Os poetas periféricos do Letraviva

Zezinho França

Esta espécie já foi chamada de geração mimeógrafo, quando havia mimeógrafo. Eles também foram chamados de poetas marginais, quando a palavra marginal não assustava tanto; foram também os poetas malditos, sempre benditos por quem aspirava um mundo melhor. Mas as palavras e os nomes foram levados pelo vento e os poetas, cuja ferramenta é a palavra, ainda continuam enraizados em todos chãos. O importante é que sejam chamados simplesmente de poetas. Esses de quem falamos, substituíram o mimeógrafo pelo computador, continuam marginalizados pela grande mídia e talvez ainda sejam um pouco malditos. Vivem na periferia cultural e não têm nenhuma inveja daqueles que estão na crista da onda. Fazem poesia pelo prazer de fazer. Não importam as escolas, os estilos e nem sequer se a poesia é em prosa ou em verso. A poesia para esta casta é um estado de mente, um estado de espírito, um modo de vida. É também uma forma de falar de coisas óbvias da maneira mais complicada. Zezinho França, Castelo Hanssen, Isabel, Borazanian, Genilson Gomes, Ângelo Macedo, Oswaldo Alves, Wender Cardoso e tantos outros poetas do Grupo Literário "Vivem na periferia cultural e não têm nenhuma inveja daqueles que estão na crista da onda. Fazem poesia pelo prazer de fazer." Esses poetas morrem cedo, ou até tarde demais. Uns de cirrose hepática, com tanta cerveja e cachaça –são como néctar para os deuses ou o orvalho para as flores- morrem de câncer de pulmão com tanta fumaça respirada, e nenhuma campanha antitabagista pode atingi-los e alguns de doenças sexualmente transmissíveis. Afinal, o sexo faz pensar, o amor faz sofrer, e sem isso não se faz poesia. Alguns outros de anemia, pois a timidez de alguns desses poetas os faz solitários ao ponto só poderem fazer amor consigo mesmos. Afinal, a poesia também é uma forma de masturbação. Mas ninguém deve se assustar com o perfil desta gente. Afinal os grandes poetas, os monstros sagrados da literatura e das artes também viveram e morreram assim, faziam parte da mesma tribo. A tuberculose causada pela boemia e beberança foi companheira de vida e de morte de vários deles, como Mozart, Castro Alves, Fagundes Varella, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Gregório de Matos, Lord Byron, Noel Rosa, Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos, Chopin e tantos outros. Assim, não é nenhuma novidade o modo de vida e de morte destes românticos sonhadores das letras. Mas não pensem que este modo de viver é credenciamento para ser poeta. Existem aqueles quadradinhos, com gravata e família, sem vícios nem exageros, que chegam em casa cedo, lavam o carro aos sábados e almoçam com a sogra aos domingos. E nem por isso são menos poetas. Na verdade, a poesia não escolhe cor, nem raça e nem estilo de vida. A poesia é simplesmente poesia.

Zezinho França
Enviado por Zezinho França em 06/11/2011
Reeditado em 08/11/2011
Código do texto: T3320882