O GRITO DAS LAGOAS.

 

 

Segundo os naturalistas, os geólogos, os paleontólogos e os oceanólogos, o complexo lagunar compreendendo as lagoas de Santo Antônio em Laguna, a Lagoa de Imaruí em Imaruí e a lagoa de Mirim no município de Imbituba, têm data marcada geologicamente para a sua extinção definitiva ou a morte natural.

Afirmam os especialistas citados acima que, essas lagoas do complexo lacunar são bacias acolhedoras de aluvião, isto é, toda a erosão que ocorre nas montanhas adjacentes que as circunscrevem tem endereço certo. E o endereço é acomodar-se no fundo das lagoas, isso é um processo natural que vem ocorrendo a milhões de anos, haja vista, a espessura dos sedimentos depositados no fundo delas. (lodo e lama). Tendo em vista essa anomalia natural, temos ainda de considerar outros fatores não naturais que vêm se processando a algumas centenas de anos, e que aqui chamaremos de fator humano.

Considerando o estrangulamento da lagoa na divisa entre a lagoa de Imaruí, e a lagoa de Santo Antônio no município de Laguna.

Estrangulamento esse executado pelo aterramento e a construção da ponte de Cabeçudas, sem um estudo sobre impacto ambiental na época de sua construção, e que, evitasse e causasse esse prejuízo que há muito vem ocorrendo.

Realmente construíram o aterramento e edificaram a ponte sem uma preocupação com o futuro das lagoas, principalmente com a lagoa de Imaruí e Mirim.

Considerando ainda a estreiteza do molhe de Laguna, (barra) um canal de alimentação natural e alargado, mas também assoreado com a movimentação das areias e das lamas através das marés, um processo também tido por natural.

Considerando o derramamento de detritos e agrotóxicos de forma contínua e gradual que vem das lavouras de arroz existentes e o despejo de água servida em engenhos de farinha de mandioca.

Considerando o desmatamento de forma irregular, que foi e que está sendo efetuado em suas periferias e adjacências em benefício das pequenas pastagens.

Considerando a incivilizada prática de jogar lixos, tais como: Sucata de lata e ferro, pneus, vidros, restos de material de construção no próprio leito da lagoa, aliás, uma prática condenável que denota bem a falta de uma educação por parte da população, dirigida sobremaneira para com a conservação do meio ambiente.

Considerando a pesca predatória indiscriminada e gananciosa, sem um controle monitorado pelos órgãos competentes existentes e notadamente incompetentes.

Considerando a cultura primitiva e obtusa dos pescadores e moradores das suas periferias; uma cultura que nem sequer podemos chamar de “cultura”.  Mas sim de um hábito de vida que se diga a bem da verdade, um mau hábito, o de pessoas sem esclarecimento algum e grosseiras e que não têm preocupação com a preservação do seu próprio habitat e o seu meio de sobrevivência.

Considerando-se ainda por último, a etnia desse povo que se processou com uma miscigenação desordenada e primitiva, resultando numa espécie sui generis sem precedentes.

Tal miscigenação foi gerada entre os cruzamentos das seguintes raças: Açorianos, Negros, Caboclos e Índios.

Tais mestiços oriundos dessas raças entrecruzadas como não podia deixar de ser, desaguaram numa mistura étnica com as seguintes características:  Baixa estima e apáticos, de inteligência média, sem história e outrora sem instrução.

Por isso, são naturalmente não motivados e inclinados à cultura do ócio.

Com estes considerandos e mais alguns que poderiam ser acrescentados, afirmamos que, a lagoa de Imaruí está morrendo e a sua doença é terminal, como já previam os especialistas que foram amplamente citados.

 

Uma bacia acolhedora de aluvião.

 

Nesse processo natural e no não natural já mencionado e, em virtude das características e da feitura das lagoas, podemos dizer com toda a certeza que o acúmulo de resíduos e a estagnação da erosão vêm constantemente elevando o nível dos leitos das lagoas (o fundo) e esse fenômeno é visível a olho nu.

Em virtude dessa anomalia natural, observamos que é tendência certa e lógica para num futuro não muito longe, em que, o nível do fundo das lagoas, (seu leito) se equiparar ou ultrapassar o próprio nível do oceano, seu alimentador natural. Isso é um fato, pois já podemos observar a sua manifestação, haja vista, o encolhimento da lagoa, observa-se esse evento nas vazantes prolongadas e distantes da praia.  A lagoa recua mais ou menos uns cem metros da sua praia, principalmente com os ventos do quadrante nordeste que empurram as águas para uma fuga natural para o oceano.

Note-se que já foi efetuado um aterramento em suas praias, de mais ou menos uns cinqüenta metros de extensão, e não fez falta à lagoa um sinal evidente do seu encolhimento.

Esse fenômeno, o das vazantes contínuas, diminui em muito a capacidade de salinizar a lagoa, fato esse que, afasta a presença da população marinha. (peixes, siris e camarões).

Com esse fenômeno repetitivo das vazantes constantes, a elevação do nível do fundo da lagoa (leito) faz com que, a cada dia, diminua a lâmina d’água um habitat natural dos peixes e crustáceo.

Acrescentando-se ainda a esse problema, a quantidade considerável de águas doces despejadas pelos rios e pelas chuvas.

Já é há muito tempo observado a escassez do pescado, principalmente os de profundidade como, por exemplo, a corvina, o linguado, o burriquete, a miraguaia, o bagre, a pescada e outros completamente inexistentes.

Ainda há certa quantidade de peixes de corso, isto é, peixes que vivem e nadam na superfície das águas de baixa profundidade.

Com algum trabalho têm-se pescado esses peixes mar adentro, onde a salinização é satisfatória, todavia já está apresentando certa dificuldade a sua captura.

As cheias com os ventos originários do sul que são o processo natural de salinização são raras e de baixa intensidade.

A barra (molhe) é estreita, e o aterro da ponte de Cabeçudas estrangulou o acesso natural das águas e, em função desses fatores, a salinização é insuficiente como já dissemos.

Note-se que não estamos falando do estrago ambiental provocado pelo rio Tubarão que, em volume de água despejada, é bem maior do que todos os rios da região somados.  Desta forma, fica evidente que o problema aqui aventado é maior do que se imagina.

É inexistente um controle fiscalizador por parte dos órgãos competentes como a Fátima e o Ibama, com relação ao derramamento de agrotóxicos trazidos com as chuvas.

A água de mandioca sem controle, o veneno do plantio de arroz, o desmatamento geral e desordenado em toda a periferia e adjacências da lagoa, é um fato que vem ocorrendo sem o mínimo escrúpulo.

Os efeitos desses descontroles são notados quando há uma precipitação pluvial intensa, as lagoas ficam com as águas amareladas.  Sinal mais do que evidente que a causa é a erosão provocada pelo desmatamento contínuo.

Agora, vamos considerar uma outra anomalia, anomalia essa provocada pelo homem, uma verdadeira catástrofe infligida à lagoa por uma comunidade que se diz civilizada.

Notem que, quando a maré está baixa, naquelas vazantes de nordeste, vejam o que contem o fundo da lagoa, principalmente na orla urbana.

É estarrecedor o aspecto do leito.

Um verdadeiro lixão onde se vê uma exposição de pneus, latas, garrafas, plásticos sólidos, bolsas plásticas, pedras, tijolos, vidros e entulhos de construção e uma centena a mais de objetos estranhos.

Tudo isto é um produto e resultado de uma civilização ribeirinha, uma comunidade que se diz civilizada, mas pelo que temos notado não é civilizada, antes, porém, parece ser domesticada e mal domesticada.

Os índios são mil vezes mais civilizados, pois eles sabem preservar o seu habitat, o seu natural meio de sobrevivência, o branco é que destrói.

Para concluir esta crônica ou ensaio que é um produto da observação, queremos abordar um outro fator que gera a escassez do pescado.

Trata-se da pesca predatória e indiscriminada, atividade essa que há muito vem sendo praticada sem uma consciência projetada para o futuro.

As redes abundam na lagoa numa pesca predatória e gananciosa com malhas de tamanhos inadequados, inclusive, a pesca é exercida de modo inadequado, estamos aqui falando do famoso “aperto”.  Modalidade essa que, consiste numa varredura do fundo do mar para o aprisionamento de qualquer espécie que fica ali cercado, é lógico que, por uma rede mínima em suas malhas.

O negócio é pegar o pescado. Seja de que tamanho e espécie for, esse método é praticado é visível todos os dias.

Pasmem! Com o aval benevolente e acomodado dos órgãos fiscalizadores.

As redes de aviãozinho ou cocas e os berimbaus são as artes de pesca mais prejudiciais existentes.

Ali, nos aviõezinhos, os camarões, os siris e os peixes são capturados sem chances de escapar.  Qualquer tamanho, qualquer espécie, qualquer idade, pois são atraídos pela ofuscante luz dos liquinhos. (a gás).

Como o gás está ficando caro, pois é um produto importado a peso de Dólar, estão sofisticando o método de atração do pescado.

Agora é com energia elétrica fornecida por acumuladores elétricos, (baterias) um risco ainda maior que, por certo, irá decretar definitivamente a morte súbita da lagoa.

É o risco da contaminação da lagoa por ácido muriático, sulfúrico ou clorídrico.

Pelo que foi exposto até aqui, perguntamos: O que adiantou ou adianta o “grito das águas” se elas já estão quase mortas?

Adiantou ou adianta a uma meia dúzia de políticos espertos que, se locupleta com as verbas oficiais que vão ou que iam buscar em Brasília.

Entretanto, as lagoas continuam nos seus estertores finais, nos seus últimos suspiros de vida marinha.

Vida marinha essa que é milenar, uma obra encantadora e magnífica do Senhor Deus Todo Onipotente.

O Padre Pierre Teilhard de Chardin S.J. em 1947, um naturalista respeitado mundialmente no meio científico, já dizia o seguinte: “A única religião possível para o futuro, será aquela que ensinar o homem a amar, admirar e a preservar o próprio universo onde vive”.

Concluindo: A natureza é sábia e ela se vingará, tenham a certeza disso.

Quem agride a natureza será ao longo do tempo agredido por ela com: enchentes devastadoras, secas tórridas, verões abrasadores, ventos indomáveis, descargas elétricas de alta voltagem e estações desequilibradas fora de seu tempo natural.

É só observar!

Já estamos sendo vingados.

Eis a sua vingança!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 15/12/2006
Reeditado em 24/08/2010
Código do texto: T319129