AS NOVALEAS SERÃO APENAS ENTRETENIMENTOS PARA AS "MASSAS" SOCIAIS?

As pessoas da alta classe social, ou que possuem um pouco mais de cultura que a grande maioria, acham que a novela é coisa criada para a diversão da "massa", das pessoas pobres e sem instrução cultural, pois logo não teriam condições financeiras de frequentarem bons cursos, aprenderem muitas coisas, e não teriam condições, nem financeiras nem culturais, para frequentarem teatros e museus que ficaram estigmatizados como coisas de pessoas ricas e cultas, ou vice-versa.

Mas, não há dúvidas de que, a novela é o produto de maior sucesso da televisão brasileira. Não apenas comercialmente, por ser vendida para dezenas de países e dublada em idiomas tão diferentes do português, como o russo e o chinês. A verdadeira força das novelas é revelada na influência sobre o comportamento das pessoas que as assistem.

É claro que sabemos que todas as classes sociais são retratadas de uma forma não muito verdadeira, a plástica das novelas é bem a mesma coisa, quase sempre. Rico tem cara e jeito de rico, enquanto que pobre, empregado tem jeito de pobre, sem cultura e qualquer falta de qualidade pessoal que não seja os serviços gerais que aprendeu para prestar dentro de uma casa ou empresa.

Porém, um dos segredos desse sucesso está na combinação entre ficção e quase realidade. Ao abrir mão da fantasia e incorporar situações contemporâneas ao seu enredo, a novela brasileira cria uma enorme relação de intimidade com o telespectador. Diante da televisão, ele identifica seu cotidiano.

Mesmo que o dia-a-dia da novela não seja tal real quanto queríamos que fosse. Os autores sabem captar comportamentos presentes na sociedade e retratá-los após um filtro moral. Daí vem a satisfação do telespectador. Atitudes condenáveis e muitas vezes comuns a milhões de pessoas são deslocadas para os vilões da história. Apenas eles buscam as mais diferentes maneiras de fraudar. A falta de ética geralmente é comum apenas aos mais ricos. O comportamento de imoralidade fica para pobre, geralmente, mulher. O sexo pelo prazer está longe dos casais apaixonados.

Este filtro moral dá segurança ao telespectador. Após um duro dia em que conviveu com o transporte público de má qualidade e a rotina massacrante do mercado de trabalho, entre outros problemas, ele pode chegar em casa e passar seu tempo observando a vida que idealizou. Durante uma hora, finalmente uma trégua dos problemas.

Mesmo ciente deste comportamento conservador do telespectador brasileiro, fico impressionada com algumas reações. Alguns comentários sobre as novelas me causam espanto, pois demostram que parte da população prefere fechar os olhos a enxergar a realidade, mesmo que ela seja fabricada por uma emissora de televisão.

Muitas tramas são acusadas de apostar na maldade e na falta de moral. Parte da audiência acha um absurdo que temas como aborto, drogas, hossexualidade e infidelidade sejam retratados. Fico me perguntando que conceitos de maldade e falta de moral têm essas pessoas que preferem ignorar situações que existem e que, em muitas vezes, até protagonizam.

Não estou ratificando a desonestidade, a traição, a exploração de menores, o interesse material acima de qualquer coisa, e outros temas que andam causando polêmica. Tomo como exemplo a retração de um aborto sem qualquer suporte médico que, com certeza, gera graves consequências físicas e psicológicas, e não uma garota rapidamente restabelecida. Devo me preocupar em condenar a presença do tema nas novelas ou discutir os problemas da prática?

E quanto às pessoas que vivem reclamando sobre a presença de homossexuais nas novelas e outros programas televisivos, estão sempre falando: "Mas agora eles têm que colocar um gay em toda novela?". Parece que as pessoas não se atentam para a realidade, será que não percebem que em todo lugar têm homossexuais: nas panificadoras, nos supermercados, nos shoppings, restaurantes, faculdades, no trabalho, na casa ao lado, às vezes, dentro da nossa casa. Não percebem ou não se importam de que estão sendo, extremamentes, homofóbicos e preconceituosos.

Não é nada pessoal. Não me leve a mal se você comentou alguns dos comportamentos citados. Apenas reflita: nunca em sua vida cometeu uma pequena transgressão? Violou alguma norma ou até mesmo a lei para fugir de uma situação constrangedora, encontrar "solução" ou prazer? Impossível. Não há ninguém que viva apenas de acordo com todas as regras. Se assim fosse, este seria outro mundo. No nosso dia-a-dia cometemos pequenos errinhos, pequenas transgrassões, que pensamos não terem o mesmo peso que as grandes, retratadas em novelas, só por causa do tamanho e da simplicidade, não pensamos que um palito de fósforo aceso em um enorme palheiro pode proporcionar danos incalculáveis.

A novela não deve se abster de tratar nenhum assunto. Que continue assim, mesmo com os problemas de verossimilhança causados pelo filtro moral dos autores. Torço para que os telespectadores deixem o comportamento reacionário de lado. Quem sabe, assim, temas ainda proibidos virem debate e reflexão, e não motivo de pura repulsa. Mas que sirvam para fazer com que a sociedade enxergue a realidade, e que lutem por um mundo melhor. Pois a novela não é uma propagadorara de realidade, mas, um verdadeiro retrato da vida real.

E, eu, não importando com as opiniões emitidas sobre eu gostar e ser uma noveleira de plantão, vou continuar assistindo, sem me permitir a parte da alienação e ficando só com o lado da diversão que me remete a certas reflexões e percepçoes.

Vannessa Adryanna
Enviado por Vannessa Adryanna em 13/05/2011
Reeditado em 07/10/2011
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