas: o rei D. João V e Bartolomeu de Gusmão, com a misteriosa Blimunda e o operário Baltazar, um exemplo. O contraste entre a opulenta aristocracia ociosa e o povo trabalhador e construtor da história servem de metáfora à medida da luta de classes marxista. A crítica brutal a uma Igreja ao serviço dos opressores inicia a exposição de uma tentativa de destruição do fenómeno religioso como devaneio humano construtor de guerras.

A interpretação que Saramago faz da Bíblia é a de que ela é um "manual de maus costumes", cheio de "um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana", e que para uma pessoa comum a decifrar, precisaria de ter "um teólogo ao lado". E cita para sustentar isso os episódios de violência relatados na Bíblia, como sacrifício de Isaac, a destruição de Sodoma ou a vida de Job, por exemplo. Para Saramago, todos eles revelam que "Deus não é de fiar".

Saramago não deixa de reconhecer que a "Bíblia tem coisas admiráveis do ponto de vista literário" e "muita coisa que vale a pena ler", estando, dentre elas, os Salmos, com páginas "belíssimas", o Cântico dos Cânticos, e a parábola do semeador contada por Jesus.

A relação de tensão de Saramago com a Igreja Católica cresceu fortemente após a publicação do livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" em 1991, que foi adaptado para o teatro em 2001. O livro foi motivo de fortes críticas por parte de católicos que se consideraram ofendidos pela leitura secular que Saramago faz da personagem Jesus.

Estilo da sua escrita: Saramago foi conhecido por utilizar um estilo oral, muito semelhante aos contos de tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a metódica gramatical de uma linguagem escrita. Conserva as características de uma linguagem oral, muito usada na oratória, na dialética e também, na retórica e que servem muito bem o seu estilo interventivo e persuasivo . Assim, utiliza frases e períodos longos, usando a pontuação de uma maneira fora do convencional; Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos, portanto, não existem travessões nos diálogos dos seus livros.

Este tipo de marcação das falas permite uma sensação de aumento na consciência, deste modo, podemos confundir e interagir com o diálogo permitindo pensar se ele foi real ou não passou de um pensamento do escritor transmitido a leitor. Muitas das orações são longas passando de uma página do livro, ele abusa das vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Mas, como é fácil ler e compreender os seus romances.

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Terra, Ernani; De Nicola, José: Português: De olho no mundo do trabalho (editora: Scipione)

http://www.josesaramago.org/

Jornal da Poesia