233 - UMA QUESTÃO DE FÉ...



Três irmãos nascidos e criados em determinada cidade famosa do interior das Minas Gerais.

Cada um com uma habilidade de destaque. Gostar de música e saber tocar algum tipo de instrumento, também era um ponto comum herdados com o DNA do pai, tios, avós e primos, todos integrantes das “Liras” ou das furiosas como era comum se dizer carinhosamente das bandas locais. Aliás, se fossemos desenrolar o novelo desta trama da família musical, veríamos nas três ou quatro bandas existentes na cidade, parentes em todas e ainda sobraria gente para compor outras tantas. Na árvore genealógica da família poderíamos pendurar dois ou três tipos de instrumentos em cada galho desta quase floresta.

Embora na infância e juventude todos gostassem de futebol, agora muitas décadas de campos de pelada, de gramados e arquibancada, somente um deles ainda arrisca bater uma bolinha às segundas e quintas feiras, mesmo assim, futsal ou soçaite, pois, em quadra corre-se menos e os janeiros são muitos. No caso desta personagem, o mês em questão é setembro.

Além do esporte e música os intrépidos irmãos, também gostam de produzir encontros na comunidade itabirana, oportunidade impar para se rever amigos e parentes. Cada um dos participantes, além da contribuição pessoal na organização, traz seus instrumentos para abrilhantar a festa.

Festeiros como sempre, um costume que virou tradição na família era comemorar lá na Rua dos Catumbis e outras ruas paralelas os folguedos juninos, como se diz do tríduo festa de São Pedro, Santo Antonio e São João, para cultuar a fé nos santos patronos.

Escolhia-se o festeiro, escolhia–se o rei e a rainha que embora não tivessem tanta pompa como acabamos de ver no casamento da realeza britânica entre o do príncipe William e Kate Middleton, era uma honraria fora do comum a ser destacada.

A festa que antigamente congregava apenas os moradores das ruas Renato Campos e João Paulo Pinheiro foi crescendo e pouco tempo depois se envolviam nas atividades os moradores de todo o bairro. Aí, tiveram que mudar o local e o mais próximo foi o átrio da “NAQUELA ÉPOCA”, igrejinha do bairro e posteriormente as dependências do glorioso “VALERIODOCE”. "Saudades deste tempo do arraial do Vec".
Outro motivo que também determinou a participação dos moradores de todo o Bairro Campestre é que havia sempre intensa mobilidade das famílias dentro do bairro e uma família que hoje morasse nas ruas próximas ao antigo Hospital Carlos Chagas e da sedinha do VEC, eventualmente poderia se mudar para outro local, mas, não perderia de jeito nenhum as festas ora realizadas nas imediações da Odorico Albuquerque, ou na própria.

Voltando à questão principal e aos personagens da crônica vale dizer que a fé nos santos os levava a paranóia de até mesmo fazerem algumas estripulias, ou atos em nome da fé. Alguns rapazes aproveitavam uma quedinha para com moças casadoiras no bairro e ensaiavam a dança de quadrilha para uma aproximação estratégica.

Assim pode-se dizer que além da fé principalmente no Santo Antônio, tido e havido como o santo casamenteiro, a festa era vetor de união entre famílias do bairro. Na verdade também de aproximação entre jovens de outros bairros, pois, que eles também realizavam seus folguedos em dias distintos para uma apresentação final para acontecer em local a ser determinado como se fosse uma disputa entre bairros. A fé, sempre a fé.

Também em nome da fé, durante as festas havia uma questão que somente os mais crentes tinham coragem de realizar, era caminhar sobre as brasas ardentes da fogueira. À meia noite todos se encaminhavam para as proximidades da fogueira em brasas quando eram espalhadas para aqueles corajosos jovens fizessem, em nome da fé, o ato de caminhar sobre as brasas, muitos eram os aventureiros que ano após ano diziam que neste ele não perderia a oportunidade e até mesmo faziam apostas para testar a coragem de realizar a proeza.

De certo modo todos os que diziam que iriam caminhar sobre a fogueira por causa de alguma aposta, na hora “H” preferiam perder a aposta a sair com os pés em bolhas ao percorrer caminhando lentamente os três metros de brasas da fogueira.
Já aqueles, mesmo entre os irmãos que queriam desafiar uns aos outros e aí era o caso dos três da família Coimbra, um se dizia muito corajoso, mas, jamais iria ter que provar desta forma no caso era o mais novo dos homens. O segundo dizia que era o maioral, porém todos os anos mal ensaiavam, já mudava de rota caindo fora com medo e tirando o (pé) dele reta.

O terceiro depois de várias tentativas e desistências dos demais amigos, caminhava sobre a fogueira em brasas e saia do outro lado como se estivesse fazendo uma travessia num local aprazível e num campo gramado, tranquilo e sereno. O que fazia com que outros aventureiros tentassem novamente, ele quando inquirido, qual era o pulo do gato, dizia tão somente UMA QUESTÃO DE FÉ, e ainda dizia “sou como Pedro o apóstolo quando acompanhava o “Senhor Jesus” na caminhada sobre as águas":
- Sou forte na fé.
É sempre uma questão de fé.

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 01/05/2011
Reeditado em 06/02/2012
Código do texto: T2943310