Isto aconteceu de fato (Parte 1)

Uma sugestão da escritora Leda Coletti movimenta o Grupo de Amigas Escritoras neste final do ano. Leda sugeriu para que; o grupo tirasse dias livres para escrever mensagens natalinas, de alegria, amor e paz para analfabetos, ou, para aquelas pessoas que não mais podem escrever com problemas de visão, nas mãos, ou, qualquer outro caso. O nome do grupo muito interessante:Amantes da Literatura!

Início de tarde o calor vibra o asfalto na retina dos meus olhos. Em plena Praça do Terminal Central de Integração uma tenda armada avisa que algo vai acontecer por ali! A multidão desacelera os passos, curiosa! Cartazes espalham a notícia da escrita voluntária. Algumas pessoas formam fila. Analfabetos não conseguem ler as palavras coloridas dos cartazes, mas entram na fila.

Atendo um senhor da melhor idade, ele me conta que faz 52 anos de casado com a mesma mulher. Dou uma sonora gargalhada com a brincadeira e escrevo a seu pedido um cartão de amor para a sua esposa. Ele segura o cartão com um sorriso no rosto bonachão.

“Moça não aproveitando da sua pessoa eu gostaria que a senhora escrevesse outro cartão para a minha filha que mora em Brasília e que não vejo há tanto tempo.”

E, a fila vai andando... Uma mulher senta e posiciona o seu braço direito em minha direção.

“Tai a senhora pode tirar a pressão, viu!”

Explico que estamos escrevendo cartão natalino e não aferindo a pressão.

“Nome difícil este. Bão! Intão, rabisque um biete pro meu marido, escreva aí: “Romicleide estou cansada de isperá todo dia você pra jantá e vê você chegá bêbado qui nem gambá. Tô cansada. Pare de bebe, si não vou imbora.””

O cartão-com o aviso foi escrito e a senhora levantou e foi embora.

Sentada ao meu lado a Lúcia cortava figuras natalinas e no tempo disponível entre uma escrita e outra um cartão era feito.

Os moradores de rua movimentavam ao nosso lado pedindo coisas. E, como sabem pedir!

“Dona escreve um cartão pro meu pai. Diga que estou com saudades e que não posso voltar pra casa, por enquanto. Um dia eu volto.”

Nisto, a amiga Rutinha chega para ajudar. Tira da sacola uma vasilha contendo suco de pêssego e começa a nos servir. A bebida gelada chega em boa hora. De repente, um morador de rua, se posta ao meu lado e pergunta com cara de pedição:

“Dona dá um pouquinho desta batida pra mim.”

Explico para ele que é suco, e, ele saí resmungando nervoso.

“Suco dá dor de barriga!”