Método empregado para venda de terreno

- Bom dia. A senhora tem um terreno para vender?

- Tenho. Quer ver?

- Queremos,

- Aqui está.

- É bonito. Quanto custa?

- O preço está neste envelope. Tome. Mas não posso efetuar negócio imediatamente porque dei minha palavra a um homem que está fazendo os papéis para comprar o terreno através do banco. Coisa de uns vinte dias. Espero com aflição, pois meus filhos estão me esperando. Moram longe. Eu preciso ir logo para Birigui.

- Bem. Se a Senhora tiver alguma nova informação, quem sabe. Adiante.

(Vinte dias se passaram).

Dona do terreno ao telefone:

- Os papeis do banco vão demorar, muito embora tenha dado minha palavra ao homem vou aceitar vender para vocês. Está tudo pronto, podemos ir rápido ao cartório. Amanhã.

- Senhora, espere um pouco, Tem quatro filhos? Cada qual mora numa região diferente. A senhora precisa da procuraçã de todos eles para negociar o imóvel.

- Sim. Vou providenciar. Ah, que canseira. Quero ir embora logo, meus filhos estão me esperando. Não aguento mais.

Mais um dia. Noite. Telefone:

- Avisa a dona interessada no terreno que está tudo pronto e que minha filha está chegando. Quero fechar negócio e viajar de uma vez por todas.

- Sim, o recado será dado.

Desliga e liga novamente.

- Eu quero saber se vocês vão ficar com o terreno porque eu até desmarquei com o rapaz do banco...

Resposta:

- Minha Senhora, isso é um problema alheio, alheio. A senhorita que não está em casa agora deve estar com o seu acessor jurídico que é da família. Decerto ajustando detalhes deste negócio. Bom fim de semana.

- Bom fim de semana. Desliga o telefone.

Reflexão: A vendedora está utilizando um terceiro fictício para dar lance forçado frente ao imediatismo da situação? Espécie de "an passant" possibilitado por movimento descoberto com o nome rápido de golpe?

O intermediário oculto que atua em nome do comprador senta no sofá, fuma um cachimbo, abre um jornal com o nome de “ O Estranho” . -Tudo o que pode ser “estranho” ao mundo dos negócios. “Leia e veja aqui” -. Foto clássica de homem, sofá e jornal.

Na nova cena a compradora coça a orelha ainda quente por ter ouvido aquele “bom fim de semana” exato e claro, sem vestígio transparente da certeza que precisava. O “vendido” que desejava afogar com a urgência. Um bom fim de semana e ambos pressentiram que o terceiro do banco era fictício. Manobra de uma mente ávida de negócio. Só que ela mesma havia tornado pendente a história das quatro procurações. Sublinhou a própria fraqueza. Ocultou e voltou a ocultar essa certeza como deseimportãncia para conclusão da compra. Deu pistas quando tentou maquiar tudo. Havendo ruptura na linha de sucessão é um desastre fatal para o comprador. (Houve casos de homens que compraram vales inexistentes, imóveis comprados três vezes e até o caso de um farol, arrematado pelo preço de ocasião, uma ninharia).

Das quatro procurações mencionadas apenas uma está chegando... “Pois bem, avise a dona interessada no terreno de que está tudo pronto e que minha filha está chegando!”. Voz imperial, porém já no final do império. Havia colorido a chegada da filha como mais um elemento de pressão, para consolidar, comprimir o espaço a seu favor, lutando pelo domínio do tempo que ela manejava perfeitamente. Desde o início arremessou o dado da partida com lance de rápida iniciativa. Certo que teve que suavizar um pouco com o elemento fictício. Que compromissos teria ela assumido agora com o banco? Depois a filha era gigantesca, portadora em regime de urgência de todo o direito. O direito pleno de todos os irmãos.

************************

(Série Histórias Patrimoniais)

Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 16/09/2011
Reeditado em 18/09/2011
Código do texto: T3223697
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.