Poeta da inquietação filosófica

"O poeta tem a sensibilidade de vivenciar as inquietações que rondam o ser humano na sociedade em que está inserido, e, deste modo, nos seus versos poder expressar, o que vê e o que sente, sem receio de ser censurado ou coibido pelo seu trabalho poético!"

Ana Marly de OLiveira Jacobino

Jorge Guillén o poeta da inquietação filosófica!

Jorge Guillén foi um poeta espanhol nascido na cidade castelhana de Valladolid, que se distinguiu por uma constante inquietação filosófica diante da realidade e da vida cotidiana, de que procurou expressar as formas e manifestações essenciais, como a luz, a água e o ar. De família próspera, estudou filosofia e letras em Madri e Granada, licenciou-se (1913) e foi professor de espanhol na Sorbonne, em Paris (1917-1923). Durante sua estada na França conheceu Paul Valéry, de quem recebeu forte influência. De volta à Espanha (1923), ensinou em diversas universidades e publicou sua primeira obra, Cántico (1928), uma coletânea de poemas que passou por sucessivas e ampliadas edições (1930-1950).

Durante a guerra civil espanhola foi detido e encarcerado em Pamplona por motivos políticos (1936), fugiu e exilou-se nos Estados Unidos (1938), onde ensinou literatura espanhola no Wellesley College (1940-1951) e iniciou o preparo de Clamor, obra editada em três livros: Mare magnum (1957), Que van a dar en la mar (1960) e A la altura de las circunstancias (1963). Alcançada a jubilação acadêmica, realizou freqüentes viagens pela América e Europa e visitou repetidas vezes a Espanha.

Tornou-se (1958) professor catedrático Charles Elior Norton, da University of Harvard, e casou-se em Bogotá (1961) com Irene Mochi Sismondi. O governo espanhol outorgou-lhe o Prêmio Miguel de Cervantes (1976) e tornou-se acadêmico de honra da Real Academia de la Lengua Española (1978). Morreu em Málaga, na Andaluzia depois de publicar, entre outros, Lenguaje y poesía (1962), Aire nuestro (1968) e Y otros poemas (1973).

Jorge Guillén (1893 - 1984) - cuja vocação foi percebida pela mãe, que o ensinou a ver : "mira", dizia, e apontava paisagens, desenhos, livros, e a ouvir:"oye", dizia, e escutavam os sons da natureza e a voz do homem - a ela dedica sua primeira grande obra : Cántico. Obra orgânica escrita ao longo de 25 anos, em quatro edições que crescem e se reorganizam, como gigantesca árvore que não perdesse folha ou fruto e só crescesse, assim é Cántico.

Estatua ecuestre (Jorge Guillén (1893 - 1984)

Permanece el trote aquí,

Entre su arranque y mi mano.

Bien ceñida queda así

Su intención de ser lejano.

Porque voy en un corcel

A la maravilla fiel:

Inmóvil con todo brío.

Y a fuerza de cuánta calma

Tengo en bronce todo el alma,

Clara en el cielo del frío!

Estátua eqüestre

Permanece o trote aqui,

entre seu arranque e minha

mão. Fica assim bem contido

seu intento de distância.

Porque vou no meu corcel

à maravilha fiel:

imóvel com todo o brio.

E à força de tanta calma

tenho em bronze toda a alma,

clara pelo céu do frio.

Vaso de agua (Jorge Guillén (1893 - 1984)

No es mi sed, no son mis labios

Quienes se placen en esa

Frescura, ni con resabios

De museo se embelesa

Mi visión de tal aplomo:

Líquido volumen como

Cristal que fuese aun más terso.

Vista y fe son a la vez

Quienes te ven, sencillez

Última del universo.

Copo de água

Nem a sede nem meus lábios

são quem se comprazem nesse

frescor, e não há ressaibos

de museu que comovessem

minha visão deste assomo:

líquido volume como

cristal mais terso, diverso.

Vista e fé de uma só vez

são quem te vêm, singeleza

última do universo. (Revista Agulha)