OS ANJOS EXISTEM

Me enganaram...sim, por diversas vezes me enganaram; me enganaram quando me disseram que anjos não existem. Sim, aquela foi a primeira vez que me enganaram...a Segunda, foi ao dizer-me que eles existem mas, quanto a sua forma... ah! Me disseram que eles tem asas, que são brancos e novos. E cria eu que o que me ensinaram era a pura veracidade... Mas era mentira: hoje eu sei que os anjos podem ser de qualquer cor, forma ou mesmo idade...

Ainda hoje me lembro do meu primeiro contato com um anjo. Foi quando tive a maior perda da minha vida... sim, eu tinha perdido no dia anterior a pessoa que eu mais amava...a minha mãe.

Eu estava em prantos, chocada, inconformada e até mesmo revoltada com Deus, e cheguei a perguntar-lhe o porque de Ele ter levado para sempre aquela pessoa que me dera vida, qual o motivo Dele levar aquela minha melhor amiga???

Revolta, frustração e tantos outros adjetivos que não posso esquecer...

Saíamos em comitiva fúnebre do cemitério da Consolação... a minha alma parecia desgarrar-se do meu corpo...sim, a minha alma parecia querer desprender do meu corpo deixando-o nu...

Ao transpormos (comitiva) o portão, não pude me conter e os meus gritos eram mais e mais altos...

À minha frente, alguns floristas com seus ramalhetes a mostrar-nos que os túmulos ficam mais bonitos com seus produtos...

Mas, à distância, uma mulher, de estatura mediana, de cor parda e cabelos crespos aproximou-se de mim... olhou-me nos olhos, como se fossemos velhas conhecidas e, ao passar suas mãos sobre minha cabeça, falou-me umas frases que sabia ela, como se predestinada, que aquelas palavras ficariam em minha mente para sempre... e realmente as palavras jamais foram ou serão esquecidas....

Foram simples palavras para os dias de hoje pois, naquele momento me serviram como calmantes da alma... sim, foram essas palavras:

– Chore querida, mas fique certa que Deus está te amparando...a cada dia Ele faz um curativo na sua dor...daqui há algum tempo, a dor estará sanada e ficará somente a saudade...saudade gostosa...

Hoje, quando vou ao Cemitério da Consolação, a encontro sempre a sorrir-me... um sorriso de carinho e amizade...

Mas depois, no aconchego do meu lar, fico a pensar que aquela senhora esteja, apenas, a confortar as nossas almas... e me pergunto:

– Ela existe, ou apenas nós, sofredoras, a vemos?... de qualquer forma, deixo pra lá tais interrogações...

Se ela existe ou não, o mais importante é que tenho a certeza que ela é uma mensageira do Senhor, ( já que Pedro é o guardião do Céu)... ela é a guardiã do Cemitério da Consolação...

E quando Dna. Lúcia, aquele anjo de cor negra, cumprir sua missão aqui na terra (espero que isso dure muitos e muitos anos), tenho a plena convicção de que ela permanecerá lá... pois nós que temos necessidade de uma palavra amiga, palavra de carinho, nós, tão carentes de frases que saem do fundo de coração de pureza, sentiremos uma leve brisa a enxugar nossas lágrimas que caem...e com certeza, nesses mesmos rostos que antes estavam tristes, um riso surgirá em lembrar D. Lúcia que, mesmo em outra forma, forma não mais vista aos nossos olhos, ela também estará a nos sorrir!

14/12/02

Este texto(poema), foi feito em homenagem a uma florista( Dna. Lúcia), que vende seus ramalhetes, artificiais ou não, na entrada do Cemitério da Consolação.

Este trabalho está registrado na Biblioteca Nacional-RJ

carlos Carregoza
Enviado por carlos Carregoza em 13/11/2006
Código do texto: T290151