QUEREM ACABAR COM PAPAI NOEL

Mais um Natal se aproxima. A cidade, o comércio, os grandes shoppings entram em ritmo natalino com antecedência espantosa. Nem bem se festejou o “Dia da Criança” e os murmúrios natalinos ecoam soltos no ar. PC está alvoroçado. Não consegue entender se é por amizade ao bom velhinho ou se é pelo perigo de esquecê-lo, que o Natal chega tão cedo.

PC é um garoto extrovertido e confessou à vovó,em sigilo, seu desejo de acabar com o Natal. Ela não entendeu bem e o neto explicou que não acabaria com a data, mas sim com o estilo do Papai Noel. Ela desconfia que o problema seja a cor. Ainda mais agora, com a conquista do título de Campeão do Mundo pelo Internacional, PC se sente afogado num mar vermelho. Não é nada disso, não. Imagina, com esse calorão é desumano exigir que alguém ande com roupas de inverno, explica o menino.

Dona Zica atarefada com os preparativos para a festa natalina, não tem tempo para conversar com o neto, que parece uma vitrola, falando sem parar. PC falava e vovó não escutava, foi ficando zonza, desligando. Respondia com monossílabos.

O garoto imaginava-se o salvador do Papai Noel. Queria trocar idéias com Dona Zica. Descrevia seus atos, pedia opinião. Vovó com a cabeça nas massas, ia respondendo: - ahã, ahã. E o menino perguntando, falando sobre uma campanha, solicitando apoio e a vovó no ahã-hã, pois é, sim. Sim!

Com um sorriso de satisfação, o garoto se refugiou em seu quarto e depois de muito tempo, passou feito um furacão pela cozinha, enfiando os dedos nas massas sobre a mesa, gritando que a vovó era dez!

Dona Zica continuou seu trabalho. Nem se deu conta do telefone chamando. Voltou a real. E o telefone tlim-tlim-tlim.Deixa tocar esta porcaria. Agora não posso parar, pensou. Agora é a campainha da casa. Plim-plim-plim. Ela grita, anunciando que já vai. Desliga o forno, sai secando as mãos no avental, abrindo a porta, se desculpando. A sua frente estava um policial. Seu neto foi pego liderando o protesto “Querem matar Papai Noel de Calor,” foi logo dizendo. Segundo confessou, a senhora é a mentora intelectual deste ato infracional. Sem entender, ela ouviu-o dizer que o elemento reuniu quase cem colegas às portas do shopping, colhendo assinaturas das crianças que entravam ou deixavam o local. Filhos discutiam com pais, acusavam lojistas, defendiam o bom Noel que sofre com o calor.

Nesse momento, com um imenso sorriso PC se aproxima, olha para a avó e diz:

- Vovó, a senhora é dez! Deu certo!

- Minha Nossa Senhora! Resmungou vovó.

Maria Rita
Enviado por Maria Rita em 06/01/2007
Código do texto: T337915