Meu bom
                  São Nicolau




     Ainda me divirto, e muito, com Papai Noel.
     Nos meus devaneios natalinos, chego até a admitir, que ele, de fato, existe! Fecho os olhos, e vejo o bom velhinho a bordo de sua carruagem, puxada por renas, trazendo alegria para a criançada; para Catarina, para Davi e para Bernardo, meus netos. 

     Não me incomoda o que dizem de mim aqueles que menosprezam o simpático Noel.  Garanto, que essas pessoas se sentiriam gratificadas, se o generoso São Nicolau, na passagem, deixasse nos seu chinelos, nem que fosse um sabonete Palmolive.

                              * * *

     Sou capaz de apostar, que muita gente desistirá de continuar lendo esta crônica, depois de passar os olhos neste seu intróito. De repente minha crônica poderá ser vista como uma gozação; ou uma página fantasiosa, escrita por um setentão sonhador, envolto no celestial clima do Natal. Acreditar em Papai Noel?

     Muitos dirão: "É inaceitável, que, em pleno Terceiro Milênio, ainda exista um coroa festejando Papai Noel, com tamanho deslumbramento."

     Pois existe: eu. Festejo-o, todos os anos, assim que chegam às minhas santas oiças os primeiros acordes de Noite Feliz!

     E minha afeição pelo bom velhinho cresce, quando recordo o que aconteceu, lá pelo ano de 1897, com a garota norte-americana Virginia O´Hanlon.

     Virgínia tinha oito anos de idade, quando perguntou ao jornal americano The Sum o seguinte: "Por favor, me diga a verdade: Papai Noel existe?"  E o editor do jornal não hesitou em lhe dar esta resposta: "Sim, Virgínia, Papai Noel existe."

     E acrescentou: "Isso é tão certo quanto a existência do amor, da generosidade e da devoção, e você sabe que tudo isso existe em abundância, trazendo mais beleza e alegria à nossa vida. Ah! Como seria triste o mundo sem Papai Noel!"

     E concluiu o editor do The Sum: "Daqui a mil anos, Virgínia, e ainda daqui a dez mil anos ou dez vezes esse número, ele continuará a fazer feliz o coração das crianças."

     Talvez esteja na alegria natalina da meninada o motivo pelo qual me ligo tanto na figura do bondoso Noel. Quem não se delicia, ouvindo um criança, felicíssima, dizer, com naturalidade e candura, que Papai Noel existe; que ele vai chegar...

     Essa felicidade eu vi, durante anos, estampada no rosto dos meus dois filhos; e, agora, a vejo reluzindo no rostinho de Catarina, de Davi e de Bernardo, toda vez que, no pé da árvore iluminada, junto ao presépio, eles abrem os presentes que Papai Noel lhes trouxe na noite de Natal.

     Deixemos, pois, que as crianças acreditem  em  Papai Noel o tempo que elas quiserem. Por que, cedo, roubar-lhes este sonho? esta doce fantasia?

                              * * *

     Ah, mas o Papai Noel, na sua versão atual, está aí para ajudar  o comércio a faturar. Até sua roupa, vermelha e branca, foi inspirada na Coca-cola, uma criação do publicitário americano Haddon Sundblon, que deu certo.

     E daí? Não há nada de mal em que os comerciantes ganhem ( e os camelôs também) seus trocadinhos, durante as festas do Natal, desde que o façam honestamente. 

     Aliás, é muito gostoso ganhar e dar presentes. Foi feliz a Igreja Católica quando, através do Papa Bonifácio, no século VII, instituiu o costume de trocar lembrancinhas por ocasião dos festejos do nascimento do Menino Deus.

     Reconheço não ser fácil separar o Papai Noel da longínqua Lapônia, do Papai Noel dos modernos Shoppings. Mas, tanto o Papai Noel do Pólo Norte como o Noel das lojas de todo o mundo são mensageiros do prazer; artífices da alegria.

     E por falar em Shopppings, no período natalino, época em que eles se tornam borbulhantes e irrespiráveis, visito-os, sempre que posso. Não para fazer compras. Odeio filas, até para receber dinheiro.

     Procuro-os para admirar os Noeis das vitrinas; e aplaudir aqueles senhores que, fantasiados de Papai Noel, acolhem os meninos  que, nas  lojas, sôfregos, procuram  o
brinquedinho do seu sonho...  
    Faço isso, anualmente, com ostensiva devoção e renovado encantamento: como se uma criança ainda fosse...



 

               

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 12/12/2006
Reeditado em 10/01/2020
Código do texto: T316449
Classificação de conteúdo: seguro