Sensacional!

Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino, um poeta brasileiro!

" Escrever vai além das palavras belas, escrever é mostrar a inveja, ódio, rancor..., enfim, a imoralidade oriunda da morte da alma, transmitida pelo "Homem" ! Ana Marly de Oliveira Jacobino

Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino Nasce, em 1940, numa tradicional família carioca, convivendo desde criança com intelectuais e escritores próximos à família, entre eles Cecília Meireles (a quem o poeta sempre se refere carinhosamente como Tia Cecília), Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Primo do crítico literário brasileiro Antonio Candido e da crítica teatral Bárbara Heliodora, seu trisavô, Antônio Nicolau Tolentino, foi conselheiro do Império e fundador da Caixa Econômica Federal. É instruído em inglês e francês ao mesmo tempo de sua alfabetização no português.

Publica em 1963 seu primeiro livro, "Anulação e outros reparos". Com o advento do golpe militar de 1964, muda-se para a Europa a convite do poeta Giuseppe Ungaretti, onde vive trinta anos, tendo residido na Inglaterra, Bélgica, Itália e França. Leciona nas universidades de Oxford, Essex e Bristol e trabalha como tradutor-intérprete junto à Comunidade Econômica Européia. Publica em 1971, em língua francesa, o livro "Le vrai le vain" e, em 1979, em língua inglesa, "About the Hunt", ambos bem recebidos pela crítica literária européia. Sucede o poeta e amigo W. H. Auden na direção da revista literária Oxford Poetry Now.

O ESPÍRITO DA LETRA (Um poema de "A balada do cárcere")

Ao pé da letra agora, em minha vida

há a morte e uma mulher... E a letra dela,

a primeira, me busca e me martela

ouvido adentro a mesma despedida

#outra vez e outra vez, sempre espremida

entre as vogais do amor... Mas como vê-la

sem exumar uma vez mais a estrela

que há anos-luz se esbate sem saída,

#sem prazo de morrer na luz que treme?!

O mostro que eu matei deixou-me a marca

suas pernas abertas ante a Parca

#aparecem-me em tudo: é a letra M

a da Medusa que eu amei, a barca

sem amarras, sem remos e sem leme...

Tolentino retorna ao Brasil em 1993, publicando o livro "As horas de Katharina", escrito durante o período de 22 anos (1971-1993), ganhando com ele o Prêmio Jabuti de melhor livro de poesia de 1994. Em 1995, publica "Os Sapos de Ontem", uma coletânea de textos, artigos e poemas originados de uma polêmica intelectual com os irmãos Haroldo de Campos e Augusto de Campos, que nesse livro serão os principais alvos de sua "língua ferina entortada pelo vício da ironia", frase que Bruno usou durante uma entrevista em que lhe foi pedido "um perfil abrangente de si mesmo".

Bruno publica derradeiramente em 2002 e 2006, respectivamente, os livros que considerou como a culminação de sua obra poética: "O mundo como Ideia", escrito durante quarenta anos (1959-1999), e "A imitação do amanhecer", escrito durante 25 anos (1979-2004). Ambos lhe renderam o Prêmio Jabuti, prêmio já alcançado pelo autor em 1993 com "As horas de Katharina", tornando-o assim o único escritor a ganhar três edições do prêmio, considerado o mais importante da literatura brasileira. Bruno também recebeu, por "O mundo como Ideia", o Prêmio Senador José Ermírio de Morais, prêmio nunca antes dado a um escritor, em sessão da Academia Brasileira de Letras.

Tolentino, que tinha Aids e já havia superado um câncer, esteve internado durante um mês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, onde veio a falecer, aos 66 anos de idade, vitimado por uma falência múltipla de órgãos, em 27 de junho de 2007.

# Prefácio de seu livro "A balada do cárcere", lançado em 2006 pela editora Topbooks.

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