De olhos no céu...


     1Como  Bilac, também amo as estrelas...
Sinto não saber cantá-las em belos versos, como o fez o mestre Olavo.
      - "Ora direis ouvir estrelas! Certo
         Perdeste o senso!
         E eu vos direi, no entanto,
         Que, para ouvi-las, muita vez desperto!
         E abro as janelas, pálido de espanto..."
      2. Portanto, não se preocupem se me virem, em meio a uma noite escura, de olhos no céu. Não será um momento de alucinação. Estarei, como Bilac, ouvindo  os "pirilampos de Deus", e com eles conversando...
      3. Sou apaixonado pelas Três-Marias, as "virgens sonhadoras", como as chamou um poeta cearense. Nos versos de Naiara Paes Lemos, "as trêfegas donzelas".
      4. Sou apaixonado pelo Sete-estrêlo, citado três vezes no Antigo Testamento; Sou apaixonado pela Estrela D´Alva; pelo Cruzeiro do Sul; e e pela Via-Láctea,  no poema de J.G. de Araújo Jorge chamada de "uma florida trepadeira". 
     5. Sou apaixonado pela  desconhecida estrela que, todas as noites, avisto da minha janela, cintilante, e trilhando sempre o mesmo caminho.
     6. Possuo um livrinho - Belezas e Maravilhas do céu -  do Malba Tahan, que é uma gracinha. Ele é didático, e, ao mesmo tempo, de um indescritível romantismo. Conta como os poetas, através de suas trovas, vêm os astros.  - "Pus-me a contar as estrelas/ Contei duzentas e doze;/ Com as duas dos teus olhos,/ São duzentas e quatorze."
     7. estrela cadente. Quando a vi pela primeira vez, quase tive um infarto. Meu coração de criança, me segurou. Achava que ela, no seu vôo rápido e coruscante, cairia, inapelavelmente, sobre a cumeeira de minha casa de telha-vã, lá no sertão do Ceará.
     8
. Os livros foram me ensinando, que a cadente não é uma estrela, mas um meteorito de "apreciável tamanho. Hoje, ela, apenas, me assusta, porque aparece sem ser convidada; de surpresa.
     9. Quanto aos planetas, enquanto não for descoberto um melhor, continuarei curtindo, ainda que um tanto sobressaltado, minha velha e maltratada Terra.
     10
. E os cometas? Também os amo.  Mas num determinado momento de minha vida  tive medo deles. Lá na roça, dizia-se, que se a calda de um cometa tocasse na Terra, o mundo se acabaria num abrir e fechar de olhos. Era um Deus-nos-acuda, quando  um cometa surgia no horizonte.
     11. Mais apavorado fiquei, quando li que a Igreja Católica, aprovando o livro O fim do mundo está próximo, do padre Júlio Maria,  admitia, como fatal, um choque da Terra com "um cometa gigantesco de núcleo sólido, ou composto de gazes deletérios".
     12. Só descansei, quando os astrônomos me disseram que os cometas não passam de "inofensivas massas gasosas". E é isto mesmo: eles chegam caladinhos, dão um belíssimo espetáculo, e, silenciosos, desaparecem...
     13. Em 1973, aguardei, ansioso, a passagem do cometa Kohoutek. Seria um cometa mais brilhante do que o Halley. Mas o Kohoutek não apareceu. 
     14. Em 1986, anunciaram a volta do comenta Halley. Perdi algumas noites procurando-o no céu da Bahia. Ele não chegou a ser visto a olho nu.
     15. Fiquei frustrado. Mais ainda porque, em 2061, quando ele reaparecerá, não estarei mais por aqui... Já desencarnado, quem sabe se não o encontrarei passeado em outros mundos.
     16. Comenta-se, que o Padre Antônio Vieira via os cometas com muito respeito. 
          Ele não acreditava nas previsões astrológicas, mas admitia, exercerem os cometas alguma influência sobre os acontecimentos terrestres! Porém, "como avisos de Deus".  E nunca como sendo eles mensageiros do capeta, como um dia, eu menino matuto, cheguei a pensar!

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 10/12/2006
Reeditado em 11/03/2020
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