(38)"Raul o mendigo e a gaita de bôca"(A Saga)

Nossa rua na infância, parecia um tobogan e nossa casa ficava na esquina com a penúltima transversal,, lá no alto. Por alí passavam personagens que acabar am fazendo parte do nosso cotidiano, tantas eram as vezes e a frequência com que transitavam por alí; Davam até um ar de "animação" na Botucatú, esquina de Horta barbosa; Raul o mendigo gaitista era um desses personagens

tão frequente que as pessoas nem prestavam mais atenção na muisiquinha que tirava da gaita;

Um dia que cruzei com ele na ida para o Grupo Escolar, parei pra ouvir com atenção o que tocava, ou tentava tocar...Não deu pra identificar a música, provavelmente nascida de sua cabeça,numa criação expontânea,mas me fascinou a ponto de esquecer que ia pra Escola e ficar alí, parado enfeitiçado com a magia daquele mudo que não era sequer capaz de emitir uma palavra inteligivel mas era capaz de criar sons musicais daquele pedaço de madeira com uma cobertura de latão reluzente, em que ele soprava e babava ao mesmo tempo e ao invez de me causar asco me encantava. pelo fato de criar aqueles sons, alí, na minha frente sem a menor inibição como se quizesse dizer: "Olha aquí: Eu não sei falar,como voces, mas sei fazer isto...E tocava e tocava, aquela música interminavel que enchia de sons aquela esquina que vivia cheia nos domingos e feriados , mas nos dias que Raul esmolava, era quase deserta, com um ou outro passante, que ia pro trabAlho na Fábrica, ou pra Escola como eu, ou tentar vender alguma coisa pros pobres operários que viviam alí, mal sabendo que a vida deles tambem era dura pois,em troca de morar nas casas simples e geminadas como aquelase davam graças a Deus, trabalhavam oito ou dez horas diárias na Fábrica de Tecidos ao lado da rua-tobogan, em turmas de três turnos:Manhã, tarde e Noite,esta última varando a madrugada e se encontrando com a primeira.Bem; Corrí pra chegar a tempo no Grupo Escolar e Raul subiu, tocando sua gaitinha cujo som ecoava pelo bairro inteiro fazendo a trilha sonora da infãncia de centenas e crianças moradoras dalí, mas a mim particularmente, dando uma direção na minha vida, visto que no dia seguinte pedí a meu pai que em lugar de brinquedo, gostaria de ganhar uma "gaita de bôca', no Natal que se aproximava.

"Seu" Constancio, como quem advinhava que alí estava sendo dada uma guinada na vida de um dos seus dez filhos, entendeu que teria particpação naquele sonho e no dia 25 de dezembro daquele ano um deles não ganhou brinquedo, ganhou uma vocação que se transformaria em Carreira!

No dia de natal ganhei minha gaita pela manhã, soprei,soprei,até ficar meio tonto,pesquizei, experimentei e no final do dia, para espanto de meu pai, tocava a rancheira "Porteira Velha" do sanfoneiro Pedro Raimundo e o tango

"Adiós, Pampa Mia"que tocavam sempre no rádio e ficarm gravadas na minha memória musical; Daí pra executa-las na gaita, foi só uma questão de treinar e dar vazão á musicalidade que alguem lá em cima já tinha separado pra mim..,

Aecio Flávio
Enviado por Aecio Flávio em 27/12/2006
Reeditado em 23/10/2007
Código do texto: T329290